Vitória

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O dia amanheceu e meus olhos estavam até colados.
Sabe? Quando você dorme tanto que chega a colar os olhos?
Fazia tempos em que não dormia tanto assim.

Desci para o café depois de fazer minha higiene matinal e colocar minhas roupas de trabalho. Na mesa como sempre bem posta estavam todos.
Jean que dormiu sozinho no quarto dele já havia descido, feito seus exercícios e agora tomava seu café forte me olhando de cima abaixo.

- bom dia Vi.

- bom dia Jean, bom dia a todos.

Conversamos animadamente até Jean sair pra resolver algumas coisas na cidade junto com João e eu sair pra cuidar das minhas atividades aqui na fazenda.

No pasto, tinha muita grama, muito gado, e o gado estava com pouca água. Eu precisava encher as baias.
Enquanto eu enchia com a água do poço um balde pra fazer minha tarefa, ouvi um barulho vindo do mato.
Alguma das vacas ou dos bois estavam por ali com certeza.
O barulho continuava cada vez mais forte, era como se algum animal tivesse se enroscado em algum arbusto ou mato, mas eu não conseguia ver.
Temendo ser algum animal machucado, eu caminhei até onde o barulho se seguia.

Quando eu fui me aproximando o barulho parou.

Nada.

Ao me virar me deparei com o meu pior pesadelo me agarrando e segurando minha boca.

- ora, ora, ora se não é minha esposa fujona.

Minha boca estava tampada e ele me apertava contra o seu corpo.
Não!
Isso não pode estar acontecendo!
Meu pânico já começava me deixar mole, mais mesmo assim eu me debatia.

- se você ficar quietinha eu solto sua boca meu amor.

As lágrimas já rolavam pelo meu rosto.
Eu não tinha o que fazer.
Se eu corresse ele me alcançava.
Se eu gritasse ele me batia.
Eu queria me soltar, mais precisava ser racional, enquanto ele falava no pé do meu ouvido.

- eu acho melhor você ficar quieta e ouvir exatamente o que eu tenho pra falar, antes que algo ruim aconteça.

Eu fingi que me acalmei.
Pelo menos pra que ele me soltasse, queria sair do aperto dos seus braços. E quando ele percebeu que eu não me agitava mais, ele me soltou devagar, e tirou a mão da minha boca.

- você pensou que eu não fosse te achar? Eu sou esperto e tenho contatos vitória.

Meus olhos estavam cheios de lágrima.
Minha cabeça estava baixa.
Acabou.

- não demorou nada pra te achar depois daquela ligação. Eu descobri a cidade. Quando cheguei aqui através de boatos descobri que uma desconhecida chegou aqui há um tempo atrás e correu na direção das fazendas e aí foi fácil, seu namoradinho atendeu o telefone e disse que chamava jean, foi só perguntar. Como você é burra vitória, ligou do telefone do lugar onde estava, sem nem se tocar que ficaria registrado no meu celular. - ele balançava a cabeça para os lados e com o indicador, colocou o dedo no meu nariz.

- uma vez burra, sempre burra.

Eu só sabia tremer, chorar e olhar pro chão como uma derrotada.
O que ele queria de mim?
O que mais eu podia oferecer pra ele?
Ele não me amava, isso sempre foi um fato, então pra que toda essa obsessão em me achar?.
Era isso.
Obsessão.
Ele era obcecado por algum motivo, obcecado por controle, por posse.

- o que você quer de mim? - eu disse num fui de voz e nem sei se onde saiu.

Ele abaixou até alcançar o meu rosto, puxou meu rosto de modo a ficar de frente para o dele e olhando nos meus olhos disse:

- eu só quero que você pare de bancar a fujona e volte pra casa, pro seu lar, estou morrendo de saudades de você meu amor.

Seus dedos desceram pelas laterais do meu corpo, junto com os seus olhos. Eu tinha desespero e ânsia.

