Eu não pretendia deixar a Inglaterra nem tão cedo, porém os preparativos para ir à França estavam avançados. Caixas e mais caixas de pertences estavam sendo empilhadas nas carruagens que nos levariam até o porto. Era uma viagem corriqueira para nós, ocorrendo todos os anos. Um ano, passávamos na França, outro na Inglaterra. Eu não tinha escolha, afinal, herdar os deveres de meus pais me exigia um certo sacrifício. Embora eu preferisse estar em minha terra natal, os vinhedos da França precisavam de supervisão e administração.
Caminhei pelos corredores de North Grand House me certificando que todas as coisas que nos eram importantes estivessem sendo corretamente protegidas e embaladas para a viagem. Levaria muitas horas até a costa e sairíamos com sete carruagens para dar conta de carregar todas as nossas coisas. Sei que parece muito, mas a maioria eram papéis e suprimentos. Minha irmã, Anastasia, tinha uma carruagem só para si, enquanto eu dividia a minha com Robert, meu mordomo mais antigo.
Ele ficou ao meu lado quando nossos pais faleceram há quatro anos. Me ensinou muito do que sei hoje, grande confidente de meu pai e amigo de longa data. Se não fosse por ele, eu não teria forças para tocar todos os negócios da família.
O acidente que levou meus pais veio de uma forma inesperada quando eu ainda era um jovem boêmio. Mal tive tempo de sair da faculdade de ciências, aos 23 anos, quando recebi a notícia da tragédia que desfez a nossa família. Robert foi um pai e amigo quando mais precisei.
Anastasia, minha irmã era muito jovem. Precisou crescer sem as orientações de uma mulher. Sua tutora, Mrs. Davies tentou educá-la da melhor forma possível. E, devo confessar, que minha irmã crescera com toda a doçura e educação que conseguimos lhes proporcionar. Era uma jovem meiga, inteligente e animada, apesar de ter perdido os pais quando tinha onze anos.
Observei de longe, enquanto Anastasia empilhava dezenas de cartas em um baú de tamanho médio. Cartas que trocava com suas amigas da França e da Inglaterra. Sua alegria era contagiante e, por isso, fazia dezenas de amizades por onde quer que passasse. Isso a ajudou a superar a tristeza de perder os nossos pais.
E eles nos faziam muita falta! Éramos uma família muito unida antes de tudo acontecer. Nosso pai nos ensinava a cuidar dos negócios de suas propriedades - até mesmo Anastasia sendo uma criança. Nunca a desmotivou pelo fato de ela ser mulher. Nossa mãe também cuidava dos negócios da família. Muitos costumavam dizer que ela era quem comandava os vinhedos na França.
Durante muitas noites, nos sentávamos ao redor da lareira para que ela e meu pai encenassem uma peça qualquer ou dramatizassem algum livro infantil. Ambos apreciavam as artes e tentaram nos fazer estudá-las quando éramos mais novos.
Anastasia tentou tocar violino, piano e flauta, porém, sua aptidão era um tormento. Ou melhor, sua falta de aptidão. Lembro dos dias em que eu precisava estudar na biblioteca de North Grand House e suas tentativas insuportáveis de fazer música com o instrumento de sopro me tiravam a paciência.
Eu, por outro lado, acabei desenvolvendo a paixão pela pintura. Gostava de retratar as paisagens da propriedade. As uvas, os cavalos, Anastasia brincando na grama. Porém, nunca tive coragem de expôr minhas pinturas para ninguém. Não sei se era insegurança de minha parte ou se achava que ainda não era um pintor bom o suficiente. Minha mãe era a única para quem eu conseguia mostrar meus quadros e ela sempre sorria e dizia o quanto pareciam reais.
Entrei no meu quarto enquanto dois empregados organizavam minhas roupas em duas grandes malas.
-Bom dia! - lhes dei um sorriso gentil e ambos me responderam com sorrisos e acenos de cabeça. Caminhei até a janela para avistar as carruagens lá fora. Uma parte dos empregados iria comigo, outra ficaria para manter tudo em ordem. Apesar de todo o trabalho que lhes dávamos com essas constantes mudanças, pareciam gostar de trabalhar conosco.
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Depois daquela noite
RomanceMr. Edward Sharman, divide seu tempo entre a França e a Inglaterra, onde possui propriedades herdadas por sua família para administrar. Após o falecimento de seus pais, ele ficou encarregado de assumir os negócios familiares e de cuidar de sua irmã...