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POV SARAH

Subo as escadas correndo e até esqueço que há um elevador no local. Meu corpo cansa de forma rápida, mas não me deixo parar e continuo subindo, até que chego ao lugar desejado.

Me dirijo ao quarto e abro a porta sem nem bater, aliás, ela já está a minha espera, por isso me ligou.

- O que você quer? — pergunto entrando no quarto

- Você quer me manipular para não machucar seu precioso namorado mas também não me da nada em troca, ainda se encontra com ele em público — Kristen esbraveja — minha vontade é de matar você por ser tão burra, não de matar ele

- Ele é meu namorado, Kristen. Você quer que eu faça o que?

- Termine — a morena sorri sombria e eu rolo os olhos

- O que você quer de mim? — pergunto impaciente

- Dinheiro, bens materiais, sei lá. Algo que você possa me pagar por eu arriscar o meu emprego e a minha vida — ela fala — porque um desvio, e eu morro juntinho com os seus pogues

- Para de falar assim, está me dando vontade de vomitar

- Se vomitar no meu quarto, atiro em você

- Tenta a sorte — dou uma risada irônica — Também tenho uma arma, Kriss e diferente de você, eu sei ser uma psicopata de verdade. Infelizmente, essa maldição está no sangue dos Cameron

- O que?

- Sangue frio — a encaro com ódio e pela primeira vez, sinto que consegui amedrontar a morena

- Esse seu lado sombrio é interessante, queria ter conhecido ele antes — ela ergue a sobrancelha — Ou nunca, realmente tenho medo de você me matar — Kristen da dois passos para trás

- Você se surpreenderia com a facilidade que eu teria em te matar — sorrio sem os dentes — Então, o que você quer de mim?

- Quero que na próxima vez que você vier aqui, traga algo, dinheiro de preferência — ela avisa

- Como quiser — falo irônica, pego minha bolsa e saio do quarto.

Entro no elevador sentindo uma dor aguda na barriga e uma dor de cabeça forte o suficiente para me deixar tonta até o caminho para o carro.

Entro no carro e dirijo até a minha casa, chego na mesma e subo as escadas com raiva, entrando no meu quarto.

Abro o fundo falso do meu guarda roupas e pego a arma que ficava escondida. Agora, mais do que nunca, preciso tê-la por perto.

- Sarah — a voz do meu pai se faz presente

Me viro para ele e o homem arregala os olhos quando vê que eu tenho uma arma em mãos.

- O que... o que é isso, Sarah?

- O que você quer, pai?

- VOCÊ VOLTOU A SE DROGAR? ESTÁ ARMADA AGORA? O QUE ESTÁ ACONTECENDO?

Dou uma risada irônica com a reação do meu pai e largo a arma no chão.

- Você age como se em algum momento eu tivesse parado de me drogar, até parece — rolo os olhos

- Cadê a minha menininha?

- CHEGA DESSE PAPINHO PAI, PELO AMOR DE DEUS — grito já sendo tomada pelas lágrimas — Olha para mim, me diga o que você vê? Não tem mais nem um resquício da sua garotinha

- O que fizeram com você?

- O que VOCÊ fez comigo? — grito ainda chorando — Você acabou comigo, acabou com os meus sonhos. VOCÊ ACABOU COM A NOSSA FAMÍLIA

- EU FIZ DE TUDO POR ESSA... — meu pai fala mas eu interrompo

- NÃO! NÃO TENTA COLOCAR ESSE PAPO DE EU FIZ TUDO POR ESSA FAMÍLIA PORQUE VOCÊ NÃO FEZ — grito e sinto mais uma pontada na minha barriga

Caio no chão em meio há algumas lágrimas, meu choro se intensifica de acordo com o meu desespero e a minha dor.

- Sarah — meu pai se aproxima tentando colocar a mão no meu ombro, mas eu desvio.

- SAI DAQUI — berro assustada — SAIA DE PERTO DE MIM, EU NÃO QUERO VOCÊ PERTO DA GENTE

Meu pai sai assustado e aparentemente não percebeu o fato de eu ter usado o plural. De eu ter me referido a mim e ao meu filho.

Me levanto com facilidade e vou até o banheiro, tirando minha calcinha com facilidade, por estar de saia.

A minha visão se embaça novamente com lágrimas. A dor na minha barriga acaba aos poucos, mas a dor na minha alma começa a se intensificar.

Eu estava sangrando.
Pouco, mais ainda assim, era sangue.

Eu estava perdendo o meu bebê?
O motivo pelo qual eu aceitei levantar e lutar, esse motivo?

A minha luz no fim do túnel.
Estava sendo tirada de mim?

Tentava pesquisar nas minhas memórias se eu já havia lido sobre isso, sobre sangramento na gravidez.

Sinto que já, pode ser algo normal, mas os pensamentos na minha cabeça não permite que sejam.

A única coisa que passa pela minha cabeça é que acabou.

Meu filho me deixou, o anjinho que podia ter sido minha salvação foi embora e me deixou nesse mundo sujo, sombrio e amedrontador.

Não o culpo, esse mundo não é para pessoas boas, pessoas puras e que precisam ser felizes.

- Sarah — Wheezie entra no banheiro do meu quarto se aproximando de mim

Puxo a calcinha com gotas de sangue para trás de mim, para esconde-la com o meu corpo. Abraço meus joelhos e volto a chorar.

- Está tudo bem? — ela pergunta referindo-se a mim e ao bebê.

Confirmo com a cabeça ainda chorando. Não ia conseguir contar a Wheezie o que estava acontecendo, não agora.

Assim como ir ao hospital agora está fora de cogitação. Não sei o quão isso pode me fazer mal, mas sinceramente? Eu não me importo.

Uma parte de mim acabou de morrer e eu não me importaria se eu fosse também.

Estou cansada. Tão cansada que meu corpo não é capaz de gerar uma vida, minha mente não é capaz de pensar em outra coisa, se não o meu descanso.

Estou acabada, quebrada, cansada, triste e dolorida. As cicatrizes que se juntaram a mim ao longo da minha vida, principalmente ao longo desses dois anos, são as que mais machucam e serão as que mais vão machucar daqui pra frente.

No momento em que eu vi aquelas gotas de sangue, todos os motivos que eu tinha para lutar foram embora e sinto que toda a minha luta anterior foi em vão.

Não me reconheço mais. Sarah Cameron, princesinha kook, exemplo perfeito, menina modelo. Essa nunca fui eu, eu, a verdadeira eu, nunca existiu.

Sarah Cameron, que piada.

SECRETOnde histórias criam vida. Descubra agora