Dois meses haviam se passado.
Harry não encontrou Floren nenhum desses dias. Não a encontrou por sessenta e um dias. Também não foi ao café por sessenta e um dias. Nem a floricultura. Nem ao restaurante. Ele se trancou em casa e esperou que o tempo -e sua psicologia- o ajudassem a se curar.
Sim. Edward estava doente. Para uma pessoa entrar num relacionamento, ela precisa se sentir bem com ela mesma. Harry não estava bem consigo. Nem com as consequências que seus atos tomariam caso ele agisse.
Gracie, sua psicóloga, o ajudou por todos os sessenta e um dias que Harry ficou trancafiado em casa. Ajudou a entender que, mesmo não sabendo sobre o amor, não é errado amar. Muito menos desejar conhecê-lo ou desejar tê-lo.
As sessões eram por videochamada, a melhor maneira que os dois acharam. Gracie achou melhor não querer invadir a privacidade de seu paciente, e Harry só achou melhor porque não queria que ninguém incomodasse seus gatos -estes que estavam felizes por seu dono passar tempo o suficiente em casa, mas sem entender por que, as vezes, ele chorava baixinho.
Gracie foi fundamental no desenvolvimento de Edward. A mulher sabia como deixá-lo sem palavras, apenas perguntando o porquê de achar que não conhece o amor, sendo que em todas palavras que saem de sua boca, a maioria é 'amar'.
O querer tem pressa, acontece assim mesmo sem adiar, na hora certa, exata. Quem te quer, quer te ver agora, procura por você hoje, não amanhã. Independentemente da distância ou do horário que for, quem quer não deixa para depois as coisas que podem ser feitas hoje.
Quem deseja ficar, simplesmente fica, sem ser necessário pedir, sem ser necessário implorar. Quem quer cuidar, cuida verdadeiramente com amor. Quem quer, não suporta ficar longe, não suporta saudade e não vai poupar esforços para te ver e te ter. Quem sente vontade transforma distância em abraço apertado, faz de dias chuvosos dias ensolarados.
Quem quer é capaz de tudo, de correr na chuva só para te ver, de se atrasar para um compromisso importante porque você ainda não terminou de se arrumar. Quem quer não vai pensar duas vezes entre te ver agora ou deixar para amanhã, não vive de conversa furada, não arruma desculpas para justificar a ausência.
Quem tem saudade da sua voz, vai te ligar de madrugada. Quem tem necessidade de estar com você, vai te procurar para conversar e perguntar como foi o seu dia, vai saber a melhor hora de mandar uma mensagem ou ligar, vai se lembrar de levar aquela sua comida preferida para te alegrar nos dias ruins.
Quem quer, vai te dar a vida e te ensinar que quando existe amor, nós queremos mais do que alguém para preencher o espaço do final de semana, queremos alguém para preencher o vazio do coração. Quando a gente quer, a gente aprende com o outro, a gente soma, abriga e se torna abrigo de mundos diferentes e tão iguais. Quem quer vai se abrir com você, sem medo. Quem quer vai se divertir com você, segurar a sua mão e não soltar. Quem quer vai permanecer na sua vida, não vai pensar em sair. Porque a sua presença vicia. Quem quer ficar vai tomar café da manhã e ficar para o jantar. Vai te deixar descobrir cada detalhe do seu corpo e da sua personalidade, conhecer os seus medos, os seus segredos, os seus erros, os seus defeitos e as suas qualidades.
Vai te dizer mil coisas no silêncio, só com o olhar. E vai se despedir sem tirar nenhum pedaço de ti, te deixando com aquela sensação de liberdade e ao mesmo tempo de vontade de viver mais ao lado da pessoa. Quem te quer, repete a dose, toma o seu sabor, experimenta as suas aventuras, porque quem quer, faz acontecer.
Harry queria fazer acontecer, queria contar a Louis que estava pronto para amar.
Louis.
Ele não o vê desde o dia do passeio a cidade subterrânea. Nunca mais se cruzaram nas calçadas de Cagliari, mas era possível perceber que nenhum dos dois haviam saído de casa desde que a última chance aconteceu.