- seu corpo esta mudado, estão te engordando aqui hein, mais eu gostei, embora isso mude quando você voltar, vai ficar magrinha de novo.

- eu não vou voltar com você pra sua casa. - não! Eu não ia, meu deus como eu ia fazer?

- ah meu amor, é claro que você vai, porque se você não for eu coloco fogo nessa fazenda inteira com você, aquela velha e o seu namoradinho mimado. É isso que você quer?

- você não teria coragem. - ele teria, nem sei porque eu disse isso. Qualquer coisa que eu dissesse podia soar pra ele como um desafio.

- ah, você ficou tanto tempo comigo e não sabe ainda do que eu sou capaz? Eu faria isso sem nenhum pingo de remorso e ninguém saberia que fui eu, porque ninguém sabe que estou aqui.

- Jean vai saber que foi você e irá atrás de mim.

- se ele conseguir ficar vivo...mesmo assim não terá provas.

Eu alterei a voz, chorando e desesperada como forma de assusta-lo.

- eu vou contar tudo pra polícia.

Ele me agarrou pelo pescoço. Seus dedos ficariam marcados em mim por causa disso com toda certeza.

- eu mato esse povo todo, quebro sua boca inteira e ainda te arrumo um cativeiro bem seguro onde você vai viver o resto dos seus dias, apanhando como você gosta e merece.

- o que você quer? - eu digo entre soluços.

- se você não quer que ninguém sofra as consequências dos seus atos, você vai embora de bom grado comigo.

- eu não vou embora

- VOCE VAI SIM PORRA! VOCE NAO ESTA ENTENDENDO A GRAVIDADE DA SITUACAO VITORIA, VOCE NAO TEM ESCOLHA, SE NAO FOR EU MATO TODOS.

Eu não sabia o que fazer, eu não tinha escolha.
Eu poderia chamar a polícia, eu poderia ligar pro Jean, mais nada disso daria certo, ele faria mal as pessoas que eu amo. Eu precisava me acalmar e tomar o controle da situação. Seja esperta vitória, quem não sabe nada aqui é ele, deixe ele achar que tem o controle.

- promete pra mim que não vai machuca- Los se eu for com você? Eles me deram abrigo quando eu fugi, e mesmo não sendo o certo, eles foram bons, mesmo eu sendo burra e tendo fugido de você.

- aaah então você percebe como é burra? Não adianta vitória, nos fomos feitos um pro outro, entende isso. Você precisa de alguém como eu pra fazer você parecer menos burra.

- eu não entendia, mais agora eu entendi, não importa o quanto eu fuja, você sempre vai me achar, porque você me ama, não é? -jogue vitória, faça o jogo dele.

Coloquei a mão no seu rosto, como forma de afeto mais por dentro queria vomitar, fugir, correr, dar um tapa naquela cara horrível.

Ele avançou na minha boca e me beijou, eu sentia vontade de vomitar, mas eu precisava proteger Jean e pessoal da fazenda.

Eu me afastei com um sorriso falso nos lábios.

- esse povo me deu muitas coisas xiques, eu queria poder levar, posso buscar?

- você não precisa de coisas xiques.

- tenho jóias, a gente pode vender.

Dinheiro era uma coisa que fazia os olhos de augusto brilhar.

- pelo visto alguma vez na vida você foi inteligente, viu, você sempre dando lucro de algum jeito.

Eu me soltei dos seus braços e entrei correndo na fazenda na intenção de pegar minhas coisas e salvar a todos sem dizer que gusto estava ali evitando assim qualquer tipo de confronto.

Mais uma vez eu estava pensando no bem dos outros e me deixando de lado,mas eu era assim, eu protegia quem me amava e dessa vez, eu estava protegendo as pessoas certas.

Quando entrei dentro de casa e estava subindo as escadas, ouvi a caminhonete de Jean estacionando.
Eu precisava ser rápida.
Subi correndo as escadas e quando chegava no final delas ouvi a voz Jean e estanquei no lugar.

- vi, tá tudo bem?

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