Capítulo 1

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Aquele não era um dia normal, ela pressentia. O dia que começara chuvoso parecia anunciar algo que viria e mudaria sua vida para sempre. Aoi sempre foi muito intuitiva, sempre sentindo coisas que as demais pessoas não sentiam, talvez tenha sido por isso que aquele homem tenha vindo atrás dela no passado. Um passado que ela já não se recorda mais. Não sabia mais se havia se passado dez anos ou cem anos, sua vida antiga era como um leve borrão e com o tempo ela parou de tentar tirar aquela mancha e permitiu que sua memória fosse esquecida.

Ela viveu no esquecimento, pois nem mesmo o homem na qual a transformou naquilo tinha interesse nela. Permitiu que ela vivesse como quisesse, que existisse como quisesse. E assim ela tem vivido, ou melhor, sobrevivido.

Aoi não vive, ela sobrevive. De tempo em tempo encontra um lugar novo para viver, pois sempre os humanos acabam por encontra-la e tentar matá-la, e com isso é obrigada a ir embora. Já encontrou com outros como ela, mas a mesma se recusava a viver com eles e fazer o mesmo que eles. Não tirava vidas humanas a menos que fosse necessário, a menos que fosse para sua sobrevivência. Ela não se orgulhada dos humanos que havia matado, mas era eles ou ela.

No momento, ela vivia no meio da floresta em uma casa velha e acabada, cheia de trincados na madeira, com janelas quebradas e papeis de parede velhos e descolando da parede, tapetes desfiando e um cheiro de mofo que as vezes a fazia revirar o estomago. Levou tempo, mas ela conseguiu tirar o cheiro de mofo, mas quanto ao resto não valia a pena modificar, logo teria que partir e encontrar outro lugar. Seja por vontade própria ou forçada.

Naquele dia, apesar da chuva forte, ela saiu pela floresta para caçar algo para comer. Talvez encontrasse um coelho e poderia fazer algo com as batatas que teve que roubar, a comida humana para ela tinha o gosto horrível, mas ela ainda se forçava a comer algo de sua vida antiga para de alguma forma não perder a pouca sanidade que tinha. Algumas vezes era difícil conter a fome por sangue, por isso se alimentava se animais quando a coisa apertava.

No entanto, sua caçada foi interrompida quando um clarão emergiu de algum ponto da floresta fazendo-a parar de correr. Ela ficou temerosa, sentindo o coração bater mais rápido que o normal, clarões como aquele era um sinal péssimo. E sabia que tipo de gente conjurava aqueles clarões. Mas mesmo desconfiada e com seus instintos gritando para fugir, uma parte dela gritava também para ir até lá e mesmo não se lembrando direito, ela sempre ouvia sua intuição.

Chegou ao local rapidamente, vendo rastros de destruição por toda parte. E no centro dela, próximo a um rio havia um homem, trajando uma roupa que ela conhecia bem e um haori branco com desenhos em vermelho que lembravam a chamas. Ele estava bem ferido e andava cambaleante, mas mesmo ferido ainda conseguiu sentir a presença dela, pois rapidamente ele se virou e apontou sua katana para ela.

Havia um corte na testa, três linhas que rasgaram a roupa dele na altura do peito e onde escorria sangue, e um ferimento na coxa que também escorria. A chuva castigava a floresta e encharcava a ambos. O homem a sua frente tinha um olhar feroz como a de um leão e estava pronto para lutar mesmo que perdesses a vida.

Aoi respirou fundo. Já conhecia os passos para se aproximar de um humano ferido, já sabia as falas para não o assustar. Apesar de possuir uma força descomunal, mas ser péssima em lutas, Aoi carregava um poder forte e maravilhoso, ela conseguia curar pessoas. Esse era seu poder, ajudar pessoas feridas. Ela curava ferimentos graves a leves, porém, não curava doenças. Algumas vezes andava pelas cidades e vilas disfarçada e ajudava pessoas com ferimentos profundos e que poderia levar a morte.

Uma tossida do homem a sua frente a fez dar dois passos na direção dele. Ele tentou dizer algo, mas as tosses apenas aumentaram e ali Aoi percebeu que ele não estava somente ferido, algo o estava corroendo de dentro para fora, e quando ela respirou o ar sentiu um odor de veneno.

- Está ferido e envenenado! – alegou Aoi e o homem que possuía cabelos loiros com mechas ruivas nas pontas trincou os dentes enquanto respirava bem devagar para tentar controlar de alguma forma o veneno em seu corpo – Eu posso ajudar! Sei que sou sua inimiga, mas eu salvo pessoas assim como você. Peço que acredite em mim – tentou soar o mais calma possível.

Mas ele não acreditou, simplesmente ignorou sua fala e apertou mais o cabo de sua katana e se preparou para ataca-la. Aoi já estava pronta para o combate, mas ao invés de receber o impacto, ela apenas viu o corpo do homem tombar para frente e cair no chão lamacento por causa da chuva. Ela suspirou, pois sabia que aquilo aconteceria mais cedo ou mais tarde.

O veneno uma hora o faria desmaiar e restringir seus movimentos. Calmamente, ela se aproximou dele, guardou a katana na bainha dela e a prendeu em seu corpo, para depois pegar o Demon Slayer e colocá-lo nos ombros e ir embora dali para poder cuidar dele.

E no caminho, ela já foi preparando todo um diálogo para tentar acalma-lo quando o mesmo acordar. 


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Esse é o primeiro capitulo, espero que gostem. O Segundo postarei amanhã, mas os outros capítulos podem demorar um pouco. E aí, continuo ou não? 

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