Chayla não contou para ninguém. Charlie me garantiu isso naquela tarde antes de voltar para sua própria caverna, sem falar nada sobre o que tínhamos visto mais cedo naquele dia.
Levei uma cesta de folhas verdes para fora e peguei algumas frutas para levar para a minha caverna, pensando no que eu vira mais cedo, tentando decifrar o que aquilo significava.
Peguei uma maçã, sentei-me no primeiro degrau da escada do lado de fora da caverna e olhei para baixo, vendo leões e jaguares brincando no gramado ao pé da montanha. Parecia ser pique-pega. Eu ouvia as risadas deles e sabia que, mesmo sendo uma brincadeira de criança, eles estavam se divertindo.
Os mais velhos davam risadas e apenas observavam, mesmo também sendo fortes e ágeis para aquela brincadeira, eles não queriam participar. Apenas assistiam e torciam pelos seus favoritos.
Elsie estava ao lado de seu irmão, Jeremy Volks, um cavalo negro maior e mais musculoso que ela. Ele também tinha a crina comprida e os olhos azuis. Os dois estavam sentados abaixo da copa das árvores, com as patas dianteiras esticadas.
Alguns metros dali os irmãos Fiorck também estavam sentados, cochichando entre si. Leah olhou para cima, até me encontrar e balançou a cabeça, como cumprimento.
Acenei com a mão apara ela antes de começar a comer a minha maçã.
O sol estava se pondo, deixando o céu em um tom de rosa, lilás e amarelo. Não demorou muito para que os vagalumes começassem a aparecer no meio da floresta. Os vagalumes brilhavam com cores diferentes. Alguns eram azuis, outros verdes, amarelos, rosas e roxos. Eram lindos.
Borboletas coloridas voavam entre eles, sem se importar com os animais selvagens que rugiam por perto. Era tudo belo. Tudo perfeito. Harmonia predominava em nosso mundo e eu não ia deixar que uma simples fogueira destruísse o que tínhamos.
Ouvi, antes de ver, quando meu irmão se aproximou de mim e se sentou ao meu lado na beirada da montanha, olhando para baixo comigo.
- Charlie se ofereceu para as patrulhas extras. Para que ninguém note que há algo de errado.
Abracei meu irmão e acariciei sua orelha peluda e macia.
- Eu odeio quando você faz isso – reclamou ele, sem se afastar.
- Eu adoro fazer. Seu pelo é tão macio, dá vontade de apertar.
Ele deu risada e bateu seu ombro de leve em mim.
- Aquilo que Chayla disse mais cedo...
- Ela tem razão em algumas partes. Sei que é difícil viver no corpo de um animal, mesmo nunca ter passado por isso. Eu vi o medo nos olhos deles naquele dia, depois da guerra, mas um século já se passou. Acho que ela já deveria ter se conformado que não há como voltar atrás nisso. A magia a transformou nisso e só a magia pode transformar ela em uma mulher novamente.
Caylen olhou para mim, esquadrinhando meu rosto com aqueles lindos olhos verdes.
- Você sente a magia mais que o resto de nós. Até fala com a magia como se ela lhe escutasse. – Caylen parecia surpreso e confuso ao mesmo tempo. – A magia já falou com você?
- Não em palavras. Mas quando eu peço algo, ela faz por mim.
- Como o quê?
Suspirei e pousei a mão em seu pescoço, olhando para frente, por cima das árvores, para as montanhas mais ao longe.
- Quando eu peço um tipo específico de vestido, a magia o muda conforme o meu pedido. Se eu quero a água mais quente para o meu banho, imediatamente a água esquenta. Se eu quero mais luz em meu quarto, vagalumes entram e ficam rondando o teto até eu conseguir dormir...
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LYRICI - A volta da Magia
FantasyApós o fim da guerra, uma coisa estranha recai sobre Lyrici. Depois de vários anos sem magia, uma tempestade atinge o campo de batalha e transforma todos os sobreviventes em novas criaturas... e imortais. Ninguém sabe o motivo da magia ter voltado...