Era hoje.
Parados em frente ao orfanato, Percy prendia sua respiração. Ainda não tinha caído a ficha que eles poderiam conhecer o futuro filho deles hoje.
Ao longo do mês esperando, ele e Annabeth tinham entrado em contato com outros pais que adotaram, para tirar dúvidas de todo o processo mais emocional de adotar uma criança; como eles deveriam agir e essas questões que mesmo que o casal amigo tivesse respondido, iria acabar sendo algo que eles iriam descobrir sozinhos. A única coisa que poderia ser considerada útil, foi quando Jason disse para eles dois não colocarem muita expectativas querer sentir algo ao olhar para as crianças. Amor levava tempo para ser construído.
Percy discordava. Amor não demorava, o que demorava era o conhecimento a respeito do sentimento e Percy sabia muito bem disso por experiência própria. Ele sabia, em seu coração, que reconheceria seu filho no momento em que colocasse os olhos na criança. Ele acreditava no destino, decidiu a muito tempo atrás. O mesmo destino que o fez pai traria seu filho para ele. Hoje, dentre todos os dias. Ele sabia que seria hoje.
Independentemente de quem essa criança fosse, de quem ela seria ou de como ela chegou nesse mundo, ele já a amava. Porque assim é amar um filho, dizia sua mãe. Você ama incondicionalmente sem conhecer e quando conhece você se transforma em algo além por causa daquela pessoa, o amor se torna além do incondicional, além do infinito, era isso que Sally sempre o dizia. Ele tinha experimentado isso com Bernardo e Isabela, mas seu amor se tornou inútil.
Ele era um pai cheio de amor e naquela casa estava uma criança que tudo que precisava era justamente o que ele mais tinha para dar.
Então como o amor poderia ser algo construído com o tempo, se ele já sentia tudo isso por alguém que ele não conheceu? Por alguém que ele estava prestes a conhecer?
Era um sentimento esquisito, esse expectativa. Não tinha expectativas sobre quem a criança seria, como via muitos pais criarem. Alguns montaram toda a vida do filho antes mesmo dele nascer, que faculdade ele seguiria, quais seriam seus gostos, suas opiniões, como ele agiria em determinada situação, mas Percy não tinha nada disso em mente. Ele tinha expectativas, claro, mas não era sobre quem a criança seria no futuro e sim sobre como seria ser um pai agora, de uma criança viva.
Não se sentia bem quando pensava isso, parecia que ele estava diminuindo o que sentia por Bernardo e Isabela, parecia que estava dizendo que eles não eram o suficiente. Sentia-se um herege falando mal de uma religião. Mas não era isso, apesar do que sua mente dizia, ele achava que não era isso. Ele queria adotar, mas não porque não era pai o suficiente, mas só... Ele queria. Não sabia mais explicar os motivos de sua vontade; ele apenas queria e sabia que estava preparado para isso. Ele achava estar preparado.
Percy agarrou a mão esquerda de Annabeth com a sua e a apertou conforme eles entravam no lugar e conheciam as pessoas. E as crianças.
Annabeth segurava o choro enquanto brincava com as crianças no jardim, absorvendo a atenção da adulta que brincava com eles como as cuidadoras. Percy estava afastado, apesar de toda sua vontade, seu cérebro o bombardeava com acusações e inseguranças, então ele apenas olhava sua esposa e as crianças de longe.
Até sua garganta fechar completamente e ele dar alguns passos para trás e andar até perto do muro rodeado por moitas. Puxou o ar fundo, tentando recuperar a respiração normal e quase conseguiu se não tivesse pisado em algo.
O crack fez ele dar um pulinho vergonhoso de susto e olhar para baixo, vendo uma peça de lego desmantelada por sua causa. Antes que pudesse reagir, uma voz infantil chamou sua atenção.
- Você quebrou - afirmou. Entre duas moitas tinha um pequeno menino por volta dos oito anos escondido. Seu cabelo encaracolado estava todo bagunçado, assim como sua camiseta surrada do Batman que parecia ter a mesma idade que ele. O menino estava de braços cruzados e com o lábio inferior se pronunciando. Ele iria chorar. Percy se desesperou.
- Quebrou não, olha! - O adulto se agachou e pegou o brinquedo quebrado, tentando juntar os pedaços. Um pingo de esperança até brilhou nos olhos castanhos, mas logo foi embora quando viu que Percy não conseguia.
- Quebrou sim, - a voz ficou embargada, o choro engatado.
- Quebrou, mas eu sou muito bom com coisas quebradas, sabia? Eu vou consertar. - Diz Percy, com o coração acelerado e sem conseguir desviar o olhar daquele pequeno menino.
- Promete?
- Prometo.
E foi esse o primeiro passo que Percy deu para conquistar a confiança de seu filho, Charles.
VOCÊ ESTÁ LENDO
✓ HAVE YOU EVER SEEN THE RAIN?, PERCY JACKSON
FanfictionPercy Jackson conheceu o amor de sua vida. Percy Jackson casou com o amor de sua vida. Mas a história não acaba no "e viveram felizes para sempre" como nos contos de fadas. Ainda mais quando você é o responsável pela sua esposa estar internada no h...