Aquele seria um dia que nenhum dos dois jamais esqueceria.
Percy e Annabeth tinham tirado férias de um mês do trabalho para garantir que Charles se adaptasse bem a casa, a família e principalmente a eles dois. E tinha sido maravilhoso.
Tudo parecia completo. Tudo era incrivelmente natural, como se fosse dessa forma desde sempre. Como se os três tivessem sido uma família desde o início do mundo.
Nas segundas eles iam no parque que ficava bem ao lado da casa e brincavam até Charles estar completamente nojento de terra como um menino de nove anos saudável; nas terças eles iam jantar na casa de Sally onde ele e Estelle brigavam pela atenção de Paul; nas quartas eles não faziam absolutamente nada, apenas ficavam em casa; nas quintas era o dia de inventar na cozinha, em que eles selecionavam uma receita aleatória e diferente e tentavam replicar - nem sempre dava certo, mas era muito divertido -; as sextas o dia dos filmes, ou eles iam no cinema ou faziam a própria maratona de filmes na sala de casa, com cobertores e pipoca em todo o chão; os sábados era o dia em que eles iam até o escritório de Hannah e depois tomariam sorvete, absorvendo a percepção que ainda não eram uma família no papel. Ainda. Nos domingos eles iam para a casa de Sally novamente, dessa vez para o churrasco semanal que Paul fazia questão de comandar, Grover e Juniper traziam os gêmeos do terror - apelido carinhoso que Percy deu a Daniel e Dayse, seus afilhados de seis anos - e Sally montava a piscina infantil enquanto seu esposo tomava conta da churrasqueira, dando espatuladas em qualquer um que ousasse tentar mexer nas carnes assando. Todas as noites um deles lia um livro para Charles, antes de apagarem as luzes deixando somente a luminária do Batman ligada. Todas as noites Percy e Annabeth diziam "eu te amo" para ele e davam beijos de boa noite em sua testa. Charles nunca teve isso.
Todo dia era dia de dar risadas, dia de entenderem seus gostos, seus desgostos. Charles amava basquete e montava os legos mais complicados com uma facilidade assustadora; ele odiava gatos e brócolis cozido, tinha uma obsessão esquisita em terminar uma fase do videogame antes de parar de jogar - mania que o tinha deixado sem jogar por algumas semanas -. Charles amava os abraços apertados de Percy e amava o perfume de Annabeth quando se aconchegava nela.
Apesar de ambos estarem preparados com dezenas de técnicas, Charles não era de chorar ou exigir nada - se recusar a comer verduras não contava. Ele recebia as broncas de cabeça baixa e sua tristeza não criava raízes quando recebia o "não" de alguém. Charles ria alto, o som dominava todo o ambiente e fazia qualquer um em volta rir junto com o garoto, era extremamente carinhoso, algumas vezes ele acordava no meio da noite para o quarto de Percy e Annabeth, apenas para se arrastar para o meio da cama e dormir entre os dois; eles nunca dizem não para isso, tão necessitados de carinho quando o próprio filho.
Mas foi em uma quarta-feira; o dia de ficar atoa. Era o dia em que eles não cozinhavam, nem limpavam nada, apenas ficavam consumidos pelo tédio. Algo naquele dia de meio de semana fazia parecer errado fazer algo produtivo, então os três apenas ficavam juntos em casa fazendo nada. Era o dia preferido de Charles, mas ele nunca admitiria isso.
Foi naquela quarta-feira, os três embolados uns nos outros no sofá grande assistindo um canal aleatório que passava alguma competição que fazia as pessoas responderem perguntas por dinheiro que aconteceu duas coisas que marcaram a vida de Percy e Annabeth.
A primeira foi quando Percy finalmente acertou uma questão, o programa bobo tinha virado uma competição entre os três, ganhava quem acertasse mais; Charles comemorou pelo homem, mesmo ele sendo seu adversário, enquanto Annabeth revirou os olhos. Ela só não estava mais irritada pois tinha seis pontos de vantagem contra seu marido.
Charles ainda comemorava a vitória de uma pergunta de Percy.
- Charlie, ele ganhar significa que você perde. - Annabeth diz, rindo suavemente.
Charles para de rir e fica pensativo.
- Mas ele é o meu pai, mãe. Se ele acertar, a gente tem que comemorar - respondeu.
Percy e Annabeth congelaram. Charles nunca tinha chamado nenhum deles assim antes e honestamente nenhum dos dois esperava por isso, claramente. Os olhos estavam arregalados e tinham parado completamente de respirar.
Era a melhor sensação do mundo.
Percy olhou para Charles e ele nem tinha notado os dois adultos bobalhões apaixonados por duas palavrinhas que eles descobriram serem mágicas.
Pai. Mãe.
Foi o melhor momento da vida deles, Percy pensou.
A segunda coisa marcante daquela quarta-feira mágica foi quando, exatamente às seis horas da tarde, Hannah ligou.
- Senhor Jackson? - A assistente social perguntou, hesitante.
- Oi, senhora Graham. Sou eu. - Respondeu.
- Não sei como falar isso, então vou ser direta. - Começou, o coração dele acelerou. - A mãe biológica de Charles saiu da reabilitação a alguns meses e ontem ela entrou com o pedido para recuperar a guarda dele. Vocês precisam vir aqui amanhã pra nós vermos como vamos lidar com tudo isso. Traga sua advogada.
Foi em uma quarta-feira que Charles chamou Percy e Annabeth de pai e mãe. E foi nessa mesma quarta-feira que eles o perderam.
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✓ HAVE YOU EVER SEEN THE RAIN?, PERCY JACKSON
FanfictionPercy Jackson conheceu o amor de sua vida. Percy Jackson casou com o amor de sua vida. Mas a história não acaba no "e viveram felizes para sempre" como nos contos de fadas. Ainda mais quando você é o responsável pela sua esposa estar internada no h...