Capítulo 42

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Pontualmente às três horas da tarde Laís chegou ao condomínio de alto padrão de Marcela. O porteiro, depois de confirmar que ela podia subir, abriu a porta para que a garota entrasse. Menos de cinco minutos depois o elevador deixou Laís no andar de Marcela. Quando a empregada abriu a porta, a garota se surpreendeu. Não esperava que houvesse outra pessoa em casa. Aliás, Marcela pouco se referia a sua família. Era como se eles não existissem ou pouco participassem da sua vida.

− A Marcela está no quarto – disse a moça muito polida. – Você pode ir lá.

− Obrigada – respondeu Laís tímida.

A porta do quarto estava entreaberta e ela entrou devagarinho. Marcela estava sentada de costas para ela, navegando pelo Facebook.

Um arrepio percorreu a espinha de Laís. Havia algo de estranho no ar.

− Oi, amor – Laís disse baixinho, fechando a porta atrás de si.

Laís não chegou a dar dois passos. Marcela se virou rapidamente na cadeira giratória, trazendo no rosto uma expressão bem carregada.

− O que foi? – Laís sentiu as pernas bambas. O que viria pela frente, meu Deus?

− Você pode me dizer o que significa isto?

O dedo indicador de Marcela apontava justo para o perfil de Laís no Facebook. Esta se aproximou lentamente para ver o que tanto provocava o nervosismo da namorada. Marcela havia acabado de descobrir que Laís era amiga de André na rede social.

− O que é, Marcela? – ela se fez de desentendida. – Esta é minha lista de amigos e eu...

− E você pare de se fazer de besta. Quer dizer que este idiota é seu amiguinho no Face?

Laís engoliu em seco. Tinha esquecido que um dia Marcela poderia descobrir aquele fato muito facilmente.

− Sim. Qual é o problema?

− Qual é o problema? – Marcela deu um salto e parou em frente a Laís. – Ele flerta com você na minha frente e de repente se torna seu novo amiguinho! Partiu de quem? Desde quando?

Para variar, Marcela já estava aos berros. Laís começou a tremer e se odiou por isto.

− Partiu dele.

− Desde quando?

− Ontem à noite, só fui ver depois do jantar.

− E por que não recusou?

− Porque eu não quis.

Tomada pela raiva e pelo ciúme, Marcela empurrou Laís com força. Desequilibrada, a garota caiu sobre a cama, soltando um grito agudo, chocada.

− Você vai excluir o cara agora!

− Não vou! – devolveu Laís com a voz trêmula e lágrimas nos olhos. – Ele é somente mais um!

− Não é! Claro que não é! Vai! – Marcela a puxou pelo braço tentando fazer com que Laís ficasse em pé. – Exclua o André agora!

A porta do quarto se abriu de repente. Uma mulher alta, cabelos pretos e presos em um coque, aparência sofisticada, encarou as duas garotas em silêncio. Depois perguntou muito calmamente:

− Algum problema?

− Oi, mãe – respondeu Marcela constrangida, soltando o braço de Laís. – Está tudo bem aqui.

A mulher olhou para Laís.

− Quem é esta moça?

− É a Laís. Eu... Laís, esta é minha mãe.

Ainda com o braço dolorido e tentado disfarçar as lágrimas, Laís cumprimentou:

− Boa tarde. Bem... já estou de saída.

Laís passou reto e rápida por Marcela e a mãe dela. Atravessou o apartamento correndo, alcançou a porta já escutando os passos da namorada atrás de si. Laís desistiu de esperar pelo elevador e se precipitou escadas abaixo. Queria desaparecer o mais depressa possível daquele lugar. Marcela mais uma vez a magoara, tanto emocionalmente como fisicamente. Era melhor fugir a terem uma briga imensa.

− Laís!!!

Marcela já estava descendo as escadas também. Laís gritou chorando:

− Me deixe em paz! Volte para sua casa!

− Por favor, me espera!

O tom de voz de Marcela agora já era outro. Era um misto de medo e arrependimento. Laís, na pressa, errou um passo na descida das escadas e acabou se estatelando no chão, rolando dois degraus. Quando Marcela finalmente a alcançou, Laís estava sentada no piso frio massageando o pulso.

− Você se machucou? – perguntou Marcela se agachando, mostrando preocupação.

− Não.

Laís evitou olhar para ela. Porém, Marcela levantou o queixo de Laís e os olhos de ambas se encontraram.

− Desculpe, meu amor.

− Você vive me pedindo desculpas e depois repete os mesmos erros – acusou Laís tentando se levantar sem ajuda de Marcela. – Quando você vai aprender a não se comportar assim?

− Mas como você queria que eu ficasse? – tentou se defender ela. – O cara flerta com você na minha cara e de repente aparece seu amigo no Face! Quer que eu aplauda?

− Ele só pediu para ser adicionado! Nem conversamos!

− Não deu tempo ainda.

Suspirando, Laís disse:

− Marcela, todo mundo sabe que somos namoradas. Ele não vai falar comigo. E se isto acontecer, eu nem vou dar bola.

Mentira.

− Não vai mesmo? – Marcela perguntou com a voz mais suave.

− Claro que não. Como você pode pensar isto de mim?

Marcela puxou Laís para perto e a abraçou.

− Você é tão bonita, tão doce... Tenho medo que alguém leve você de mim.

Laís tentou relaxar e envolveu Marcela com seus braços. Ela gostava da namorada, mas também a temia. Marcela era uma bomba relógio explodindo a todo instante. E o pior: cada dia se tornava mais violenta.

− Venha, vamos estudar. Não quero levar isto adiante.

− Nem eu – murmurou Laís.

Demãos dadas as duas namoradas subiram de volta ao apartamento, agora completamente em paz.    


AMOR ENTRE GAROTASOnde histórias criam vida. Descubra agora