Durante os primeiros dias da minha permanência em La Terrasse, Graham nunca se sentou perto de mim, nem em suas frequentes caminhadas pelo cômodo se aproximou do local onde eu me sentava, ou pareceu preocupado, ou mais sério que o habitual, mas eu pensava na Srta. Fanshawe e esperava que seu nome saísse dos lábios dele. Eu mantinha os ouvidos e a mente em prontidão perene para o doce tema; minha paciência recebeu ordens de estar permanentemente preparada para a luta, e minha simpatia, de manter sua cornucópia repleta e pronta para transbordar. Finalmente, e depois de uma breve luta interior, que eu testemunhei e respeitei, ele um dia começou a falar animadamente sobre o assunto, que foi introduzido de modo delicado; por assim dizer, anonimamente.
— Eu soube que sua amiga está passando as férias viajando?
"Amiga, de fato!", pensei comigo mesma: mas de nada serviria contradizê-lo; a vontade dele deveria ser feita; eu deveria aceitar a doce acusação: que ela fosse amiga. Mesmo assim, como um experimento, não pude deixar de perguntar a quem ele se referia.
Ele se sentara à minha mesa de trabalho; então se apossou de um novelo de linha, que passou a desenrolar, distraidamente.
— Ginevra... a Srta. Fanshawe... está acompanhando os Cholmondeleys em uma viagem ao sul da França?
— Sim, está.
— A senhorita e ela trocam cartas?
— O senhor se surpreenderá ao saber que eu nem uma vez pensei em solicitar esse privilégio.
— A senhorita viu cartas escritas por ela?
— Sim; várias, para o tio dela.
— A elas não devem faltar humor e naïveté; há tanto vigor, e tão poucos artifícios na alma dela.
— Ela escreve de modo bastante abrangente quando se dirige a M. de Bassompierre: a bom entendedor, meia palavra basta.
Na verdade, as cartas de Ginevra para seu parente rico eram normalmente documentos comerciais, pedidos evidentes de dinheiro.
— E a letra dela? Deve ser bonita, delicada, típica de uma mulher, devo supor?
Era, e assim eu o disse.
— Eu acredito piamente que tudo que ela faz é bem feito — disse o Dr. John; e como eu não parecia ter pressa para comentar essa sua observação, ele acrescentou — A senhorita, que a conhece, poderia citar um ponto em que ela apresente falhas?
— Ela faz várias coisas muito bem.
"Flertar, entre as demais", acrescentei, em pensamento.
— Quando a senhorita supõe que ela vá voltar para a cidade? — perguntou ele em seguida.
— Peço desculpas, Dr. John, devo me explicar. O senhor me honra em demasia ao me atribuir um grau de intimidade com a Srta. Fanshawe que eu não tenho a felicidade de desfrutar. Eu nunca fui confidente de seus planos e segredos. O senhor encontrará os amigos pessoais dela em um mundo diferente do meu: entre os Cholmondeleys, por exemplo.
Ele pensou mesmo que eu estava ferida com um tipo de ciúmes parecido com o dele!
— Perdoe-a — disse ele. — Julgue-a com brandura; o faiscar da moda a induz ao erro, mas ela logo perceberá que essas pessoas são vazias e voltará para junto da senhorita com um afeto ainda maior e uma confiança fortalecida. Eu conheço um pouco os Cholmondeley: pessoas superficiais, pretensiosas e egoístas; acredite nisso, no fundo, Ginevra estima muito mais a senhorita que um punhado de gente como eles.
— Muita gentileza sua — respondi, brevemente.
Uma negação dos sentimentos atribuídos a mim queimava em meus lábios, porém, eu extingui a chama. Eu me submeti a ser vista como a humilhada, desprezada, e agora sofredora confidente da distinta Srta. Fanshawe: mas, leitor, foi difícil me submeter a isso.