Fazia três dias que Percy não tinha notícias de Charles, seu corpo inundado pela desesperança e inabilidade.
Poderia ter ligado para Hannah e se informado sobre a situação, sua mente criticava, mas ele mal conseguia estender a mão e pegar o celular. Ficava apenas ali, sentado na poltrona do hospital olhando sua esposa em coma, escutando distraidamente os bipes sequenciais da máquina que estava ligada a seu coração.
Finalmente tinha aceitado que diante de tudo eu estava em sua frente ele era completamente inútil. Ele não podia fazer nada. Se tudo que ele tocava apodrecia, como poderia arriscar ainda mais as pessoas que ele amava? Em sua mente ele imaginava tudo que poderia fazer nos mínimos detalhes, tudo que ele deveria fazer.
Ele se levantaria, beijaria a testa de sua esposa ternamente, ligaria para sua mãe e pediria para ela ficar no hospital, então ele iria até o escritório de Sabrina e eles marcariam uma reunião com Hannah naquele mesmo dia, com urgência. Eles conversariam e ajeitariam todos os detalhes, além do próprio estado, nada mais impedia que a adoção fosse completa, não é?
Mas então Hannah perguntaria de Annabeth e ele não poderia mentir. Era mesmo o melhor local para uma criança, uma casa onde a mãe estava em coma? Onde o pai tinha que passar cada segundo do dia no hospital fazendo-a companhia? Onde toda sua rotina estaria no lixo, afinal, nenhum deles saberia como seria o amanhã? Amanhã Charles poderia estar visitando a mãe enquanto ela fazia fisioterapia ou presenciando seu enterro.
Esse era um ambiente que entregariam uma criança de bom grado?
E assim, seu planejamento caiu, como se Percy estivesse esperando apenas uma razão para continuar imobilizado em sua própria autopiedade e desgraça. ele mal precisava de motivos de qualquer forma.
Olhou para o teto. Hospitais eram tão brancos, as paredes eram brancas, as roupas de cama, o único ponto colorido eram as roupas de cama que tinha uma cor verde escura que se assemelhava as próprias íris de Percy, por mais esquisito que parecesse. A maca onde Annabeth estava era alta e ficava um pouco acima de sua cintura, ela respirava suavemente, quase quieta demais se ele não soubesse que era assim mesmo que ela dormia, profundamente e silenciosamente, sempre foi assim; seus cílios continuavam longos e beijava suas bochechas fazendo-a parecer uma boneca. A mais perfeita boneca que ele já viu, em cada mínimo detalhe, as sardas em seus ombros que ele amava beijar e acariciar só porque sabia que ela se arrepiava; Percy amava quando eles decoravam a árvore de natal também, eles tinham uma que quase alcançava o teto e sempre esquecia de comprar escadas então ela só ficava enfeitada até onde Percy alcançava, todo ano diziam que iam comprar uma menor e todo ano eles esqueceram disso. Era completamente apaixonado pelos momentos em que eles ficavam sozinhos assistindo algum filme aleatório, ela sempre era a primeira a dormir e ele podia observá-la, quase como fazia agora. A única diferença era que agora Percy não sabia se ela acordaria.
A muito tempo sua esperança vinha escapando pouco a pouco e sabia que agora, quando mais precisava, ela estava falhando como nunca. Ele não só não sabia o que fazer, ele sabia que nada do que ele faria daria certo, nunca deu, afinal.
Tentar, ousar ter esperança tinha se provado perda de tempo. E doía, e como doía.
Percy não aguentava mais dor, tão soterrado de miséria quanto seu coração o dizia estar.
Cada músculo do seu corpo doía como o inferno, a dor do coração se tornando física, já que se lamentar não parecia mais ser o suficiente. Às vezes ele tossia e se perguntava se estava com gripe, mas logo dava de ombros, já estava em um hospital mesmo, que lugar melhor para passar mal?
Sentia-se um desistente, mas não era capaz de se levantar e voltar a lutar contra porra do destino que o fez sua vida tão miserável, talvez fosse essa a moral de sua história, de que quando tudo ia mal era melhor desistir, afinal do que adiantava tentar se forças mais poderosas que você estariam sempre contra sua paz? Do que adiantava fazer qualquer coisa nessa vida se todo mundo iria padecer. Nunca mais veriam uns aos outros, porque começar agora a fazer amigos? Quando a morte chegava, nada poderia impedir, por mais que isso soasse aterrorizador, era assim que a vida era. A vida era uma sequência de erros e destruição ao bel prazer de um destruidor, de alguém tão profundamente infeliz que estava com medo só de imaginar quem é.
A vida era destruição, era caos. E ele não queria mais estar no mundo dos vivos.
O pensamento o assustou assim que veio.
Mas não o assustou mais que o bipe único do monitor cardíaco de Annabeth.
Seu corpo agiu antes que sua mente pudesse entender o significado daquilo. Ele correu para fora do quarto e gritou por médicos e enfermeiras, qualquer um que passava, até uma equipe multiprofissional vir e entrar no quarto. Lágrimas grossas e rápidas corriam por suas bochechas e ele tentou entrar, mas uma enfermeira o empurrou para trás e fechou a porta.
Ele não sabia o que estava acontecendo, mas sabia que era sua culpa, sua culpa, sua culpa.
Suas pernas não aguentaram e ele caiu no chão, seu corpo inteiro tremendo e seu choro se intensificou e Percy começou a soluçar.
Ela não podia morrer.
Não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não.
Ela não podia morrer.
Seus pensamentos ficaram uma bagunça e sua respiração ficou rápida e superficial, não sabia o que estava acontecendo consigo, mas não conseguia parar de pensar que teria que enterrar Annabeth.
Ela seria enterrada do lado de Bernardo.
Não era para isso acontecer tão cedo.
Tão cedo.
Por sua culpa.
Ele não ia aguentar viver com a culpa. Ele não ia. Se Annabeth morresse, ele morreria junto?
Queria parar de pensar nisso, queria ter esperanças mas não conseguia, sua mente colando imagens do corpo morto de sua esposa em uma maca de alumínio fria, o legista fazendo autópsia, depois a cena dele no enterro enquanto jogava a primeira pá de terra no caixão, uma cena dele voltando para a casa em que um dia ele compartilhou com a família mas que não tinha ninguém agora, apenas um rastro de quatro ursinhos ensanguentados, porque era assim que sua vida era, um rastro de pessoas mortas.
Então as pessoas começaram a sair do quarto e um médico parou em frente a Percy, mas ele estava tão absorto nas imagens que via que mal escutou quando ele disse que Annabeth estava viva. Percy desmaiou.
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✓ HAVE YOU EVER SEEN THE RAIN?, PERCY JACKSON
FanfictionPercy Jackson conheceu o amor de sua vida. Percy Jackson casou com o amor de sua vida. Mas a história não acaba no "e viveram felizes para sempre" como nos contos de fadas. Ainda mais quando você é o responsável pela sua esposa estar internada no h...