Harry sente saudade de apoiar a cabeça no ombro de William. Sente saudade de ir a praia e ficar deitado na areia enquanto olham as nuvens, ou até mesmo de apoiar a cabeça no peitoral de Louis, apenas para sentir seu coração.
Mas ele não sabe onde Louis está.
Após ficar se perguntando se devia ou não tomar tal atitude, Harry pega seus gatos no colo e resolve fazer o que achou de melhor.
-Bebês, vocês acham que o papai deve correr atrás do homem que estava aqui dois meses atrás? Acham que devo me abrir para ele, contar sobre meu medos e inseguranças e apostar na chance de ser feliz?
Gatos não falam, e Harry achou isso uma palhaçada, porque ele realmente precisava de ajuda agora. Não tinha amigos na cidade para pedir conselho, mas tinha Donna Floren.
Se levantou rapidamente -ao lembrar do horário- o que fez com que sua vista escurecesse, mas apenas saiu andando em direção ao guarda-roupas. Pegou uma calça branca e uma blusa azul marinho, calçou um all-star azul claro com A Noite Estrelada de Van Gogh pintada, e passou seu melhor perfume.
Após se olhar no espelho e ver que estava bonito -não o suficiente- mas apenas o básico, deu um beijo em seus gatos e saiu correndo pela porta de entrada, quase escorregando na escada e quase trombando com um feirante que passava pela rua.
Harry quase esquecerá que havia reservado uma mesa -apenas para ele- no restaurante ao lado de sua casa. Depois de um mês comendo comida congelada e as vezes algo de alguns restaurantes da cidade, ele merecia algo bom e saboroso o suficiente.
Ao chegar na porta do La Vie In Rose, foi recepcionado por Tina, que o levou até sua mesa e elogiou seu novo corte de cabelo e seus tenis. Eles eram amigos, não muito próximos, mas também não muito desconhecidos.
Tina trouxe um cardápio e o deixou na mesa, desejou uma boa refeição e se despediu. Harry gostava dela, gostaria que pudessem sair qualquer dia desses para andar e comprar artefatos nas lojinhas da cidade.
Após escolher seu almoço -risoto de cogumelos com salsinha e cebolinha picada sobre e um pouco mais de parmesão- Edward chama a garçonete. Desta vez, quem o atende é Ana Clara. Quando chegou na Itália, Harry e Ana se trombaram na esquina do restaurante, causando risadas histéricas, por terem estudado na mesma sala do primeiro ano da faculdade.
Falando em faculdade, Harry havia se formado, e a colação de grau seria no final do ano, mais especificamente em dezembro. Ele estava feliz por conseguir se formar em algo que ama e que lhe traz felicidade.
Quando sua refeição chegou, agradeceu Anne -outra garçonete- pelo atendimento e após a mesma se retirar, saboreou com moleza a comida a sua frente, não era todo dia que se comia algo tão bom quanto aquilo.
Apesar de preferir comidas leves, o prato estava uma delícia, os cogumelos estavam no ponto e sabor certo, juntamente com o arroz. A comida não estava apimentada, por mais que, se quisesse, Harry poderia pedir.
Antes de pedir a conta, pediu uma sobremesa –cannoli-. O "tubinho" é feito com uma massa doce frita, recheado com um creme à base de queijo ricota ou mascarpone com ingredientes como baunilha, pistache, chocolate ou frutas cristalizadas. O contraste entre a crocância da massa e a cremosidade do recheio é o que torna essa sobremesa tão icônica e deliciosa.
Depois de ter almoçado o suficiente por três dias, Harry pediu a conta. Após pagar um total de cinquenta euros, caminha em direção à floricultura.
Após entrar pela porta de madeira, foi possível ver Floren lendo um livro. Se aproximou com cuidado, para não assustá-la e esperou que ela notasse que estava ali. Mas se assustou quando a mesma começou a falar algo baixinho.
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II sole si riflette su di te. {l.s}
FanfictionLouis e Harry se conheceram em Sardenha. A maneira como isso aconteceu é um tanto engraçada, mas será que sorvete, vinho e rosas, poderá juntar duas pessoas completamente diferentes?