RECOVERY

36

 Jasper não me queria no carro junto com ele, e fez questão de deixar isso bem claro.

Assim que ele abriu a porta do motorista, saí pela porta da frente de sua casa e comecei a andar em direção a porta do passageiro, ignorando quando ele me disse para entrar e ficar no quarto dele até que voltasse.

Eu olhei para ele séria, mostrando que não aceitaria um não como resposta, e ele apenas me disse que precisaria ir rápido.

Fodasse, eu lidaria com isso.

Nas últimas semanas, sempre que eu andava no carro dele, eram viagens curtas — da minha casa até o trabalho, da minha casa até a universidade, da universidade até sua casa ou da sua casa até o meu trabalho.

Eu mal me lembrava de um dia que não tínhamos estado juntos, e mesmo quando a viagem era rápida e eu dava algum indício de uma crise, Jasper segurava a minha mão, beijava as costas dela e me acalmava de alguma forma.

Então, não, nem se ele precisasse atingir os duzentos por hora eu iria ficar esperando ele voltar.

Eu tinha entrado no banho quando ele atendeu a ligação, e nem dois minutos depois, ele entrou comigo, preocupado, meio distante e se apressando para passar o shampoo e o condicionador. Percebi que de fato não estava tudo bem quando ele não me jogou nenhuma brincadeira idiota referente a minha nudez e meu corpo perfeito, como ele chama.

Depois, ele vestiu suas roupas rapidamente, e eu nem consegui escovar o cabelo para poder acompanhá-lo, apenas coloquei seu casaco de moletom, porque tinha vindo só com uma blusa fina e não pensei que sairia durante a noite fria e minhas calças.

Apertei as mãos no assento abaixo de mim enquanto ele dava a marcha e acelerava, olhando sempre para frente e quase sem respirar.

Seu corpo estava encostado no banco, os braços esticados tensionados sobre a blusa branca de mangas que ele vestia. Eu ainda não tinha perguntado o que tinha acontecido, mas presumi que tinha chegado a hora assim que chegamos perto da ilha e meu coração começou a acelerar.

— Jasper? — Chamei e olhei para ele, não notando indícios de que ele tinha me escutado. — O que aconteceu?

Minha voz foi suave, minhas mãos se moveram em nervosismo e eu fiquei com medo do que ele iria responder. Fiquei com medo de ele me mandar calar a boca e esperar até chegarmos. Ou então que ele simplesmente fosse me ignorar.

— Minha mãe — murmurou, dando a marcha, focado no carro a sua frente que mal andava. — Ela ficou bêbada no escritório e caiu de uma escada quando estava indo embora.

— Qual das duas? — Perguntei e notei seu dedo batucando na marcha, inquieto.

— Dani, ela tem problemas com bebida. Regina foi buscá-la e encontrou ela caída com a cabeça sangrando.

Jasper puxou uma longa respiração, fechando os olhos por um momento. A sinaleira estava fechada, então ele poderia ficar assim por mais alguns segundos se quisesse.

Engolindo em seco, coloquei a minha mão em sua coxa, mostrando para ele que eu estava ali e que também o ajudaria no que precisasse. Sem abrir as pálpebras, ele colocou a mão sobre a minha e segurou meus dedos. Sua pele quente eletrizou a minha e mandou correntes quentes pelo meu corpo, amortecendo cada canto gelado pelo nervosismo.

Meu coração parou quando ele os levantou e pensei que ele jogaria minha mão para o lado. Só que ao contrário disso, ele envolveu os meus dedos, colocou o carro no automático e deixou nossas mãos juntas no estofado no nosso meio, onde um pequeno baú ficava escondido.

Senti meus olhos se encherem de lágrimas e virei o rosto.

— Ela não teve nenhuma contusão ou algo do tipo, foi um corte superficial, ela vai ficar bem. Ela não bebeu o suficiente para precisar de glicose, quanto a isso tudo está calmo. Demos soro e Diazepam para que dormisse um pouco — afirmou uma médica ruiva, que segurava uma prancheta nas mãos e olhava diretamente para Regina. Eu sabia que era ela por conta do que Jasper me disse.