A primavera estava avançando, e o tempo repentinamente ficara quente. Essa mudança de temperatura me ocasionou, assim como provavelmente em tantas outras pessoas, um temporário declínio das forças. Nessa época, o mais leve esforço me deixava morta de cansaço; noites insones implicavam dias lânguidos.
Certa tarde de domingo, tendo caminhado cerca de dois quilômetros e meio até a igreja protestante, voltei fatigada e exausta; e, procurando refúgio no meu isolado santuário, a primeira classe, senti-me feliz por sentar e fazer da minha mesa um travesseiro para os braços e a cabeça.
Por algum tempo eu ouvi o sussurro das abelhas zumbindo no berceau, e observei, através da porta de vidro e da folhagem primaveril tenra e ligeiramente dispersa, Madame Beck e um alegre grupo de amigos, os quais ela havia recebido naquele dia para jantar depois da missa matutina, caminhando pela aleia central sob os ramos cobertos de flores naquela estação, e trazendo um colorido tão puro e cálido quanto o da neve nas montanhas ao pôr do sol.
Meu principal ponto de interesse em relação a esse grupo de convidados se concentrava, eu me lembro, em uma figura, a de uma bela menina, que eu havia visto anteriormente como visitante de Madame Beck, e a cujo respeito me haviam dito vagamente que era uma "filleule", ou afilhada, de M. Emanuel, e que entre a mãe dela, ou tia, ou alguma outra parenta, e o Professor, tinha havido antigamente uma amizade especial. M. Paul não fazia parte desse grupo naquele dia, mas eu havia visto essa menina com ele antes desse dia, e, tanto quanto uma observação distante me permitisse julgar, ela parecia apreciar a companhia dele com a naturalidade sincera de uma pupila com um guardião indulgente. Eu a havia visto correndo na direção dele, colocar o braço no dele, e se apoiar nele. Certa vez, quando ela fez isso, uma curiosa sensação se apoderara de mim; uma desagradável sensação antecipatória, pertencente à família dos pressentimentos, eu suponho; mas me recusei a analisá-la ou a ficar pensando nela. E enquanto observava essa menina, cujo nome era Mademoiselle Sauveur, seguindo o brilho do seu luminoso vestido de seda (ela sempre estava muito bem-vestida, pois diziam que era rica) através das flores e das folhas brilhantes de um suave tom de esmeralda, meus olhos ficaram turvos; eles se cerraram; minha lassidão, o calor do dia, o zumbido das abelhas, tudo isso me embalou, e finalmente adormeci.
Duas horas se passaram sem eu perceber. Antes que eu acordasse, o sol se encontrava fora do alcance da minha vista atrás das casas altas, o jardim e a sala estavam na penumbra, as abelhas haviam partido, e as flores estavam se fechando: o grupo de convidados também havia desaparecido; todas as aleias estavam vazias.
Ao acordar, eu me senti muito bem e não enregelada, como deveria ter me sentido depois de ficar sentada, parada, por pelo menos duas horas; minha face e meus braços não estavam adormecidos devido à pressão contra a mesa dura. Não era de se espantar. Em vez da madeira nua sobre a qual eu os pousara, descobri um xale grosso, cuidadosamente dobrado, servindo de suporte, e outro xale (ambos apanhados no corredor, onde tais peças ficavam penduradas) cuidadosamente colocado ao redor do meu corpo.
Quem fizera isso? Quem era minha amiga? Qual das professoras? Qual das alunas? Nenhuma, com exceção da St. Pierre, era minha inimiga; mas qual delas tinha o engenho, a ideia, o hábito de favorecer com tanta ternura? Qual delas tinha os passos tão silenciosos, as mãos tão gentis, para que eu não a tivesse escutado ou sentido, se ela se aproximasse de mim ou me tocasse durante um sono diurno?
Quanto a Ginevra Fanshawe, a bela e jovem criatura não era de modo algum gentil, e certamente me empurraria da cadeira se tivesse interferido. Finalmente, eu disse: "Isso é do feitio de Madame Beck; ela entrou, me viu adormecida, e achou que eu poderia me resfriar. Ela me considera uma máquina útil, que atende aos propósitos para os quais foi empregada; então não iria querer que eu ficasse doente sem a menor necessidade. E agora", pensei comigo mesma, "vou dar uma volta; o anoitecer está ameno e não muito frio".