A penumbra do ambiente conspirava com o clima inquietante que envolvia os dois jovens, um convite tácito à introspecção. O som da rua penetrava pelas frágeis paredes, mas parecia abafado, como se respeitasse o momento que ali se desenrolava.
Havia algo quase onírico naquele encontro, como se duas almas, ainda tão jovens, se reconhecessem em um entrelaçamento inexorável. Ekko sentiu a respiração falhar, ou talvez tenha sido Athali — ou ambos. Sempre era assim quando estavam próximos: um turbilhão de emoções inexplicáveis, porém jamais incômodas. O nervosismo típico de mãos suadas e corações inquietos acompanhava aquelas borboletas no estômago, inconfundíveis e inevitáveis.
O início disso tudo lhes escapava à memória. Quando, exatamente, passaram a ser o farol no caos um do outro? Quando começaram a reparar em cada traço que compunha suas formas? Para crianças nascidas no desespero e na aspereza de Zaun, o amor era um mistério insondável — e quem ali, afinal, sabia defini-lo?
Mesmo assim, ignoravam os perigos. Fariam isso até terem certeza absoluta do que sentiam, ou até que o destino lhes obrigasse a enfrentar a verdade. Por fim, Ekko deixou o estranho objeto que pretendia empenhar de lado, endireitando-se antes de dirigir-se à jovem.
— Ei, oi. — O sorriso maroto característico iluminou seu rosto ao se aproximar, enquanto levantava a mão calejada em um gesto familiar.
Athali, recuperando-se rapidamente da onda de nervosismo, retribuiu com o mesmo movimento, o som breve de mãos tocando seguido por um soquinho. Aquele era o toque deles — uma regra sagrada da amizade, reservada exclusivamente para os dois.
— Oi. Ocupado? — murmurou Athali, enquanto seu olhar vagava até a caixa que ele manuseava anteriormente.
— Você sabe que não.
Ekko sentou-se à sua frente, buscando seus olhos, que permaneciam baixos. Suas mãos inquietas contavam histórias que a boca ainda não revelava.
— Ei, o que houve? Alguém viu eles? Ele estava em casa? Dá para responder? — a ansiedade transparecia na voz do garoto, que, levado pelo impulso, segurou delicadamente o queixo dela, erguendo-o. Finalmente, encontrou aqueles olhos intensos, sombreados por uma tristeza silenciosa.
Athali reagiu instintivamente, afastando a mão dele com um tapa leve, mas o gesto foi insuficiente para dissipar a intensidade do olhar que ele mantinha sobre ela. Ekko arqueou uma sobrancelha, a expectativa pairando entre eles como uma pergunta não dita.
— Tudo deu errado, Ekko. — Ela finalmente explodiu, a voz trêmula de frustração, as palavras derramando-se antes que pudesse contê-las. — Aparentemente, o Pow perdeu tudo... E como? Eu nem sei! Eles nunca me deixam ir junto, nunca me contam nada! E agora, Vender está furioso, o que só pode significar que algo muito grande — e muito ruim — aconteceu. E eu estou aqui, no escuro, como sempre!
Os gestos indignados que acompanhavam cada palavra eram quase cômicos, mas a dor genuína em sua voz silenciou qualquer tentativa de riso por parte de Ekko. Ele observava, pacientemente, enquanto ela afundava mais no banco, os braços cruzados como uma barricada contra a injustiça do mundo.
— Por que eles nunca me levam? — continuou, a voz mais baixa, mas ainda carregada de emoção. — Não é como se eu fosse... sei lá, quebrar no meio do caminho. E o pior de tudo? Eles levaram a Powder. A Powder, Ekko! Ela é igual a mim! Qual a diferença? Eu só... é tão injusto...
Ela suspirou pesadamente, encostando-se à parede e evitando olhar para ele. Ekko esperou um instante, escolhendo cuidadosamente as palavras antes de falar.
— Você terminou? — Ele finalmente quebrou o silêncio, sua voz suave, mas carregada de um tom divertido que não podia evitar.
Ela lançou-lhe um olhar de falsa indignação, mas ele já havia se levantado, caminhando até uma das prateleiras abarrotadas na loja de Benzo. Enquanto mexia nos objetos, respondeu calmamente:
— Olha, não deve ter sido tão ruim assim. Não é como se eles tivessem... sei lá, explodido uma casa ou algo do tipo. Talvez o Vender só os tenha pego saindo do bar. E, ei... nós temos as nossas próprias aventuras. Quem precisa das deles?
Ao retornar, ele trazia nas mãos um pequeno objeto, que colocou cuidadosamente à frente dela. Athali olhou para ele com curiosidade, e então percebeu do que se tratava: a caixinha de música que ela mesma havia feito e deixado ali, esquecida entre tantas coisas. Seu olhar suavizou, tocado pela surpresa.
— Você guardou isso? — perguntou, quase num sussurro.
Sem esperar resposta, apertou o botão enferrujado. As notas suaves começaram a soar, preenchendo o pequeno espaço com uma melodia delicada, enquanto luzes amareladas dançavam pelas paredes. Athali acompanhava o movimento giratório da caixinha, mas, ao erguer o olhar, percebeu que Ekko a observava atentamente.
A intensidade do olhar dele a fez prender a respiração. Havia algo ali — uma mistura de admiração, ternura e algo mais profundo que ela não conseguia nomear. Pela primeira vez em muito tempo, ela sentiu o peso de suas frustrações dissipar-se, como se o mundo, por um breve momento, fosse apenas eles dois.
— Obrigada, Ekko. — Agradeceu baixinho, a voz quase engasgada pelo impacto daquele instante.
Ele sorriu, um sorriso pequeno, mas cheio de significado, enquanto se sentava novamente ao lado dela, permitindo que o silêncio confortável preenchesse o espaço entre eles.
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