4 - Balas (POV LUCY)

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A arma disparou. Felix, assim como eu, tomou um leve susto ao ouvir o disparo.

"Eu atirei. Eu finalmente apertei o gatilho e o matei" ― era o que eu pensava que tinha feito, mas não foi bem assim.

Quando pensei estar tão lúcida como nunca antes, me dei conta de que na verdade estava me deixando levar no calor do momento pela minha certeza, ou pela falta dela.

― Uau. Me equivoquei quanto a você, Lucy. ― Felix respirou fundo, parecendo aliviado ― E não é que você teria me matado mesmo caso sua arma estivesse carregada? ― em seguida sorriu, soltando uma risada forçada.

E foi ali, prensada entre uma mesa e um canalha e segurando um revólver descarregado, que eu me toquei: Como pude esquecer de recarregar a droga da minha arma!???

Foi perda de tempo toda aquela cena. Se ao invés de Felix, fosse um monstro saindo do banheiro, eu já estaria morta por levar comigo uma arma inútil. E mesmo se ela estivesse carregada, eu teria acabado de matar um dos sobreviventes e provavelmente entraria em sérios problemas com os demais da casa.

"Como iria explicar aos outros que matei um de nós? No que raios eu estava pensando quando apertei o gatilho?" ― perguntava comigo mesma, em pensamentos.

― Está... sem balas? Como? Eu poderia jurar que-

Felix me interrompeu.

― Humpf, como eu imaginei. Você realmente não sabe manusear nem a mais simples das armas. Roubou mesmo de um policial de verdade. Ah, que patético.

Suas palavras me machucaram no fundo da alma, mas não permiti que Felix notasse. Me senti um pouco estúpida e não estava com paciência ou vontade de discutir com alguém como ele para me proteger.

Eu sabia me proteger sozinha, poderia muito bem fazer isso, mas continuar com aquele show no quarto já estava fora dos meus planos. Eu só queria sossego, pelo menos um pouco.

Não só o cansaço psicológico tomava conta de mim, mas o físico também. Apesar disso, eu ainda não pretendia dormir tendo consciência do caos lá fora. Suportar toda aquela exaustão e aturar aquele cretino estavam me deixando cada vez mais irritada.

― Fale o que quiser, Felix. Eu não ligo. Você poderia ter morrido, por que não hesitou? ― questionei, já o afastando de perto de mim e mantendo uma certa distância. Aproveitei esse momento para guardar minha arma no cinto tático.

― Eu não me importo com isso, mas poderia te fazer a mesma pergunta. Por que você não hesitou?

― Acho que você não ia gostar da resposta ― desviei o olhar, olhando para o chão.

― Ah, nem precisa explicar, eu já entendi ― quando levantei a cabeça de novo, vi que sua expressão continuava séria e Felix balançava a cabeça levemente para os lados, parecendo decepcionado. ― O pessoal da casa surtaria se descobrisse que há uma ovelha negra por aqui, mas mesmo sabendo das consequências, você disparou. Estaria bem encrencada caso tivesse me matado.

― Não sou uma ovelha negra. Na verdade, eu sabia que não haviam balas nesta arma ― menti.

― E eu antes de vir para cá trabalhava como stripper. Ah, me poupe, Lucy! Nem perca seu tempo tentando mentir, está óbvio que você não sabia de nada!

O silêncio perdurou no quarto por um tempo. Eu não tinha argumentos para nada e mesmo se tivesse não os colocaria sobre a mesa, senão só estenderia aquela discussão. Felix permanecia parado na minha frente, como se estivesse esperando alguma resposta.

― Está ficando tarde ― falei, mudando de assunto e olhando para o meu relógio de pulso ― Bom, se você não quer sair do quarto ou contar o plano, tanto faz. Não vou mais te forçar a nada porque pra mim já deu.

𝗕𝗜𝗥𝗗 𝗕𝗢𝗫, a história não registradaOnde histórias criam vida. Descubra agora