Capítulo 1

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                Laís estava sentada comodamente em uma das muitas caixas espalhadas pela sala. Eram sete horas da manhã e o caminhão de mudanças logo chegaria para levar as coisas. Tudo aquilo era muito chato.

                Por conta de um cargo novo, o pai de Laís havia sido transferido para outro estado. Tudo acontecera muito de repente. De uma hora para outra, o antigo apartamento que Laís vivia desde bebê já fazia parte do passado. A vizinhança, os amigos, a escola, tudo seria deixado para trás em pouco tempo. Havia a possibilidade de o pai ir sozinho, mas a mãe não quis ficar longe do marido. E tampouco ela e a irmã mais velha, Renata. Apesar de toda a família estar empolgada com a nova vida, Laís era a mais triste. Tinha bons amigos, um namoradinho escondido. Tudo ficaria para trás.

                Mas o pior de tudo era enfrentar uma nova escola e um monte de gente desconhecida. Laís não se sentia nem um pouco preparada para aquele desafio. E era só o começo. Ela espichou os olhos pela janela. Um grande caminhão acabara de estacionar lá embaixo. Renata saiu gritando pelo apartamento vazio:

− Mãe, pai! O caminhão chegou!

                Laís suspirou. No fundo do seu coração ainda tinha uma esperança que na última hora seu pai desistisse de tudo. Mas não. Logo os homens que fariam a mudança estavam dentro do apartamento e Laís se viu obrigada a levantar da caixa para não atrapalhar os movimentos deles. “Droga”, suspirou ela se sentindo sem chão. Queria estar feliz, esboçar um sorriso, entrar naquela onda de alegria que envolvia a família. Para que ninguém a visse derramar lágrimas, Laís decidiu descer e ir embora dali de uma vez por todas. Afinal, não tinha mais nada a fazer.

*

                Quando eles se instalaram na nova cidade, tudo era empolgação e novidade. Era mês de março, as aulas já haviam começado e Laís não sentia a menor vontade de conhecer a nova escola. Renata não cabia em si de curiosidade. Ela estava um ano na frente de Laís e faria vestibular no final do ano.

                O apartamento para o qual eles se mudaram era bem mais moderno que o anterior. Se localizava em um bairro nobre e arborizado, em um prédio com porteiro, jardim, salão de festas e piscina. Laís fez questão de arrumar seu quarto rápido, sem ajuda de ninguém. Enquanto a casa ainda estava uma bagunça, Laís já estava instalada e acomodada. Dois dias antes de voltar a estudar na escola particular que a mãe havia matriculado as filhas, todas suas coisas já estavam prontas. A mochila arrumada, com cadernos, agenda e livros. Era só esperar a segunda-feira chegar e iniciar uma nova etapa da sua vida. Pelo menos teria a companhia de Renata, caso sobrasse na hora do intervalo. Sem dúvida, a pior parte quando se chega a uma nova escola e não há ninguém conhecido para conversar.

                Na noite anterior Laís tinha custado a dormir. O sono veio só pelas duas horas da manhã e ela despertou assustada quando o celular tocou às 6:20. Ela levantou tão rápido que ficou ligeiramente tonta. Puxa, não podia adoecer justo no primeiro dia de aula. Renata entrou de supetão no quarto da irmã, já vestida, com gloss nos lábios e maquiagem nos olhos. Certamente faria sucesso entre os rapazes, pensou Laís com um pouco de inveja. A irmã sempre era o destaque onde quer que estivesse.

− Ei, não vai levantar? Mamãe já está chamando.

− O celular mal despertou – reclamou Laís se espreguiçando e sentindo um frio na barriga.

− Venha de uma vez. Papai vai nos dar uma carona.

                Ai, meu Deus, gemeu ela. Chegar acompanhada do pai no primeiro dia de aula era um mico daqueles. Laís se vestiu rápido, com bem menos glamour que a irmã. Tomou o leite empurrando garganta abaixo. Não sentia fome nenhuma. E também não via a hora que aquele dia horrível passasse de uma vez. Talvez no outro dia as coisas já ficassem mais fáceis.

AMOR ENTRE GAROTASOnde histórias criam vida. Descubra agora