III. Os companheiros de brinquedo

119 15 0
                                    

 O Sr. Home permaneceu na casa por dois dias. Durante sua visita, ninguém conseguiu persuadi-lo a sair: ele ficava sentado o dia inteiro ao pé da lareira, às vezes em silêncio, às vezes conversando com a Sra. Bretton, que tinha exatamente o tipo adequado de conversa para um homem em seu estado de espírito mórbido — sem simpatia em excesso e, contudo, não reservado demais, porém sensato; e mesmo com um toque maternal — ela era suficientemente mais velha que ele para que lhe fosse permitida essa atitude.

Quanto a Paulina, a menina estava ao mesmo tempo feliz e silenciosa, atarefada e vigilante. Seu pai com frequência a erguia e a colocava nos joelhos; ela ficava sentada até sentir ou imaginar que ele estava ficando agitado, e então se seguia um:

— Papai, coloque-me no chão, vou cansar o senhor com meu peso.

E o peso monumental escorregava para o capacho e, acomodando-se no tapete ou no banco bem ao lado dos pés do "papai", a caixa de costura branca e o lenço manchado de escarlate entravam em cena. Esse lenço, ao que parecia, devia ser uma lembrança para o "papai", e teria de ser terminado antes de ele partir; consequentemente, a exigência em relação ao esforço da costureira (ela conseguia fazer uns vinte pontos em meia hora) era severa.

A noite, restituindo Graham ao teto materno (seus dias eram passados na escola), nos proporcionava um motivo a mais de animação — uma característica não diminuída pela natureza das cenas que certamente seriam representadas entre ele e a Srta. Paulina.

Um comportamento arredio e desdenhoso havia sido o resultado da indignidade que lhe fora infligida na noite da chegada dele: a resposta habitual, quando Graham se dirigia a ela, era:

— Não posso dar atenção ao senhor; tenho outras coisas em que pensar. — E, quando ele lhe implorava para dizer quais coisas —, serviço.

Graham tentava atrair a atenção dela abrindo sua escrivaninha e exibindo o conteúdo variegado: lacres, bastões coloridos de cera, canivetes para aparar penas, e uma miscelânea de gravuras — algumas delas vistosamente coloridas — que ele havia recolhido com o passar do tempo. E tampouco era essa tentação poderosa completamente em vão: os olhos dela, furtivamente erguidos do seu trabalho, lançavam muitas olhadelas na direção da escrivaninha, rica em gravuras espalhadas. Uma gravura de uma criança brincando com um Blenheim spaniel casualmente esvoaçou até o chão.

— Que lindo cachorrinho! — disse ela, deliciada.

Prudente, Graham não deu confiança. Antes que muito tempo se passasse, esgueirando-se silenciosa do seu canto, ela se aproximou para examinar o tesouro mais de perto. Os grandes olhos e as orelhas longas do cachorro, e o chapéu e as plumas da criança eram irresistíveis.

— Linda gravura! — foi a crítica favorável feita por ela.

— Bem... pode ficar com ela — disse Graham.

Ela pareceu hesitar. O desejo de posse era forte, mas aceitar implicaria comprometer sua dignidade. Não. Ela a colocou de lado e se voltou.

— Não vai ficar com ela, então, Polly?

— Eu preferiria não aceitar, obrigada.

— Posso dizer-lhe então o que eu vou fazer com a gravura, se você recusá-la?

Ela se voltou parcialmente para ouvir.

— Fazê-la em tiras para acender as velas.

— Não!

— Mas eu farei isso.

— Por favor... não.

Graham se mostrou inexorável ao ouvir o tom de súplica; ele pegou a tesoura da cesta de costura da sua mãe.

Villette (1853)Onde histórias criam vida. Descubra agora