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A noite parecia chorar.

As nuvens densas cobriam a imensidão escura do céu, sufocando as estrelas que brilhavam como lágrimas aprisionadas. Era como se o universo lamentasse uma perda profunda, um segredo que guardava para si, sem jamais revelar por quem ou pelo que sofria.

Athali estava sentada junto à janela, os olhos fixos na vastidão silenciosa. A luz fraca da lua refletia em seu rosto, revelando a confusão e o cansaço que carregava. Seus pensamentos estavam longe, perdidos entre as perguntas que nunca encontravam resposta.

Quando tudo isso vai acabar?

— Estamos prontos. — Mylo quebrou o silêncio com uma determinação que soava forçada. Ele olhava para a mesa diante de si, onde ferramentas improvisadas e armas rudimentares estavam dispostas. — Se os Defensores voltarem, vamos estar preparados.

Claggor, ao seu lado, cruzava os braços, os olhos analisando os objetos com ceticismo.

— Será que vai funcionar? — murmurou, a dúvida transbordando em sua voz.

— Com as bolinhas da Thata, a gente pode atordoá-los. — Mylo deu de ombros, apontando para as esferas verdes de Athali. — E o bastão é meu.

Claggor imediatamente retrucou, o tom indignado.

— Eu que encontrei!

— E eu falei primeiro.

— Mas fui eu que achei!

— As regras são claras: quem fala primeiro fica com ele!

A discussão tomou um tom infantil, o que era típico dos dois. Contudo, antes que pudesse se estender, passos rápidos ecoaram pela escada, seguidos por uma figura agitada. Vi apareceu no meio da sala, os olhos selvagens e a respiração descompassada.

— Vi! — Powder exclamou, saltando de onde estava deitada. Ela correu para abraçar a irmã mais velha, o alívio estampado no rosto.

Vi correspondeu ao gesto brevemente, mas sua expressão estava distante, assombrada. Assim que Powder se afastou, a garota caminhou diretamente para as manoplas de Vander, largadas sobre um canto da mesa.

Athali, que até então estava em silêncio, se aproximou, escondendo-se parcialmente atrás de Claggor. Seus dedos finos seguraram um pedaço da blusa dele, como se buscasse apoio.

— Ei, essas são do Vander. — Mylo interveio, segurando os pulsos de Vi ao notar os machucados em suas mãos. — O que aconteceu? Por que você está assim?

— Benzo... morreu. — As palavras saíram como um sussurro, mas foram como um trovão. Vi desviou o olhar, a voz embargada. — E eles levaram o Vander.

O choque se espalhou pela sala como uma onda gelada.

— O quê? Como assim? Quem levou o Vander? — Mylo perguntou, a incredulidade arrancando qualquer traço de tranquilidade de seu rosto.

— Eu não sei. — Vi apertou os punhos, como se tentar explicar fosse dilacerante. — Mas eu preciso ajudá-lo.

— Nós vamos com você. — Foi a voz firme de Athali que quebrou o silêncio pesado. Ela deu um passo à frente, os olhos marejados, mas cheios de determinação. A perda de Benzo era um golpe que ela ainda tentava assimilar. Ele sempre fora a única figura que acreditava em suas invenções, que a incentivava, mesmo quando tudo dava errado.

Vi hesitou, mas não houve tempo para resposta. Ela levou as mãos ao rosto, escondendo as lágrimas que começaram a cair, enquanto Claggor e Mylo tentavam consolá-la, tocando levemente seus ombros.

𝑫𝑶𝑷𝑨𝑴𝑰𝑵𝑨 | 𝑬𝒌𝒌𝒐Onde histórias criam vida. Descubra agora