𝐓𝐇𝐄 𝐅𝐎𝐔𝐑 | 𝑃𝑜𝑟 𝑡𝑟𝑎𝑠 𝑑𝑎𝑠 𝑠𝑜𝑚𝑏𝑟𝑎𝑠

𝐁ô𝐧𝐮𝐬 (𝐓𝐫𝐢𝐱𝐢𝐞)

Trixie

Há 9 anos atrás...

Era julho e estava um calor danado na Califórnia. O carro em movimento soprava um vento forte pela janela fazendo meus cabelos castanhos se movimentarem em direção contrária do meu rosto, secando meus olhos lacrimejados que saiam lagrimas contra a minha vontade. Por que estou chorando? Finalmente sair daquele inferno. Eu deveria estar feliz...

- Querida, você está bem? - A mulher loira que eu já havia conhecido há alguns dias atrás e que acabou de me buscar no aeroporto pergunta do meu lado no banco de trás, com a voz mais doce que já ouvi, mas eu não respondo, só continuo olhando a vista dessas lindas casas que nunca tinha visto.

Passamos por casas chiques. que na minha opinião, parecem mais com castelos gigantes. Não estou acostumada a estar desse lado rico. Nasci na parte mais desprezível e pobre da Inglaterra, onde não tínhamos dinheiro nem para comprar coisas básicas. Vivi por 1 ano em um orfanato "clandestino", deplorável e cruel, onde não tínhamos mau o que comer. Então isso aqui parece tão... irreal.

É engraçado ver como tem gente que tem muito, e como tem gente que não tem nada...

Até 1 hora atrás eu não sabia como as coisas aqui eram tão diferentes. Me falaram algo sobre eu ser sortuda e estar indo morar em um lugar rico, mas na minha percepção, lugares como esse só existiam em filmes.

- Acho que vai gostar da sua nova casa, Trixie - A mulher que é chamada por Russell diz. Eu olho para ela de relance - Posso te chamar de Trixie? - Pergunta com um sorriso, mas eu só concordo seriamente, limpando meu rosto. - OK... Olha, Trixie... Eu não sei de tudo o que aconteceu com você na Inglaterra ou no orfanato, só sei o que me contaram, e o pouco que me contaram... - Ela dá uma pausa dramática e continua - Eu só sei que você só tem 9 anos, e uma criança de 8 a 9 anos não deveria ter passado por tudo isso e...- Ela ia concluir, mas eu a Interrompi, não querendo que ela terminasse a frase

Ela é bem intrometida, né?!

- Eu não ligo pra isso! - Falo as primeiras palavras depois de muitas horas de viagem - Uma das únicas freiras boas no orfanato me falou uma vez que a gente não pode ficar pensando no passado, porque se não ele volta para te assombrar e puxar seu pé - Franze o cenho, provavelmente estranhando minhas palavras sórdidas, mas logo sorri.

- Tem razão, não podemos ficar pensando no passado, vamos pensar no presente, e que...- Ela olha em seu relógio de pulso dourado - daqui 10 minutos a gente já vai está em casa - Seus olhos brilham e eu dou um sorriso fraco, meio envergonhada.

Ela fala tudo com tanta animação, mas eu só consigo estranhar isso tudo. Faz muito tempo que não tenho um lugar para chamar de casa, e pelo que posso ver, por suas roupas, essa SUV BMW blindada (A que o presidente da TV andava) e esse motorista dirigindo... Ela e sua família têm muito dinheiro. Não faço parte desse mundo! Acho que não sei me comportar igual ela, com as costas retas, roupas sedosas e nada pesadas, colares e brincos brilhantes, unhas feitas e, não sei porquê, mas sempre parecendo despreocupada.

Pensando nisso, olho para mim, para as minhas roupas. Estou usando minha roupa menos ruim. Uma calça jeans pequena e surrada, com alguns furos de traças, e uma blusa de frio, que é tão fina e pequena que chega a ser transparente. Meus tênis são apertados e acabados, descolando da sola... mas mesmo assim gosto deles.

- Eu...- A mulher continua depois de um tempo, parecendo tentar falar a coisa certa - Acho que você vai gostar daqui, de Los Angeles, é bem diferente da Inglaterra, isso é fato, mas acho que vai gostar! - Ela dá um sorriso carinhoso.