3 - ALGO DE ERRADO

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A sela não parecia ter sido feita de couro. Ela era forrada com veludo preto, contrastando com o branco do corpo de Elsie.

Minha amiga parou de se debater como se estivesse sendo sacrificada e começou a observar a sela em suas costas.

- Agora a viagem será bem mais confortável - disse meu irmão, apontando com a cabeça para nova sela que apareceu com a magia da Nova-Lyrici.

- Obrigada - falei baixinho, olhando para o céu.

- Está agradecendo a quem? Sabe que a magia não é uma pessoa, não é?! - disse Chayla, debochando de mim.

- Sendo ou não uma pessoa, ou ouvindo ou não os meus agradecimentos, ainda assim eu agradecerei. - Virei-me para a lince e a encarei de cima. - Durante cem anos nós não passamos fome, nem sede, frio ou calor. A magia nos mantém vivos por algum motivo e sei que não foi coincidência. Então acho certo agradecer de vez em quando pelo que temos.

- Fala isso porque você continua a mesma pessoa. Diferente de nós, você não foi transformada em um animal. Continua andando sobre seus pés, usando vestidos e é adorada por todos, enquanto o resto de nós precisa conviver com essas formas bestiais.

Eu sabia que Chayla, mesmo depois de um século, ainda não gostava do que havia se tornado, mas suas palavras faziam parecer que aquilo havia sido uma maldição, ao invés de uma benção, como eu acreditava que era.

A magia que os humanos sempre quiseram ter finalmente tinha voltado, nos mantendo vivos e saudáveis. Sim, ela havia sido transformada em um gato gigante, mas havia ganhado a força, a velocidade, a inteligência e a beleza do animal. Chayla não deveria estar reclamando.

Antes que eu pudesse dizer alguma coisa, ela se levantou e correu para a caverna que ela chamava de casa, no pé da montanha, deixando claro que não iria conosco.

- Perdoe minha irmã. Ela acordou de mau humor hoje - disse Charlie, tentando amenizar aquela situação.

Forcei um sorriso e chamei Elsie para se aproximar de mim.

Ela ainda estava olhando na direção para onde Chayla havia corrido.

Fui até minha amiga e coloquei o pé na pedaleira, me impulsionando e me sentando de pernas abertas sobre a sela. Não havia focinheira, nem rédeas para controlar o animal, logo que eu só precisava pedir para que lado eu queria que ela virasse, e ela assim o faria.

- Vai na frente - falei para Charlie.

Ele assentiu com a cabeça e começou a andar.

- Eu vou junto - disse meu irmão ao meu lado.

Segurei na borda da sela e estranhei quando Elsie deu os primeiros passos.

- Tudo bem aí em cima? – ela me perguntou, virando a cabeça de leve na minha direção.

- Sim. Acho que podemos ir mais rápido.

Charlie e Caylen ouviram minhas palavras e começaram a aumentar a velocidade até uma corrida leve. Elsie começou a trotar antes de mudar para um galope, seguindo o lobo negro e o lince ruivo floresta a dentro.

Como magia, a sela estava bem presa em seu corpo e eu me segurei com firmeza para não cair.

O lince ruivo ia na frente, mesmo sendo o mais rápido daquele grupo, ele não usava sua total velocidade, para não nos deixar muito para trás. Meu irmão também era veloz e pulava sobre as raízes retorcidas no chão com maestria. Era lindo ver ele correr, cada músculo do seu corpo era forte e aquelas imensas patas negras o impulsionavam para a frente.

LYRICI - A volta da MagiaOnde histórias criam vida. Descubra agora