ANTES

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Percy não conseguia olhar para o ursinho de pelúcia verde que estava no berço que seria de Bernardo

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Percy não conseguia olhar para o ursinho de pelúcia verde que estava no berço que seria de Bernardo. Meses tinham se passado desde o falecimento de seu filho e ele não desmontou o quarto.

Annabeth tinha levado o pior baque, ele sabia. Seu corpo foi afetado, o procedimento para a retirada do bebê morto foi extremamente doloroso do início ao fim; seu emocional estava abalado, tinha passado meses planejando, esperando, amando uma criança. Para a mãe é sempre mais difícil, diziam amigos que os visitavam para prestar condolências.

Eles diziam isso ao ver que Annabeth não falava com ninguém, mas eles não sabiam tudo. Ela não saia da cama para nada, não se alimentava - Percy tinha que colocar caldo em um copo e força-la a ingerir -, não falava com ele nada além do obrigatório.

Para a mãe é sempre mais difícil, diziam.

Mas ainda assim, aquela dor aguda insuportável do lado esquerdo de seu peito doía como o inferno. Queimava e ao mesmo tempo era a mais congelante das dores, garras de ferro arranhavam e rasgavam tudo ao mesmo tempo que era pisoteado e esquartejado.

Ele sentia que nada nunca ficaria bem novamente, mas não podia desabar, porque a dor de sua esposa era maior e ele precisaria ser forte, estável por ela. E como ele tentou, deuses. Annabeth chorava todas as noites quando achava que ele tinha dormido e todas as manhãs quando Percy saia para trabalhar, ele escutava, não tinha como não escutar o choro desesperado e alto que ecoava por toda a casa.

Percy não sabia o que fazer, então apenas ficava ali, não a abraçava, já que isso parecia a incomodar; ele fazia sopa para ela, molhava um pano e dava-lhe banho quando chegava do trabalho para que ela não ficasse grudenta com o suor. Ele tentava respeitar sua dor, mas não sabia o que mais fazer para voltar a ver o mínimo de vida nos olhos cinzas de sua esposa.

Então fez o que sempre fazia quando sentia-se incapaz, sem escolha: Viajou até a casa de sua mãe.

Bateu na porta, as mãos tremendo. Tinha pedido a Grover para ficar em sua casa com Annabeth, em caso de... Emergência. Fazia algumas semanas que não falava com sua mãe, embora ela sempre ligasse, ele não tinha forças no fim do dia para conversar, entre cuidar de Annabeth, tentar desmontar o quarto de Bernardo, a casa e seu trabalho ele estava exausto todas as noites. E todas as manhãs também.

Sua mãe atendeu a porta e o olhou de cima a baixo e com as lágrimas imediatamente tomando seus olhos ao ver o quanto Percy parecia quebrado. Sally abriu os braços e o homem caiu no colo de sua mãe, sentindo algo que a muito tempo não sentia.

Carinho. Acolhimento. Amor.

E então veio a culpa novamente. Ele não deveria estar ali, deveria estar com sua esposa, com a mãe que tinha perdido seu filho tão de repente. Seu sofrimento não era nada, mas ele não conseguia se desvencilhar de Sally, não quando ela afagava sua costa e sussurrava palavras carinhosas a ele como fazia quando Percy era uma criança.

Ela o arrastou para dentro e o deitou no sofá, com a cabeça em seu colo, passando a mão entre os fios negros que eram tão semelhantes ao dela, logo ele dormiu tão intensamente que não viu Estelle chegar da escola ou Paul falar com Sally preocupado com seu filho de coração; também não escutou quando Grover ligou para perguntar se ele estava bem, sua mãe atendendo e tranquilizando o melhor amigo.

Ele dormiu, sem sonhos; a dor anestesiada por algumas horas o suficiente para que ele pudesse respirar.

Quando acordou, chorou novamente; Como ele se atrevia a descansar, a ter uma pausa de tudo quando o amor de sua vida não poderia fazer o mesmo? Levou horas para Sally acalmá-lo, o coração em pedaços pelo filho querido.

Sally não via mais o olhar brilhante que Percy tinha desde que abriu os olhos pela primeira vez, o sorriso de lado presente em seus lábios que a irritava porque era sinônimo de que ele tinha feito alguma travessura, mesmo já adulto. Ela não via mais o espírito de seu filho, sua vivacidade; mas como poderia desejar algo diferente quando ela sabia que provavelmente estaria muito pior se ela o perdesse ou a Estelle? Ela entendia muito bem a dor dele, a dor de Annabeth e ao mesmo tempo não. Temia por seus filhos todos os dias, incontáveis coisas poderiam acontecer, acidentes, assaltos, alguma doença incurável que o azar cedia... Incontáveis formas de Sally perder sua razão de estar viva e o seu maior pesadelo se realizar e Annabeth e Percy tinham passado pelo seu pior pesadelo.

Vendo seu bem mais precioso quebrado, ela sabia que, se pudesse, trocaria de lugar com aquela criança que não teve a oportunidade de viver antes de virar estrela, daria sua vida por ela ou qualquer outra coisa se fizesse seu filho feliz.

Mas, enquanto não podia fazer tal barganha, restou-lhe apenas consolar Percy e, mais tarde naquela noite, levou-o para casa e deitou-o no sofá enquanto ia ver sua nora, que estava tão quebrada quanto seu filho.

Não soube o que falar, então deitou-se com ela e a abraçou, o carinho maternal morno acordando Annabeth, fazendo-a como uma criança que nunca fora amada antes, que nunca teve o carinho materno. E então foi sua vez de chorar lágrimas silenciosas.

No dia seguinte Percy acordou e entrou em seu quarto, vendo as duas mulheres dormindo e pensou o quanto era sortudo por ter sua mãe; por ter seu amor. Então ele foi até o quarto de Bernardo e limpou-o, tirando toda a poeira acumulada e guardou as coisas expostas, tentando ao máximo não cair novamente; tudo que queria era sair correndo, mas ficou ali, firme. Ainda não estava pronto para desmontar os móveis mas quando saiu do quarto, pegou o urso de pelúcia e levou-o consigo até a cama ao lado de Annabeth, abraçando sua esposa, colocando o objeto fofo entre eles.

Percy fechou os olhos e pensou que, apenas talvez, as coisas ficariam melhores.

✓ HAVE YOU EVER SEEN THE RAIN?, PERCY JACKSONOnde histórias criam vida. Descubra agora