01. Boa noite, Jules.

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16 de Abril, 2014

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16 de Abril, 2014.
Boston, MA.


          NEM TODAS AS almas gêmeas se encontram, e Jules estava perfeitamente ciente disso. Na verdade, apesar das inúmeras histórias que regaram sua infância, na vida adulta ela se viu cada vez menos envolvida com aquele único aspecto.

Aos vinte e três ela tem um emprego como chef em um restaurante renomado em Boston, ganha muito bem, e vive confortavelmente com as duas pessoas que mais importam em sua vida. Ela tem pessoas que confiam e dependem dela, uma equipe que a respeita e escuta suas ideias, e a responsabilidade pesou rapidamente. Não de forma ruim, apenas o tapa emocional necessário para situá-la no mundo real.

Seu mundo é esse, onde mutantes precisam esconder sua verdadeira natureza, ou viverem às margens da sociedade, onde almas gêmeas não são a coisa mais surreal que veria no cotidiano, e ela precisava lutar pelo direito de ir, vir e viver. De certa forma, a ideia de nunca encontrar sua alma gêmea, e nunca arrastar ninguém inocente para a bagunça de sua vida, se tornou reconfortante.

Quando, apenas uma semana antes de seu aniversário, o olhar de sua mãe se tornou preocupado e receoso, ela teve vontade de ressaltar que não era mais uma criança, mas não fez. Aquilo incumbiria em uma longa conversa honesta sobre amadurecimento precoce, e levaria Agnes a uma viagem de culpa que nunca terminaria bem.

Jules preferiu ignorar, educadamente, até que seu aniversário passasse. Honestamente, ela preferia lidar sozinha com esse momento específico. 

Por essa razão ela estava ali agora, encarando a chave do quarto de hotel que escolhera para passar a madrugada de seu aniversário. A mulher na recepção tinha um olhar indecifrável ao verificar sua carteira de motorista, demorando alguns segundos extras na data de nascimento, e ela parecia hesitante em desejar ou não um feliz aniversário. Jules supôs que não era a primeira vez que isso acontecia.

Não era incomum, ela sabia. Muitas pessoas passavam seu aniversário de vinte e quatro em qualquer lugar longe de casa, talvez para não ter que lidar com a pena de ninguém ao não terem o resultado esperado. Jules imaginou quantas vezes aquela pobre recepcionista teve que passar por esse momento nitidamente desconfortável.

Jules lhe ofereceu um sorriso pequeno, apenas o suficiente para tentar suavizar o clima tenso, e a moça retribuiu o sorriso enquanto devolvia seu documento.

Boa sorte. — Ela sussurrou hesitantemente, mas foi alto o bastante para que Jules escutasse enquanto se afastava para o elevador.

Jules engoliu seco, brincando com a chave metálica entre os dedos e mordendo o lábio inferior para evitar que ele tremesse. Ela sentia seu estômago afundar, e não tinha nada haver com a inércia do elevador, seus dedos estavam frios e um gosto estranho amargava sua boca. Se ela estava em pânico ou prestes a vomitar, ainda era um mistério.

𝐓𝐖𝐄𝐍𝐓𝐘 𝐅𝐎𝐔𝐑  ✦  ᵇᵘᶜᵏʸ ᵇᵃʳⁿᵉˢOnde histórias criam vida. Descubra agora