XL. O casal feliz

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 O dia que sucedeu a essa notável noite de verão demonstrou não ser um dia comum. Não quero dizer que ele foi portador de sinais lá no alto dos céus, ou de prodígios na terra; tampouco aludo a fenômenos meteorológicos, tempestades, enchentes ou ventanias. Pelo contrário: o sol nasceu alegre, com uma face estival. A manhã adornou sua beleza com rubis, e encheu tanto seu regaço de rosas, que elas caíam dele em grandes quantidades, fazendo seu percurso enrubescer: as Horas despertaram frescas como ninfas e, despejando sobre as montanhas seus frascos de orvalho, se apresentaram sem vapores; sem sombras, azuis e gloriosas, elas conduziram os cavalos que levam a carruagem do sol em uma trilha flamejante e sem nuvens.

Resumindo, era um dia tão belo quanto aqueles de que o melhor verão poderia se vangloriar; mas eu fico pensando se eu não seria a única habitante da Rue Fossette que se importava com esse fato agradável ou se dava ao trabalho de notá-lo. Outro pensamento ocupava todas as outras cabeças; um pensamento, na verdade, que teve sua parte em minhas meditações; mas essa grande reflexão, não sendo para mim uma novidade tão grande, nem sendo tão assombrosamente repentina nem um mistério especialmente denso, como era para a maioria das minhas coespeculadoras, deixou-me um pouco mais livre que as outras para quaisquer observações ou impressões colaterais.

Mesmo assim, enquanto caminhava pelo jardim, sentindo a luz do sol e observando as plantas que cresciam e floresciam, refleti sobre o mesmo tema que toda a casa discutia.

Qual tema?

Simplesmente o seguinte: quando chegou a hora das orações matutinas, havia um lugar vago na primeira fila das alunas internas. Quando o café da manhã foi servido, uma xícara ficou sem ser solicitada. Quando a camareira arrumou as camas, ela encontrou em uma delas um travesseiro colocado de comprido, vestido com uma touca e uma camisola; e quando a professora de Ginevra Fanshawe chegou cedo, como sempre, para dar a aula matutina, aquela talentosa e promissora jovem, sua aluna, se mostrou totalmente incapaz de aparecer.

De alto a baixo foi a Srta. Fanshawe procurada; de uma ponta a outra a casa foi revirada, em vão; nem um traço, nem uma indicação nem ao menos um pedaço de um billet recompensou a busca; a ninfa desaparecera, engolida pela noite passada, como uma estrela cadente engolida pela escuridão.

Profunda foi a consternação da professora surveillante, mais profundo o horror da diretora culposa. Nunca eu vira Madame Beck tão pálida ou tão amedrontada. Eis um golpe dado em sua parte mais sensível, seu lado fraco; eis um prejuízo causado aos interesses dela. Como havia o desagradável fato acontecido? Por qual passagem a fugitiva tinha escapado? Nem um postigo foi encontrado aberto; nem um vidro estava quebrado; todas as portas estavam seguramente trancadas. Nunca, até o dia de hoje, Madame Beck teve uma resposta satisfatória a esse respeito; na verdade, nenhuma outra pessoa envolvida, a não ser uma, Lucy Snowe, que não podia esquecer como, para facilitar certo empreendimento, certa grande porta havia sido silenciosamente puxada até seus batentes; fechada, na verdade, mas nem trancada nem aferrolhada. O encontro com a ruidosa carruagem puxada por dois cavalos foi então igualmente recordado, bem como aquele sinal desconcertante, o lenço agitado.

A partir desses pressupostos, e mais um ou dois, inacessíveis para qualquer pessoa a não ser para mim, eu consegui tirar só uma conclusão. Era um caso de fuga. Moralmente certa da minha ideia, e vendo o profundo constrangimento de Madame Beck, eu finalmente manifestei minha convicção. Tendo mencionado a corte de M. de Hamal, descobri, como era esperado, que Madame Beck estava completamente au fait da questão. Ela o havia discutido por muito tempo com a Sra. Cholmondeley, e colocado sua própria responsabilidade nesse caso nos ombros dessa senhora. À Sra. Cholmondeley e a M. de Bassompierre ela então recorreu.

Nós descobrimos que o Hôtel Crécy já estava a par do que havia acontecido. Ginevra havia escrito para sua prima Paulina, falando vagamente de intenções matrimoniais; mensagens haviam sido recebidas da família de M. de Hamal; M. de Bassompierre estava atrás dos fugitivos. Ele os alcançou tarde demais.

Villette (1853)Onde histórias criam vida. Descubra agora