13 - Luto (POV FELIX)

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Tudo ao meu redor parecia desmoronar quando precisei fazer o gesto mais difícil em toda minha vida: atirar em quem eu mais amava.

Lucy pela primeira vez foi compreensiva e gentil comigo, mas tinha razões suficientes para agir daquela forma porque notou o quão arrasado eu tinha ficado. Depois de um tempo, ela cobriu o cadáver de Victoria com um lençol enquanto eu organizava minhas coisas, tentando me dispersar.

O chá não importava mais, pois nada me acalmaria depois do que passei.

- Deveria ter chegado antes - eu pensava, me torturando mentalmente. Nada podia ser mudado porque cheguei tarde demais, era isso que me matava.

Quando entrei no meu quarto, nem fiz questão de acender a luz. Caminhei na penumbra até sentir minha cama, a antiga cama que eu não via há semanas. Com um aperto no peito, me deitei do lado que sempre costumava dormir, antes daquele apocalipse dar início. Fiquei deitado de lado por um tempo e, com um líquido ainda escorrendo pelo meu rosto, percebi que aquela noite seria longa. Eu não dormiria tão cedo se não acompanhado de pesadelos com Victoria.

Enquanto meu olhar fitava o teto do quarto, podia ouvir barulhos ao fundo. Lucy parecia arrumar alguma coisa, mas eu não me importava com mais nada. Encarei a mão que apertou o gatilho e, embora estivesse totalmente limpa, para mim parecia suja do sangue dela. Fechei meus olhos e respirei fundo. Não conseguia parar de me torturar e me culpar pelo que houve.

- Deveria ter chegado antes.

Eu senti um enjoo repentino e corri para o banheiro. Depois de vomitar em um balde, levantei o olhar para o espelho e tomei um susto com Lucy parada no batente da porta, atrás de mim. Me virei para ela.

- Você está bem? - perguntou-me, um pouco ofegante.

- O que você acha?! Eu tive que matar minha própria namorada. Está vendo um sorriso estampado na minha cara?

- Ah, desculpa - respondeu, desviando o olhar para o chão.

Me arrependi um pouco pela grosseria, mas dei as costas e joguei água no rosto. Abrindo a gaveta do armário para pegar uma toalha, me surpreendi com um objeto estranho ali.

- O que é isso? - perguntei, segurando aquilo e analisando. Tinha o formato de um termômetro ou coisa do tipo.

Olhei para Lucy, que parecia chocada pelas sobrancelhas arqueadas.

- Lucy, isso é o que eu estou pensando? É um teste de gravidez?

- Sim, provavelmente...

- E esses traços no visor, significam o quê? - perguntei, com receio de ouvir a resposta. - Você é mulher, deve saber o que significa isso.

Lucy tirou o teste da minha mão gentilmente e analisou. Ficou imóvel por um tempo, fitando-o. Durante o silêncio que pairou, me recordei da ligação que recebi de Victoria horas antes, quando ela disse que tinha algo para me contar. As coisas pareciam se interligar na minha mente.

Depois de um suspiro pesado, Lucy respondeu:

- Aqui tem dois traços, quer dizer que ela estava grávida. Sinto muito, Felix - ela me encarou com pesar, tocando meu ombro.

- Não, isso é impossível. Tem certeza disso?!

Nos encaramos, Lucy assentiu.

- Tenho.

Aquela informação me atingiu com uma estaca no peito. Eu comecei a ofegar, minha visão começando a ficar turva.

- Felix, eu sei que é difícil. Eu poderia ter mentido sobre isso para te poupar, mas te contei porque sei que você aguenta o tranco. Não foi culpa sua - disse ela, olhando-me nos olhos e segurando minha mão.

𝗕𝗜𝗥𝗗 𝗕𝗢𝗫, a história não registradaOnde histórias criam vida. Descubra agora