Capítulo 38

196 14 2
                                    

− O quê? - berrou Marcela. - Diga a eles que você já combinou de passar o dia co-mi-go!

Fabiano e Laís ficaram mudos. Ambos estavam na cozinha da casa do rapaz, com os livros, blocos de anotações e um notebook sobre a mesa. O trabalho ainda não havia começado. E talvez nem iniciasse.

− Não vou desobedecer meus pais, meu amor - disse Laís com a voz um pouco trêmula. - Vai ser pior para nós duas.

− Você quer dizer que será pior para mim. Depois que combinamos tudo o que iríamos fazer no domingo, você vem aqui e me diz que todos os planos foram mudados? Quer que eu fique como? Feliz? Sorrindo?

Fabiano segurou a mão da amiga e tentou argumentar:

− Marcelinha, querida. Não piore as coisas. Você sabe que a Lalá adoraria passar o domingo inteiro ao seu lado. Ou melhor, o final de semana inteiro. Não adianta você esbravejar com a coitadinha. Se não gostou, reclame com os pais dela.

Marcela ficou muda. Tomou um gole de refrigerante.

− Tudo bem. Sei o meu lugar.

− Marcela, não é bem assim - retrucou Laís.

− Claro que é. Da outra vez seus pais inventaram uma festa e você não pôde dormir lá em casa. Agora eles querem sequestrá-la para que não possa ficar comigo no dia do seu aniversário. Afinal, quem está de aniversário? Você ou eles?

− Não complique as coisas, Marcela - Laís realmente já estava de saco cheio daquela ladainha. - Eu vim aqui para fazer o trabalho de história e não para discutir. Sou voto vencido naquela casa. E se você não parar de falar sobre o assunto, eu vou embora e faço o trabalho sozinha.

− Para tudo - pediu Fabiano ficando em pé. - Minha casa não é um ringue. Gurias, vocês precisam comer um doce para se acalmarem.

Ele foi até a geladeira e pegou um bolo de chocolate com recheio de doce de leite.

− Eu fiz para vocês, mas minha intenção era comer mais tarde. Não faz mal. Podem comer agora até se empanturrarem. Só calem a boca, por favor.

Mais tarde, já ao anoitecer, Marcela levou Laís até em casa de bicicleta. Ao deixar a namorada na frente do prédio, ela confessou:

− Queria tanto passar seu aniversário com você...

Marcela realmente parecia estar sentida. Os olhos tristes dela mexeram com o coração mole de Laís.

− Marcela, eu adoraria levar você...

− Tudo bem. Eu fiz por merecer. Seus pais me odeiam com razão.

− Eles não odeiam você. É o seu comportamento que causou tudo isto.

A garota fechou os olhos por alguns instantes como se estivesse tendo uma inspiração. Quando os abriu novamente, disse:

− Prometo que vou mudar, Laís. E vou mostrar aos seus pais que não sou o monstro que eles pensam que eu sou.

Laís sorriu. Estava aliviada. Seria bom demais que aquilo acontecesse.

− Promete mesmo?

− Claro. A partir de agora vou me transformar em outra mulher.

Animada com a declaração da namorada, Laís a puxou para mais perto e a beijou. Ela perdeu a conta de quanto tempo ficaram aos beijos. Até que de repente escutou a voz do pai.

− Vai subir agora, minha filha?

Marcela e Laís levaram um susto. Walter estava no portão, segurando a pasta e as observando com cara de poucos amigos. Sem jeito, Marcela se despediu.

− Tchau, Laís. Amanhã eu passo aqui.

− Certo - respondeu ela, tentando não ficar vermelha.

Montando na bicicleta, Marcela saiu em disparada. Já Laís foi em direção ao pai pressentindo que levaria um sermão. O porteiro os cumprimentou com um sorriso debochado no rosto. Walter ficou mudo até entrarem no elevador.

− Não quero mais saber de agarramento aqui na frente do prédio. Pega muito mal você ficar se agarrando com outra mulher bem na frente da vizinhança.

− Estou pouco me lixando. Era só um beijo. Pior seria se eu estivesse brigando com ela.

− Para sua informação saiba que se você responder outra vez com ironias, será despachada de volta para o Rio de Janeiro para ir morar com a sua avó.

Cruzes.Laís chegou a se arrepiar. Dali para frente ela não falou mais nada. Nem mesmodurante o jantar quando foi comunicada que passariam o final de semana fora, naserra. Ainda assim se sentia feliz. Acreditara na promessa de Marcela que iriamudar o comportamento. Finalmente ela caíra em si.


AMOR ENTRE GAROTASOnde histórias criam vida. Descubra agora