O medo era um sentimento familiar a Percy, um sentimento que ele experimentava com frequência e intensidade nos últimos anos, um companheiro de batalha que estava sempre ao seu lado.
Percy não odiava sentir o medo em si, ele odiava a razão dele sentir medo. Odiava que por mais que eles tivessem bons argumentos, a lei era sempre priorizar a família biológica quando a adoção ainda não estava finalizada. E eles não poderiam finalizar.
Ele entendia a mãe biológica de Charles. Como ele entendia, mas não poderia deixar de odiá-la com a mesma intensidade, provavelmente mais até do que achava saudável. Tudo estava finalmente nos eixos e de repente estava ameaçando desabar. Ele não sabia o que fazer ou como fazer para resolver tudo, Sabrina disse que essas coisas levam um tempo, mas a espera o matava, só queria que tudo isso acabasse logo e os três pudessem ser uma família, dessa vez legalmente.
Mas ainda assim, ela queria Charles e o pedido não poderia ser negado tão rapidamente assim, tinha que ser analisado. Percy odiava essa palavra. Analisado. O que precisava ser analisado? Charles o chamava de pai. Charles chamava Annabeth de mãe e Sally de vovó. Charles era o filho deles, não daquela estranha que apareceu do nada exigindo algo que nunca fora dela para cuidar.
Não se importava de onde Charles tinha vindo, desde o momento em que nasceu, ele era seu filho e Percy amava-o mais que a vida, mais que tudo no mundo.
Porém o juiz ainda tinha que analisar o pedido e ninguém saber como seria dali para frente deixava suas mãos suadas e o coração acelerado. Em medo. Medo de perder seu filho, medo de como ele e Annabeth iriam lidar com mais uma perda, medo de aquele pensamento de que o destino os impedia era real e importa o quanto ele tentasse, eles nunca alcançariam isso.
Às vezes ele só queria desistir. Talvez fosse melhor, se algo muitas vezes desse errado, deveria ter um motivo. Talvez ele não merecesse paz. Talvez ele não merecesse ser pai, mas Annabeth sim. Ela merecia paz, merecia amor, ser mãe e ter todos seus sonhos realizados, a mulher passou tanto tempo no mais puro sofrimento, se recuperando da morte prematura de dois filhos, como pode o destino, ainda assim, impedi-la de ser feliz? Nenhum ser poderia ser tão cruel. E, se fosse, talvez desistir seria a melhor opção.
Mas como ele poderia desistir quando Charles era tudo para ele? Quando aquela criança de nove anos em três meses conquistou seu coração de uma forma que ele nunca conseguiria explicar, então mesmo que, no fundo de seu coração ele achasse que o certo seria desistir, para preservar o resto de sanidade que tinha, ele não conseguia.
Ele não conseguia desistir daquela criança. Ele sabia que eles eram família e ninguém iria separar sua família, não quando ela estava finalmente completa. Não quando finalmente eles estavam bem, felizes.
E não seria aquela mulher, clamando por um direito que não era mais dela a muito tempo que mudaria isso. As pessoas diziam que o sangue era forte, que significava tudo para as pessoas, mas Percy não acreditava nisso. Ele nunca teve um pai até Paul reivindicar esse lugar em sua vida, e Paul é seu pai, sangue ou não. Ele não conseguiria imaginar ninguém mais como seu pai, nem se essa pessoa fosse sua versão mais velha em carbono. Foi Paul que o levou para o hospital quando ele quebrou a perna, foi ele quem raspou o cabelo de Percy quando foi aceito na faculdade. Foi Paul que o ajudou a carregar o caixão de Bernardo quando as pernas de Percy não conseguiam o sustentar em pé. Foi Paul que levou Annabeth Chase ao altar e ela virou Annabeth Jackson. Seu pai era Paul, sangue ou não.
Charles era filho de Percy e Annabeth e nada, muito menos algo tão banal quanto sangue, mudaria isso.
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✓ HAVE YOU EVER SEEN THE RAIN?, PERCY JACKSON
FanfictionPercy Jackson conheceu o amor de sua vida. Percy Jackson casou com o amor de sua vida. Mas a história não acaba no "e viveram felizes para sempre" como nos contos de fadas. Ainda mais quando você é o responsável pela sua esposa estar internada no h...