24🧧

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- Nesse capítulo, quero deixar claro que eu não tenho a intenção de ofender nenhuma crença religiosa.
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Estávamos em uma casa literalmente no meio do nada, no caminho de ida eles colocaram um capuz na minha cabeça para que eu não visse o caminho.

Não faço ideia de onde estou, Inui não parece ser uma pessoa tão ruim mas nos dias de hoje tudo é falso.

- Vocês vão morar juntos, então suponho que saibam que vou querer um neto. - o pai do garoto se pronunciou olhando para mim. - Em questão de suas roupas, s/n, tem várias no estilo de mulher casada no guarda roupa. - fiquei procurando qual o sentido nessa frase, ele tá dizendo que tem um estilo exclusivo para mulheres casadas? Esse homem tá tão perdido no século passado.

- Obrigada. - me limitei a responder apenas isso e dei um pequeno sorriso em forma de agradecimento.

No fim eles se despediram e o homem foi embora, parece que a casa é realmente só para a gente. Mas Inui realmente aparenta ser alguém confiável, preciso fugir dele ou o convencer a me levar de volta.

- Perece que teremos um futuro promissor aqui, querida esposa. - o loiro disse irônico respirando fundo ao se jogar no sofá da enorme sala.

A casa era bem grande e me fez lembrar a minha casa de quando eu morava com minha mãe. Os móveis dão uma aparência mais chique ao local, tem algumas luminárias de cristais enormes no teto da sala. O sofá eu tenho certeza que vale mais que meu rim.

- Seu pai é rico? - perguntei me sentando logo ao lado do garoto e observando o local por inteiro.

- Se casou com uma mulher rica. - ele respondeu óbvio, me contive em dar um mini sorriso.

Fiquei conversando com Inui a respeito dos móveis da casa, ele disse que são da casa antiga dessa tal mulher, em nenhum momento ele citou nomes mas disse que ela é herdeira de uma enorme fortuna. A mulher me parece ter muito bom gosto.

- É muito bom ser rico, eu me lembro vagamente dessa vida... - tentei lembrar de como era quando eu morava com minha família, eu tinha literalmente tudo mas não me sentia bem. - Você realmente está levando isso de morar junto a sério?

- Não, não estou. - ele encarou o teto pensativo. - Eu queria que tudo isso fosse diferente, você é uma pessoa maravilhosa. - sua atenção se mantinha em um lugar fixo no teto. - O pior é que eu nem te conheço, não sabe o quanto eu sinto muito por isso estar acontecendo. - ele me olhou nos olhos, era bem notável seu sentimento de culpa. - Queria ter te conhecido em outra ocasião.

- De qualquer maneira, nada disso foi sua culpa. - respondi simples o fitando fortemente. - Você acha que tem como eu escapar? - perguntei e o garoto logo mudou sua expressão para assustado e meio desesperado.

- As chances são mínimas,  você não conseguirá fugir nunca. - senti sua áurea ficar imensamente estranha e assustadora.  - Perdão, acho que não deixei muito claro. - ele se preparou para explicar tudo aquilo de uma forma mais compreensiva.  - estamos em uma floresta super vigiada, isso é literalmente uma propriedade privada dessa mulher sobre quem falei antes, ela é muito rica. Não temos como sair daqui pois existem quinze profissionais nos observando a cada quilômetro. - concluiu e não consegui evitar ficar mal com tudo isso, Inui apenas me olhou triste. - O plano não era me arranjar uma esposa agora, mas você apareceu. Era para smiley ser torturado nessa casa, por isso a quantidade de seguranças. - explicou um pouco mais.

- Eu odeio gente rica, sempre odiei. - estava entalado na minha garganta e foi a única coisa que consegui pensar em dizer.  - Por que eu? Por que coisas ruins acontecem comigo? - isso foi mais um questionamento a mim mesma. - É incrivelmente descarado a forma que o universo insiste em conspirar contra mim, e eu sei que não passo de uma partícula solta e que ele tá pouco se lixando para minha existência. - soltei como se fosse a frase mais comum que eu precisei dizer em toda a minha vida, aquilo tudo era muito para uma só pessoa.

De repente me vi em lágrimas, e o garoto ao meu lado se contentava em tentar me acalmar. Sempre fui sensível a qualquer coisa, e ser sequestrada praticamente na melhor fase da minha vida destruiu completamente minha felicidade.

