Capítulo 19

353 20 0
                                    

Naquela noite Laís e Renata não conversaram mais. Sequer se olharam. Os pais perceberam que algo havia acontecido, mas decidiram ficar quietos. Mais cedo ou mais tarde ambas resolveriam suas diferenças.

No entanto a bomba explodiu no dia seguinte, durante o café da manhã. De ótimo humor, Walter anunciou:

− Garotas, hoje estou com mais tempo. Querem uma carona?

− Sim, pai - concordou Renata, olhando de soslaio para a irmã.

Por sua vez, Laís disse:

− Obrigada, pai. Mas eu vou com a Marcela.

Sandra comentou um pouco irônica:

− Não sabia que Marcela tem carro.

− Ah, ela não tem - respondeu Laís calmamente comendo um pedaço de pão. - Nós vamos a pé.

− Bem... − Walter ainda insistiu. - Vocês não querem um carona? Ainda não conheço esta sua amiga.

− Preferimos ir caminhando, pai. Assim teremos mais tempo para nos curtir.

A mesa ficou em silêncio. Renata teve vontade de se esconder embaixo da mesa quando se deparou com os olhos surpresos dos pais. Sandra foi a primeira a se manifestar:

− Como assim? Não entendi o que você quis dizer. Curtir?

− Mãe, pai - e Laís encarou a ambos. - Estamos namorando.

Walter tentou manter a serenidade, ainda que o café da manhã quase estivesse lhe engasgando.

− Namorando quem?

− Marcela. Eu e a Marcela estamos namorando.

− Desde quando? - Sandra indagou voltando-se para a filha, brusca

− Oficialmente desde ontem.

Silêncio. Sandra fez menção de falar alguma coisa, mas Walter fez um sinal para que ela silenciasse. O restante da refeição foi feito com todos calados. Laís se sentia aliviada por já ter contado tudo. Quanto mais demorasse para revelar o relacionamento, pior seria. Agora, no entanto, tudo estava resolvido. Ela se levantou para ir ao banheiro, escovou os dentes, passou um pente nos cabelos e ajeitou a roupa. O interfone tocou. Laís correu para atender sob o olhar atento da família.

− Quem é? Ok, já estou descendo.

Pegando a mochila e com um sorriso nos lábios, Laís se despediu de todos já correndo em direção à porta:

− Tchau, gente!

− Ei, espero você para almoçar em casa hoje! - alertou Sandra sentindo-se muito desconfortável com aquela situação.

Laís nem respondeu. A porta bateu com força, deixando Renata, Walter e Sandra se encarando surpresos.

− Como é esta tal de Marcela, minha filha? - perguntou Walter curioso, mas também descontente.

− Bem, pai - Renata tentou escolher as melhores palavras possíveis para não chocar nenhum dos dois. - Ela é uma criatura esquisita. Não é nada feminina. E também não tem um comportamento bom.

− Claro que não tem! - exclamou Sandra empurrando a xícara para o lado sem fome nenhuma. - Esta delinquente acertou uma voadora em um colega semana passada e pegou dias de suspensão. Mas eu não imaginava que o relacionamento delas era amoroso!

− Vamos ter calma, meninas - ponderou Walter. - Pode ser fogo de palha. Depois esta empolgação passa.

Renata encarou o pai e disse:

− Não sei se passará tão cedo. Laís está impressionada com a Marcela desde o primeiro dia de aula. E digo mais. Me contaram que esta garota é meio maluca. Há uns dois anos ela teve uma namoradinha também. Quando a outra não quis mais nada com ela, Marcela fez um barraco. Foi muito chato. A ex-namorada teve que trocar de escola.

Sandra ficou pálida.

− E agora, Walter? O que vamos fazer?

Nem ele sabia o que dizer.

− Vamos ver como as coisas ficam. Se for o caso, vamos intervir.

− Desde já aviso que sou contra este namoro. Não apenas por Laís estar namorando uma garota, mas por ser uma desajustada conforme Renata falou. Estou preocupada. Muito preocupada.

− Calma, mãe. Como disse o papai, vamos dar tempo ao tempo. Vai que a coisa não fica tão ruim assim?

AMOR ENTRE GAROTASOnde histórias criam vida. Descubra agora