26 - O SEGREDO DA LUA - PARTE 1

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Boa leitura!

*****

Gritei até meu fôlego sumir. Gritei até meus pulmões arderem e minha garganta se fechar. Nem percebi quando Romeu voltou para perto de mim, dando as costas para o lugar onde Ian estava um segundo atrás e agora não estava mais. Era um engano, um terrível engano, só podia ser. Talvez um efeito especial, um boneco, um holograma.

Não era real. Não podia ser.

Minha mente ficou presa naquele momento. Aquele segundo devastador em que os pés de Ian escorregaram na borda do prédio, seus braços se agitaram no ar. Seus olhos me olharam com um olhar que era ao mesmo tempo de desespero, desculpas e adeus. E então ele caiu. Num segundo ele estava lá. No outro não estava.

Alguma coisa se partiu dentro de mim naquele exato momento, como se um pedaço da minha alma, o pedaço que pertencia a Ian, tivesse se atirado do prédio atrás dele, sabendo que morrer com ele era preferível a continuar vivendo em um mundo onde Ian não existia mais.

Fechei os olhos enquanto gritava, as lágrimas correndo por meu rosto, mas a visão de Ian caindo do alto do prédio se repetia em um loop dentro das minhas pálpebras. Queria arrancar meus olhos para não ver aquela cena. Queria... Meu Deus.

Deus.

Deus!

Ian.

Mesmo que eu arrancasse meus olhos, sabia que eu continuaria vendo aquela cena até o momento da minha própria morte. Eu veria aquele momento, teria pesadelos com ele e acordaria gritando para viver o pesadelo da vida real sem Ian.

Um buraco pareceu se abrir sob mim. Um buraco negro, cheio de trevas, escuridão e tristeza. Gavinhas negras subiam por meus pés, minhas pernas, me sugando para aquela escuridão desoladora.

Eu não sabia mais se eu gritava, se eu chorava, se eu me debatia tentando me soltar de Rogério e correr e pular daquele prédio atrás de Ian ou se eu fazia todas essas coisas ao mesmo tempo. Talvez eu pudesse correr e pular e segurá-lo antes que ele caísse, talvez eu pudesse...

Cada célula em meu corpo parecia gritar em agonia. Contemplar aquele mundo, um mundo no qual Ian não existia... A lua no céu parecia compreender meu sofrimento. As estrelas pareciam brilhar solidárias às minhas lágrimas. O céu negro tinha exatamente a mesma cor dos olhos de Ian.

Ian.

Ian!

Eu mal percebi quando Romeu Vidal aproximou-se de mim e arrancou o pen drive das minhas mãos. Rogério finalmente soltou meus cabelos e eu desabei no chão. Minhas forças pareciam escoar de mim como se a queda de Ian tivesse aberto um ralo em meus pés e agora tudo o que eu era estava esvaindo-se por aquele ralo.

Romeu pegou meu rosto com sua mão, afundando as garras em minhas bochechas e me forçou a encará-lo.

- Você não achou que ganharia esse jogo, ganharia? – Romeu disse, um sorriso desenhado com um bisturi estampado no rosto. Sua voz parecia vir de muito longe, de outro mundo. Aos poucos, seu rosto foi entrando em foco em minha visão.

Ian estava morto.

Romeu tinha empurrado ele do prédio. Tentei não pensar em Ian encontrando o seu fim no chão lá embaixo. Era uma visão perturbadora demais, e se eu sequer tentasse imaginá-la, sabia que aquilo me destruiria de maneiras que eu nem imaginava ser possível.

Nosso plano... Ah, eu vingaria Ian. Com certeza eu o vingaria.

Nosso plano já estava em ação e era tarde demais para voltar atrás.

O Segredo da LuaOnde histórias criam vida. Descubra agora