- Vai ficar tudo bem, tenha fé em Deus. - ele disse aquilo e foi como se uma faca atingisse meu coração, eu nunca fui religiosa ou algo do tipo. - ele tem um destino reservado a todos nós, estamos passando pelo que merecemos. - Inui era uma pessoa legal mas nesse momento eu senti vontade de lhe dar um soco. - ele nos deu o livre arbítrio, escolhemos estar passando por isso. Mas vai ficar tudo bem em breve, acredite. - isso foi demais para mim, ligeiramente me afastei de seus braços e o encarei.

- Você está mesmo falando isso? - ele deu de ombros como se fosse normal esse tipo de frase. - Como se atreve a dizer que escolhemos pelo o que passar? Você acha que eu escolhi ser sequestrada? Acha que eu fiz algo para merecer isso? Responder uma pergunta errada me levou a essa punição? - ele deu de ombros novamente e me fitou confuso. - Nada relacionado a seu Deus faz sentido para mim, então não repita essa merda novamente. - respirei fundo e levei a mão até minha cabeça para amarrar meu cabelo.

- Você não reza nunca? Nem mesmo quando seu namorado levou um tiro do meu tio? - é preciso paciência para lidar com pessoas desse tipo. É tão difícil aceitar que não creio nisso?

- Eu rezo, não especificamente para o seu Deus. - e era óbvio, ele não sabe que existem várias religiões espalhadas pelo mundo?

- Considerando que seu namorado se recuperou tão rápido, você faz macumba ou algo relacionado? Por favor, não jogue praga no meu pai, ele é uma boa pessoa. - Inui disse sorrindo em tom sarcástico, é ridículo alguém ter esse tipo de pensamento.

Eu não consigo acreditar que realmente exista alguém tão intolerante assim, senti ânsia e fiquei com um nojo imenso só de ouvir essa frase. Uma coisa é dizer que não acredita e questionar algo, outra completamente diferente é fazer uma piada extremamente desnecessária.

- Por favor, mais respeito. - disse perdendo o resto de paciência que me restava.

- Tudo bem, me desculpe. - suspirei e relaxei no sofá, era isso que eu precisava escutar. - Os macumbeiros são covardes, minha vó morreu de uma macumba que jogaram nela. Vocês são ridículos. - minha cabeça doía como nunca havia doído, isso era um tema estressante e extremamente terrível.

- Cale a sua boca. - finalmente tomei coragem para me levantar e encerrar com essa conversa ridícula. - Você mesmo não disse que cada um tem seu livre arbítrio? Não foi Deus que nos deu essa coisa maravilhosa? - ele concordou com a cabeça ao escutar as perguntas. - Então engula a sua intolerância e aceite a religião dos outros, cada um escolhe a quem e a quê dirigir a sua fé. Se eu abandonei o seu Deus, isso diz respeito somente a mim. - falei saindo dali e procurando a cozinha para que eu pudesse beber uma água.

Quando entrei na cozinha era maior do que eu imaginava, a geladeira tinha duas portas e parecia ser digital. Tinha um balcão cheio de frutas que eu nunca vi na vida. Cada vez mais eu me assusto com ricos e em como eles vão dominar o mundo em breve.

- Ei, me desculpe por essa conversa...- inui disse entrando na cozinha. - é que minha família é muito religiosa, me desculpa mesmo. - parecia realmente arrependido de ter sido tão babaca há um minuto atrás.

- Tudo bem. - foi o que consegui dizer enquanto despejava a água em uma taça de vidro luxuosa. - se essa discussão fosse com um desconhecido, você provavelmente apanharia, no pior dos casos ia ser assassinado. Isso não é um assunto discutível. - Ele precisava saber, hoje em dia isso não é tolerado. Pessoas assim merecem apanhar pra criar vergonha na cara.

- Tá, eu entendi, me desculpe. - falou balançando as mãos em forma de constrangimento. - Eai, vamos bolar um plano para fugir desse lugar? - finalmente algo que ele disse me chamou atenção.

- Estava demorando, vamos logo. - o segui de volta a sala para que pudéssemos conversar sobre como iríamos fugir dali.

Preciso ir embora com urgência.

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𝐖𝐈𝐓𝐇 𝐘𝐎𝐔, nahoya kawataOnde histórias criam vida. Descubra agora