vitória

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Eu não consegui dormir a noite toda.
As sensações que foram despertadas no meu corpo foram únicas.
Eu nunca tinha me sentido assim antes.

Quando Gusto me tocava, eu não conseguia sentir nada além de medo e náusea.
Quando ele me possuía eu não via a hora de acabar.
Não tinha abraço, não tinha beijo, não tinha arrepio.

Acordei na manhã de sábado um pouco tarde, já que de sábado e domingo eu não trabalhava formalmente, eu ajudava em alguns afazeres quando Amélia não estava por perto, porque ela tinha decretado que eu descansasse esses dias.

Fiz minha higiene e quando cheguei na cozinha a mesa de café estava posta.
Amélia estava na varanda regando algumas plantas quando peguei uma xícara de café e fui cumprimenta-la.

- bom dia Amélia

- bom dia Vi, dormiu bem? Percebi que acordou tarde.

- na verdade não dormi muito bem.

- Jean disse que também não.

- é o calor. - tentei desconversar sobre Jean.

- o que você vai fazer hoje de bom?

- estou pretendendo ir na cachoeira.

- Bia disse que queria também, vocês poderiam ir depois do almoço, quero que minha sobrinha se divirta mais também, o Jean pode levar vocês.

- não, nós vamos sozinhas, vamos de cavalo.

- fiquem a vontade.

Nesse momento ao longe vi Jean chegando em cima de um cavalo, suado, com alguns botões abertos da camisa, os cabelos soltos e todo sorridente, com João.

- você precisa ser mais esperto João.

- o senhor trapaceou, pegou um cavalo que já participou de competições

- isso não é trapacear, isso é ser esperto.

Ele me viu na varanda e desceu do cavalo.
No mesmo instante eu quis entrar pro casarão.

- bom dia vitória.

Tarde demais.

- bom dia Jean, bom dia João.

João levantou o chapéu e desceu também do cavalo.

- dormiu bem?

Eu arregalei os olhos e olhei pra Amélia que sorria disfarçando atrás das flores, ela sabia.

- não muito bem, estava muito calor.

- estava mesmo.

Eu percebi que ele estava brincando comigo, tinha mais algum sentido nessa sua frase, onde ele estava com a cabeça? Porque estava sendo desrespeitoso comigo?
Será que foi algo que eu fiz ou disse que deu margem pra esse tipo de comportamento?
Isso que aconteceu ontem na cozinha devia ser esquecido. Pensei que ele não se lembraria já que um homem na idade dele e com a experiência dele está habituado a bem mais do que um simples encostar de lábios.

Entrei casa a dentro sem jeito e Jean veio atrás.

- precisamos conversar.

- não precisamos, não temos o que conversar.

- você tem certeza Vi?

- não me chame de Vi, Jean.

Seu rosto se transformou, eu não queria que ele achasse que tínhamos algum tipo de intimidade só porque ele me beijou, eu não queria isso.

- então, pode me chamar de senhor, agora estamos quites.

E saiu.

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