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Espremi o pano dentro da pia, fechando o registro da torneira e deixando-o em um canto sabendo que precisaria dele mais uma vez mais tarde.

Me virei no lugar, passando os dedos entre o outro pano para secá-los e ergui os olhos apenas para ver Georgina apoiada no mármore, olhando pela sala.

Respirei fundo, me aproximando e reunindo paciência.

Eu e ela nunca nos demos muito bem, isso porque sua mãe e minha mãe não conversavam direito e sempre que a tia Tânia me via, me tratava melhor do que tratava a própria filha e nem minha mãe nem Georgina gostavam disso.

Mas ao contrário de minha mãe, minha prima achava que a culpa era minha e por esse motivo gostava de fazer intriga com o meu nome nas reuniões de família que eu me recusava a participar.

— Ele é seu namorado?

Franzi o cenho, sabendo exatamente sobre quem ela estava falando, mas fingi que não.

Fingi da mesma forma que fingi não notar o modo que ela estava praticamente se atirando para cima dele bem na minha cara. Eu queria sorrir sempre que via Jasper se esquivando e olhando para mim enquanto ela falava. Eu quase gritei um toma sua vadia bem na sua cara apenas para humilhá-la na frente de todo mundo, só que me livrei desse pensamento infantil tão rápido quanto ele apareceu.

— Quem?

Perguntei, empurrando os pratinhos plásticos para o lado e me debruçando sobre o balcão. Ela me encarou sorrindo com deboche.

— O único homem aqui que você não cometeria incesto se namorasse, Perséfone — revirei os olhos, sentindo o embrulho no estômago da mesma forma que sempre sentia ao ficar perto dela.

Georgina tinha uma energia ruim e suas falas traziam ainda mais disso à tona.

Não respondi ainda, apenas permaneci olhando para Freya no colo de minha mãe, conversando com minha outra tia, essa por parte de pai.

— Sabe, depois de Will, pensei que você nunca mais fosse achar ninguém a altura — ela sorriu, mexendo no copo sobre a borda. Ainda não a encarei, mas fiquei rígida na mesma hora. — Todos pensaram isso, na verdade.

Engoli com dificuldade e finalmente fuzilei ela com o olhar, avisando que era hora de parar. Mas ela nunca parava.

Ela apenas sorria mais e fazia o que sabia fazer de melhor. Era uma cobra filha da puta.

Georgina gostava de me lembrar o que meu ex namorado fez com toda a família — ele tirou o membro mais querido de todos, aquele que ninguém tinha rixa e que todos queriam por perto.

Rangi os dentes, me segurando para não falar alguma atrocidade.

— Esse daí sabe sobre as suas merdas?

Indagou, cínica.

— Eu acho melhor você parar por aqui, Georgina — falei enquanto sentia Hailey se aproximando, mas nenhuma das duas destravou a batalha que iniciamos com nossos olhares.

Sua pele alguns tons mais clara do que a minha ficou vermelha nas bochechas, mostrando o quanto ela estava se divertindo. Bom, eu poderia deixar a marca assim pelo resto da noite com um gancho de direita, ou só um tapa mesmo.

— Só quero ter certeza de que você está fazendo certo desta vez.

— Do que estamos falando?

Hailey perguntou, não sendo gentil como estava sendo com todo mundo até agora. Ela olhou com raiva para Georgina e tocou o braço no meu.

— Sabe, eu poderia te perguntar a mesma coisa — murmurei, me inclinando mais e aproximando meu rosto do seu. Ela fechou um pouco os olhos mas logo voltou ao normal, os castanhos escuro tendo a pupila desfocada por um momento. Ela olhou de um olho meu para o outro. — Sua mãe já percebeu que a sua vida não é ganha com os livros que você diz escrever?

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