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O SOM ERA PREENCHIDO por batidas constantes em almofadas de pancadas. Vi socava o equipamento de treinamento com golpes precisos, e a máquina calculava a pontuação exibida na enorme placa acima. Os números subiam freneticamente, mas ninguém mais prestava atenção: o primeiro lugar já era dela há muito tempo.

Vi, como sempre, mantinha sua liderança imbatível. Seu ritmo era constante, seus movimentos quase coreografados. Cada soco era um lembrete de que lutar era algo que ela fazia bem — talvez até melhor do que sobreviver.

Ao fundo, Mylo observava enquanto carregava munição em uma arma de "brinquedo". Ele resmungava, distraído:
— Alguém pode me lembrar por que a gente tá preso nesse buraco mesmo?

— Porque Vender disse pra ficarmos na miúda. — Vi respondeu entre socos, sem sequer olhar para trás. — E porque os Salvadores nunca vêm até aqui embaixo.

Ela limpou o suor da testa, largando as luvas no chão. Enquanto caminhava, seus olhos captaram Athali cuidando do olho roxo de Claggor com delicadeza, enquanto Mylo soltava um comentário irritado:
— Não sei porque a gente ouve o Vender. E, sério, por que ele não aparece pra resolver logo?

Claggor riu, apenas para levar um tapa de leve de Athali, que o repreendeu:
— Fica quieto. Não tá ajudando ninguém com esse papo.

— Você só tá falando isso porque tá com medo de levar outra surra da Powder. — Claggor riu novamente, mas desta vez foi Mylo quem o encarou com uma expressão irritada.

— Ei! — Mylo levantou a voz, apontando o dedo. — Eu só deixei ela ganhar daquela vez.

Athali riu suavemente enquanto terminava de aplicar um curativo no rosto de Claggor. Levantando-se, ela caminhou até a máquina de socos, retirando os óculos e os colocando cuidadosamente sobre uma mesa próxima.

— Claro, Mylo. — Sua voz era leve, mas cheia de provocação. — Porque errar quase todos os tiros foi parte do plano, né?

Enquanto Mylo bufava indignado, Powder surgia debaixo de uma bancada, conectando cabos a uma nova invenção. Quando o "jogo" de tiros finalmente ligou, ela lançou um sorriso travesso.

— Pronto, Mylo. Mostra pra gente do que você é capaz. — Powder incentivou, mas havia um toque de ironia na sua voz.

Mylo assumiu uma postura exageradamente confiante e começou a atirar sem se preocupar em mirar direito. Como esperado, ele errou quase todos os alvos.

— Tá vendo? — Athali comentou enquanto ajustava as luvas de boxe. — A mira dela é melhor que a sua. E não é questão de opinião.

Ignorando o debate, Athali apertou um botão na máquina de socos. Ela bateu com destreza e desviou dos golpes que a máquina tentava simular. Seu corpo pequeno, mas ágil, era fruto de uma vida cheia de treinamento e necessidade. Cada soco parecia carregar a força de uma sobrevivente que não tinha outra escolha além de lutar.

Vi, observando de canto, deixou escapar um assobio impressionado quando a pontuação de Athali ficou apenas abaixo das suas.
— Nada mal, sucateira. Se continuar assim, talvez um dia você consiga me alcançar. — O tom provocativo de Vi vinha com um sorriso prepotente.

Athali revirou os olhos, tirando as luvas e limpando o suor com as mangas. Antes que pudesse responder, Powder chamou a atenção de todos ao se aproximar da janela.

— Pessoal... vocês vão querer ver isso.

A tensão no ar ficou palpável. Do lado de fora, um homem foi arremessado contra o vidro, que estilhaçou, revelando o esconderijo das crianças. Antes que pudessem reagir, Salvadores armadurados invadiram o local, liderados por alguém usando uma máscara de gás.

— Revistem tudo — ordenou o líder com uma voz firme.

Os Salvadores se espalharam pelo espaço, cada um indo em direção a uma das crianças. Mylo, com seu jeito petulante, fez uma careta para um dos guardas que se aproximava.
— Pode olhar à vontade, idiota. Não vai encontrar nada.

