9 - Caos (POV FELIX)

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Depois que recebi a ligação de Victoria, não parava de me perguntar se o grupo lá fora conseguiria voltar. Se não voltassem com o carro, meu plano de salvá-la iria de água abaixo.

Minha paciência se esgotava na medida em que as horas se passavam. Parecia que eu estava parado no tempo, tudo aquilo porque a minha única esperança dependia dos babacas que saíram para o mercado. Se Victoria tivesse me ligado mais cedo, eu já estaria bem longe daqui.

Minha preocupação mudou quando todos, ou melhor, quase todos chegaram em casa ao entardecer. Quando entrei na garagem, avistei Lucy vestida com o moletom o qual eu estava procurando. Fiquei aliviado pelos dois e o resto do pessoal estarem bem — mesmo não confiando em nenhum deles. Afinal, meu plano dependia de seu retorno.

Mesmo com minha provocação, Lucy sequer reagiu como reagiria de costume. Estava pálida e calada, depois chorou e eu só entendi o motivo quando percebi a estranha ausência de Charlie.

Enquanto Malorie discutia com Douglas, ela disse algo como: "Ele morreu para nos salvar". Ninguém explicou o que aconteceu, como se precisasse, diante daquelas expressões infelizes. Malorie já tinha deixado bem claro, mesmo que implicitamente, que Charlie havia morrido. Como e por quê, não sabíamos. Apenas os que foram ao mercado sabiam o que aconteceu.

Sendo bem sincero, nunca tinha visto Lucy daquela forma, tão deprimida e cabisbaixa. Ela não era assim, pelo visto eu estava bastante equivocado. Ela mal se esforçou para me dar um sermão ou me ameaçar de morte, foi até bizarro, mas achei melhor não reclamar para ela não inventar de pegar no meu pé.

Quanto aos alimentos trazidos do mercado, Olympia não ajudou em quase nada, Lucy havia sumido ao se soltar do meu abraço e sair da garagem e Cheryl estava histérica na sala de estar. Apenas os homens da casa — No caso, Tom, Douglas e eu — desocupamos o carro e levamos os mantimentos para a cozinha. Por algum milagre, Malorie nos ajudou com as "compras", apesar de suas condições. Aproveitei esse momento de distração para pegar a chave do carro sem que ninguém percebesse.

Todos estavam de cara virada, mal conversavam entre si e não pareciam nem um pouco animados para dizer o que aconteceu lá fora. Minutos depois, quando terminamos de arrumar as coisas, pensei em bater um papo com Lucy, com certeza ela devia saber de algo, de como Charlie morreu. Só me restava encontrá-la.

Meu plano de salvar Victoria estava organizado na minha cabeça por etapas. Primeiro, eu iria até Lucy e recuperar as setes balas da arma e as drogas que ficaram no bolso do meu moletom que estava com ela. Depois disso, eu fugiria dali rapidamente com o carro sem que ninguém percebesse e salvaria minha namorada.

Era óbvio que depois da morte de Charlie não me permitiriam ir salvá-la, pelo "bem do grupo". Só que eu pouco me importava com as normas que Tom e Douglas implantavam naquela casa, eu nunca deixaria Victoria morrer à minha espera. Fiz uma promessa e não estava disposto a quebrá-la.

Comecei a procurar Lucy pela casa. No meio da procura, avistei Douglas e Malorie indo para o bar estrear as garrafas que pegaram do mercado, embora não fosse um momento de comemoração diante da morte de Charlie. Não demorou muito tempo para eu encontrar Lucy já marcando território no quarto dos fundos, onde houve aquele nosso arranca-rabo do dia anterior. Lucy estava deitada na cama e se levantou rapidamente ao ouvir o rangido da porta que eu abria.

― O que você quer, Felix?

― Nada de mais. Charlie bateu as botas, tipo, morreu mesmo? — perguntei puxando assunto, mesmo sabendo a resposta.

― Sim.

― Como aconteceu?

― É sério que você quer saber como? Não acha que está sendo curioso demais?

𝗕𝗜𝗥𝗗 𝗕𝗢𝗫, a história não registradaOnde histórias criam vida. Descubra agora