24 - LEALDADE

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Feliz Natal atrasado ❤️ Comenta o que tá achando, deixa seu voto... e boa leitura para vocês.

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Não consegui pensar muito bem no que aquela informação queria dizer. O acidente que havia me levado até o orfanato e o acidente envolvendo a família de Ian tinham acontecido no mesmo horário. Qual a chance de ser o mesmo acidente? Eu podia ser o Ben? Aquele Ben?

Henriqueta podia ser a minha mãe?

Eu não sabia como processar aquela informação. Isso mudava tudo. Mudava toda a minha vida.

Fui em silêncio durante todo o caminho de volta. Havíamos passado por outro lugar específico antes de virmos para casa, e eu sentia que toda aquela merda estava bastante próxima de ter um fim.

Quando Ian estacionou na porta de sua casa, desci da moto ainda sem rumo e fui abrir o portão para ele guardá-la.

- Ben, se isso for verdade... – Ian disse, e me virei para ele. – Você sabe que isso não muda quem você é, não sabe?

- Eu... Não sei. Precisamos descobrir. Como...

- Você tem a foto aí, não tem?

Fiz que sim com a cabeça.

- Quem melhor que uma mãe para reconhecer o filho? – Ian questionou.

- Você acha que... A Henriqueta pode ver essa foto e me reconhecer?

- Claro. Eu não me lembro do rosto do meu amigo Ben, foi há tantos anos. Mas se tem alguém que se lembra, é ela. Ela deve ter fotos também.

- É verdade! – Exclamei, de súbito. – Podemos comparar as fotos, tirar essa história a limpo.

Por tirar essa história a limpo, eu queria dizer: ver que isso não passa de um grande delírio coletivo. Medo que era como gelo estava se infiltrando em minhas veias. Se eu descobrisse que aquela era de fato a verdade, que eu era o filho tecnicamente morto de Henriqueta... Queria dizer que eu tinha uma mãe. Uma mãe de verdade. E ela estava viva. Isso mudaria completamente a minha vida. E era uma mudança que me assustava.

Abri o portão e Ian entrou com a moto. Combinamos de não falar nada com ninguém até eu ter a chance de falar com Henriqueta. Ian foi até a mãe e insistiu para que ela chamasse a amiga para o jantar aquela noite.

- Mas ela esteve aqui ontem, por que...

- Mãe, por favor. Apenas chame.

O olhar de Ian foi o bastante para convencer a mãe. Eu sabia que não podia falar nada que pudesse suscitar suspeitas para Henriqueta. Eu conhecia bem o quanto era difícil cultivar uma falsa esperança. Não podia fazer aquilo com Henriqueta. Como eu faria aquilo? Eu não tinha ideia alguma. Talvez simplesmente chegasse e esfregasse a foto da minha infância no rosto dela e esperasse alguma reação.

Tentei não deixar muito óbvio que alguma coisa tinha mudado naquela visita ao orfanato, mas o modo como eu estava inquieto e ansioso entregava que algo estava diferente em mim. Helena me sondou durante um bom tempo, mas consegui manter a boca fechada.

Almoçamos e Ian aprontou-se para ir trabalhar. Pouco após o meio-dia, ele recebeu uma ligação de Romeu Vidal pedindo para que ele se apressasse, dizendo que ele tinha um serviço naquele dia que requereria uma atenção especial dele.

Ian foi trabalhar mais cedo aquele dia. Ele se despediu de mim com um beijo, mas eu estava tão ansioso que o puxei para um abraço. Algo se agitava dentro de mim, uma sensação estranha, um medo estranho me subindo pelo estômago... Quase como se fosse um agouro, um mal presságio. O abracei forte, segurando-o contra mim, não me importando que seu padrasto estivesse na sala a poucos metros de nós.

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