O homem o empurrou com o cassetete, e Mylo recuou rapidamente para evitar um golpe. Do outro lado da sala, Athali foi agarrada pela gola do casaco. Ela se debateu, tentando escapar, mas o Salvador apenas revirou os olhos, jogando-a contra a parede.

— Filho da... — Claggor correu para ajudar, segurando Athali antes que ela caísse no chão.

Antes que os Salvadores encontrassem algo ou alguém fosse machucado ainda mais, Claggor puxou uma alavanca escondida. As luzes se apagaram, e o ambiente ficou iluminado apenas por uma fraca luz de néon, que delineava um grande desenho de macaco no chão.

Vi gritou:
— Corram!

As crianças se moveram em sincronia, como um enxame desesperado. Mylo chutou o Salvador mais próximo e mergulhou atrás do balcão. Claggor puxou Athali pela mão, enquanto Vi e Powder tomaram a dianteira, guiando o grupo por uma saída lateral.

A perseguição continuou pelas ruas apertadas de Zaun. Os Salvadores estavam perto demais. Quando os passos pesados deles se aproximaram, Athali tirou algo do bolso: uma esfera verde musgo.

— O que você tá fazendo? — Claggor perguntou, sem diminuir o ritmo.

— Confia em mim! — Ela lançou a esfera no chão atrás deles.

A fumaça verde se espalhou rapidamente, deixando os Salvadores atordoados. Mesmo com máscaras de gás, eles tropeçaram uns nos outros, confusos.

— Que merda é essa?! — Claggor gritou, puxando Athali com mais força.

— Atordoante — respondeu ela, ofegante. — Vai deixá-los perdidos por um tempo.

Ainda assim, os Salvadores eram muitos. As crianças acabaram cercadas em um beco sem saída. O som de um assobio chamou a atenção deles. Olhando para cima, Ekko acenava de uma grade de ventilação, com uma escada retrátil em mãos.

— Subam, rápido!

Mylo foi o primeiro, escalando com habilidade. Claggor ajudou Athali, que estava ofegante e dolorida pela corrida. Quando Powder começou a subir, um Salvador tentou agarrá-la, mas Vi desferiu um chute certeiro, derrubando a escada sobre os perseguidores e comprando tempo para escapar.

No topo, Ekko ajudou Athali a se estabilizar enquanto todos recuperavam o fôlego. Encostada na parede, a garota tentou acalmar a respiração ofegante. Ekko colocou uma mão em seu ombro.

— Tá tudo bem? — Ele perguntou, a voz suave.

— Vou sobreviver. — Athali respondeu com um sorriso cansado.

Vi olhou para o grupo e, mesmo exausta, tentou soar firme:
— Vamos. Temos que contar ao Vender.

Eles seguiram para o bar. Vi liderava, mas o cansaço estava estampado no rosto de todos. Quando chegaram, a tensão dentro do estabelecimento era evidente. Um grupo grande estava reunido, e os ânimos estavam exaltados.

Sevika, com sua postura intimidadora, encarava Vender.
— O Vender que eu conheci não ficaria parado enquanto eles nos esmagam.

A discussão continuava, e Athali observava da porta com o restante das crianças. Finalmente, ela deu um passo à frente.

— Esperem!

Todos os olhares se voltaram para ela. Athali mostrou as esferas verdes que havia criado.
— Eu usei isso contra os Salvadores. A fumaça atordoa eles, e as máscaras não conseguem filtrar.

Jogando uma das esferas no chão, ela demonstrou o efeito, explicando sua criação. Sevika arqueou uma sobrancelha, interessada.
— Tem mais disso?

— Duas caixas. — Athali respondeu.

— Então pega logo.

Com a ajuda de Ekko, ela trouxe as caixas para o salão. Enquanto distribuíam as esferas entre os rebeldes, Vender observava Athali com um olhar orgulhoso.



𝑫𝑶𝑷𝑨𝑴𝑰𝑵𝑨 | 𝑬𝒌𝒌𝒐Onde histórias criam vida. Descubra agora