VINTE E QUATRO

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Passava da meia-noite quando Ariel finalmente despertou. Ainda sonolenta ela procurava se lembrar a razão para ter dormido tanto.

Aos poucos a mente agilizou os pensamentos e então tomava conhecimento de que não respondera às expectativas do marido, e uma noite que deveria acabar de forma agradável fora abruptamente encerrada, após ela praticamente haver perdido o controle de suas emoções.

Então sua memória voltou a todas as ações e episódios acontecidos durante o dia. E sentindo um tremor balançar seu corpo, ela sentou-se sobre a cama, dobrou as pernas diante do tronco, em seguida as abraçou, e apoiou o rosto sobre os joelhos.

Não possuía dúvidas de que todas as descobertas de seus objetos desaparecidos, revelaria a astúcia de alguém que supostamente julgava conhecer.

Por mais que a vontade fosse árdua, ela se recusava a chorar, mas os pensamentos fluíam naturalmente ao se dar conta de que em toda a convivência mútua, Tess havia demonstrado ser alguém dependente de Ariel, mas esse comportamento ficava cada vez mais evidente que todas as atitudes eram calmamente calculadas como forma de se tornar alguém digna de confiança.

Ariel não só dividira sua casa com a suposta amiga, mas também lhe dera total acesso a tudo o que possuía, garantindo a ela a possibilidade de usufruir de todos os seus bens.

Que tola ilusão!

Ariel se sentia injustiçada, mas acima de tudo se sentia uma idiota. Não por acreditar em quem não valia a pena, mas sim por não ter percebido que era apenas uma isca para os interesses de Tess.

Desanimada, Ariel saiu da cama, calçou os sapatos de salto alto, alcançou sua bolsa sobre a mesinha de apoio próxima à duas poltronas e apanhando o celular analisou cuidadosamente o aplicativo do banco, que disponibilizava todas as transações feitas com o cartão desaparecido.

Ao se jogar em uma das poltronas, com os olhos fixos no telefone, mentalmente Ariel calculava as transações suspeitas e dentro de um mês havia saído duzentos mil dólares da sua conta para uma conta desconhecida. E durante as últimas duas semanas, foram transferidos pelo menos meio milhão de dólares em uma única transação.

O prejuízo era algo muito relevante para considerar, mas para Ariel não havia nada pior do que o desprezível ato de traição. Mas por alguma razão ela não precisava saber o destino de todo aquele dinheiro para concluir que tudo se devia à ambição de Tess.

Agora Ariel se perguntava se em algum momento, Tess estivera realmente doente, e com a incerteza fervilhando em cada célula, ela pensava na possibilidade de ter sido apenas mais um caso pensado.

Se assim fosse, Stanley Couto certamente estaria atolado até o pescoço naquela loucura. E como médico teria relatado falsos diagnósticos como parte de um plano maligno.

Impossibilitada de pensar, com receio de estar sendo injusta, Ariel decidiu abandonar seus exaltados pensamentos.

Abruptamente, ela desocupou a poltrona e ao correr os olhos pela luxuosa suíte, ela se perguntava onde estaria Isaque.

Um instante depois, ela abriu as portas de correr e saiu para a varanda espaçosa, enquanto sentia a brisa fria acariciar sua pele e arrebatar seus cabelos.

Cansada das adversidades, ela apoiou as duas mãos sobre a proteção de vidro, fechou os olhos e se dedicou ao exercício respiratório lento e ordenado, que as vezes usava para manter sua própria placidez.

Pensou no bebê que trazia no seu ventre que não merecia e tampouco precisava da sua guerra interior.

Pensou em Isaque e no encontro interrompido, pensou em sua família e finalmente calculou a harmonia contagiante que aquele lugar lhe proporcionava.

Amor entre LágrimasOnde histórias criam vida. Descubra agora