ANTES

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Percy às vezes se perguntava se o amor era fácil assim mesmo ou se ele era apenas algum filho da mãe sortudo

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Percy às vezes se perguntava se o amor era fácil assim mesmo ou se ele era apenas algum filho da mãe sortudo. Ele gostava de filmes, livros, músicas românticas e em quase todas as histórias de amor, os casais enfrentam dificuldades, coisas que os faziam duvidar de seu amor e, no fim, talvez prevalecer sobre as adversidades.

Mas com ele o amor é simples, descobriu que amava Annabeth em uma quinta-feira de madrugada, no primeiro ano de namoro, quando acordou na cama e estranhou ela não estar ao seu lado, quando se levantou e foi procurá-la, a encontrou sentada no chão da sala com o corpo apoiado na mesinha de centro, com livros por todo o lado, junto com cadernos da faculdade, Percy suspirou e ficou preocupado. Annabeth tinha reprovado em uma matéria e só tinha a prova de recuperação para não ter que fazê-la novamente, ela estava preocupada e nervosa, não conseguia estudar e nem se concentrar, seu TDAH nada ajudava no momento, tinham sido dias estressantes para ela e Percy não sabia como ajudar, ele não era um modelo de estudante e, honestamente, confiava mais em sua memória das aulas e talento natural que, de fato, nas noites acordado estudando.

Sua respiração estava pesada com a exaustão, bolsas escuras debaixo dos olhos fechados e o cabelo pálido prendido firme em um coque na cabeça que ele sabia que doeria amanhã. Foi até ela e pegou no colo, lentamente a levando para a cama dele e a aconchegando nas cobertas macias que Sally costurava. Ele tirou as sandálias dela e soltou seu cabelo, indo até o banheiro e pegando a escova para penteá-los; Annabeth tendia a arrancar alguns fios, sem paciência para desembaraçá-los e Percy sabia que doía.

Ela dormia de lado, o que facilitou para Percy pentear mecha por mecha, delicadamente, do cabelo de Annabeth e ficou observando suas feições. Não conseguia mensurar sua preocupação com a garota, fazia alguns meses que ela não tomava a medicação do TDAH, que era mais intenso nela que nele, e tinha receio que isso tivesse a afetando negativamente; mesmo sendo sua escolha, argumentando que queria aprender a lidar com a vida sem eles.

O psiquiatra falou que o rendimento cairia um pouco, que era natural, já que fazia alguns anos que ela não ficava sem, mas Annabeth era orgulhosa e confiante, não achou que isso aconteceria com ela. Bom, aconteceu, mas ela estava reagindo muito mal. Annabeth foi mal em uma matéria e passou com honras em nove, mas tudo que ela via era aquela uma em que sua nota não foi o suficiente, em que, em sua cabeça, ela não foi o suficiente. Penteando seu cabelo ele percebeu o quanto ele se machucava ao vê-la sofrendo, o quanto queria que ela fosse a pessoa mais feliz de todo o universo. O quanto ele queria fazê-la feliz.

Descobriu que a amava.

Percy odiava suas lágrimas, odiava quando ela chorava de soluçar, quando ela se entristecia com um filme, odiava como ela ficava quando alguém perguntava "como anda a dieta?" ou dizia "você é uma gordinha linda". Mas ele a amava, amava seu sorriso e seu riso, seus olhos, seu corpo, amava seu jeito de andar, sua forma de falar cadenciadamente, amava quando ela argumentava quando queria provar um ponto, quando ela xingava alguém que tinha sido desrespeitoso sem hesitar. Amava que mesmo sendo a pessoa mais forte e orgulhosa que ele conhecia, ela era empática com as pessoas ao seu redor.

Cinco anos atrás, nos votos de seu casamento, Percy contou a história de quando percebeu que a amava e ele viu o rosto confuso de alguns deles que não entenderam que, tão importante quanto nos dias difíceis, ele a amava na palidez dos dias ordinários; nas demonstrações singelas de carinho do dia a dia.

Um minuto para descobrirem se esse amor tinha dado frutos.

Annabeth desconfiou quando sua menstruação, que nunca demorava, atrasou dois dias. Eles não planejaram nada, mas depois de anos de relacionamento, de vez em quando a camisinha estava longe demais, ou o vinho tinha os deixado quente demais e a memória falhava. Quando sua menstruação atrasou uma semana, ela pensou que, apenas talvez, um desses desleixos tivesse deixado uma consequência. Uma consequência que ela esperava que tivesse os olhos de Percy.

Quando o último minuto passou, nenhum dos dois teve forças para se levantar e buscar no banheiro o frágil palitinho que mudaria suas vidas completamente. O coração de Percy estava acelerado, quase saindo pela boca e sua visão estava enevoada. Não sabia se seria um bom pai, não tinha nenhum modelo a seguir.

Não, isso não estava certo. Mesmo não tendo seu sobrenome ou seu sangue, Paul se tornou seu pai ao longo desses anos. Se Percy fosse uma fração do que ele era, se sairia bem.

E ele teria Annabeth ali, que também não tinha uma boa referência materna, mas que, definitivamente, seria a melhor mãe do mundo.

Foi com isso em sua mente que ele reuniu forças e se levantou, ganhando um olhar assustado de sua esposa, mas agradecido. Andou lentamente e abriu a porta do banheiro e olhou para o palito.

Então Percy começou a chorar.

Com as lágrimas escorrendo grossas, ele se virou e viu o rosto da mulher de sua vida cheio de expectativa, gaguejou antes de finalmente dizer:

- Vamos ter um bebê.

✓ HAVE YOU EVER SEEN THE RAIN?, PERCY JACKSONOnde histórias criam vida. Descubra agora