Capítulo 1

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Do Outro Lado da Tela


POV MIRANDA


— Cassidy, não me torture mais com esse assunto. Por favor.

Sigo para a sala e pego uma taça de vinho. O dia foi mais que estressante na Runway. Esse último ano tem sido um verdadeiro teste hercúleo.

— Mamãe, você precisa sair! Já faz um ano que você terminou com o Graham. Já está na hora de voltar pra pista novamente.

Suspiro enquanto encho a minha taça. Saio dos meus saltos e me sento em minha poltrona finalmente repousando os pés. Cassidy se senta no sofá e cruza os braços me encarando.

— Ainda não compreendi a sua súbita necessidade de me importunar com esse assunto. Qual é o seu real problema? — Questiono a minha filha intrometida.

— A senhora. — Ela acusa.

— Como posso ser um problema? Eu não estou fazendo absolutamente nada, Cassidy! — Me defendo.

— Exatamente, mamãe. A senhora não está fazendo nada. Está vivendo apenas do trabalho.

— E qual é o problema nisso? — Questiono.

— O problema dona Miranda, é que a senhora não está tendo vida social. Principalmente no que diz respeito a encontros.

— Cassidy, estamos nos repetindo. Eu já deixei clara a minha opinião sobre esse assunto. Graham foi um erro que não pretendo repetir. Você e sua irmã sabem exatamente o que aconteceu. Chega. Então, será que seria possível, por gentileza, você me deixar sossegada? É pedir demais ter um pouco de sossego?

Peço quase desesperadamente para que a minha filha não me perturbe mais com um assunto que não pretendo revisitar. Mesmo sabendo que para elas nunca existe um ponto final quando se trata da minha vida pessoal.

— Mamãe, está me dizendo que o Graham foi a sua última tentativa?

— Eu estou dizendo que estou completamente exausta. O dia foi muito exaustivo e essa conversa está me dando dor de cabeça. Na verdade piorando a que eu já estava sentindo quando saí da Runway. — Afirmo.

— Caroline e eu estamos partindo para a faculdade, mamãe.

— Eu desconfiei quando paguei o semestre das duas. — Afirmo irônica bebendo um pouco.

Ela revira os olhos pra mim.

— Não queremos que você fique sozinha, entende? — Ela afirma.

— Então é sobre isso? Sobre acharem que eu vou ficar "sozinha"? — Indago a minha filha.

— Claro que é. Você odeia socializar. O que dificulta muito. Nós nos preocupamos, mamãe. Não queremos que você continue sozinha nessa casa enorme. Sua vida é do trabalho pra casa e de casa pra o trabalho. — Ela afirma.

— Eu posso estar enganada, mas você não tinha uma mala pra terminar de aprontar? — Pergunto a ela tentando finalizar o assunto enfadonho.

— Você está me escutando? — Ela questiona.

— Honestamente? Estou escutando cada vez menos.

Afirmo e bebo um pouco do meu vinho. Me aconchego um pouco mais na minha poltrona caríssima e confortável.

— Mamãe, eu...

— Me-deixe-em-paz, Cassidy Priestly.

Falo num tom mais ameaçador e contido que eu consigo. Infelizmente a minha autoridade está perdendo o efeito a cada ano que passa com essas duas.

— E vou logo avisando, se você ou a sua irmã chegarem na minha porta com mais algum pretendente eu não abrirei nem a porta. — A ameaço.

Ela resmunga algo e sai a passos largos e pesados da sala rumo a escada. Suspiro aliviada com o fim da conversa.

Desde que as duas foram aceitas em suas faculdades, elas finalmente chegaram a conclusão de que indo trilhar os seus caminhos, eu ficaria sozinha. E tem sido uma das minhas maiores dores de cabeça. Não pelo fato de realmente ficar sozinha, pois jamais me incomodei com isso, mas pelo fato que desde elas terem tido essa epifania, têm se empenhado em me arranjar pretendentes. E isso está me irritando cada vez mais. Principalmente quando insultam a minha inteligência e falam sobre professores, instrutores ou qualquer conhecido com mais de 20 anos de forma maliciosa. Não tenho mais energia para lidar com relacionamentos. Não tenho mais paciência para recomeçar tudo de novo. Estou cansada emocionalmente. E claro que sentirei falta das duas dentro de casa, mas só de imaginar a presença de outra pessoa aqui comigo, me sugando a alma...Isso me causa irritabilidade imediata.


DOLDT

Duas semanas depois.


É sexta-feira a noite. A primeira sexta sem minhas filhas em casa. Há três dias as duas seguiram ansiosas para as suas faculdades. Cassidy seguiu para Harvard e Caroline para Brown. Estou muito orgulhosa das duas. Sempre foram disciplinadas no que se refere aos estudos e chegou o momento delas trilharem a carreira que escolheram. Se tornaram garotas notáveis. O pai também sentiria muito orgulho se ele ainda estivesse entre nós.

Entro em casa com mais um cansaço do dia. A escuridão e silencio me recebem de braços abertos. Nem mesmo a nossa cachorra vem me encontrar. Nossa inestimável e saudosa Patrícia morreu meses após a morte do pai das gêmeas. Foram golpes consecutivos para as minhas filhas naquele ano. Fecho a porta e abandono os meus saltos ainda no corredor da entrada, me dando alivio aos meus pés. O alivio que tanto precisei durante o dia. Sigo diretamente para a cozinha. Abro a geladeira e me sinto desencorajada em cozinhar. Acabo cedendo ao método trivial de pedir comida. Vou até a sala e pego a minha amada taça de vinho tinto. Encho uma taça com o conteúdo da minha melhor garrafa e me sento em minha poltrona. Experimento alguns goles enquanto escolho o restaurante no aplicativo. Uma notificação chega. Abandono a minha taça na mesinha do meu lado esquerdo quando vejo que a notificação é um e-mail para o meu endereço eletronico pessoal.

Sinto o meu corpo tremer  quando vejo o remetente e quase derrubo o meu celular.

A.Sachs.

— O quê?

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