2 - O NOVO MUNDO

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Mesmo depois de cem anos, as coisas continuavam iguais. Eu não sei bem o que aconteceu naquele dia depois da guerra, mas nenhum de nós envelheceu ou morreu desde então. Mas também não procriamos. Continuávamos o mesmo número que éramos naquele dia. Viramos imortais.

Eu continuei a mulher que eu sempre fui, humana. Mas todos os sobreviventes da guerra se transformaram em animais terrestres. Tudo o que havia sido construído por humanos desapareceu com aquela chuva e aqueles raios. Todos os humanos da terra que não participaram da guerra também desapareceram.

Eu procurei durante anos, mas não encontrei nenhum. Os animais normais também desapareceram. Só restamos meus soldados e eu para viver na terra que foi deixada para nós.

Não é tão ruim quanto parece. A terra nos dá todo o alimento que precisamos, junto com o abrigo. Eu moro com meu irmão e amigos próximos no topo de uma montanha, em uma caverna linda, com um córrego para eu me lavar e um pequeno jardim do lado de fora, onde cresce alimentos sem eu ter que plantar.

Eu ganhei um trono de pedra e fui coroada rainha do meu povo, mesmo sem eles gostarem muito disso. Afinal, quem sou eu para ser coroada rainha quando eu era mais um dos soldados que participou daquela matança.

Mas eu fui poupada. Por algum motivo ainda desconhecido, mesmo depois de um século. Eu também não envelheci e as três estrelas tatuadas em minha testa continuam iguais. Eu não tenho poderes, os céus não queriam que eu tivesse nada além da imortalidade. Então aqui estou eu, cercada de animais, onde um deles, o lobo negro que se senta todos os dias aos meus pés do lado do trono, é meu irmão Caylen.

Todos eles, por mais que sejam carnívoros, não comem carne desde aquele dia, ainda mais que para isso, teriam que matar uns aos outros e acho que os céus não querem isso, e por isso transformou cada um deles em animais vegetarianos.

Sim, os leões aqui na Nova-Lyrici comem frutas e verduras, mas continuam tão fortes quanto se comessem carne.

Foi estranho no inicio se adequar ao novo corpo e a nova alimentação. Meu irmão estranhou a cauda saindo de sua bunda, o que me proporcionou muitas risadas, mas ele já havia aceitado que aquele era o novo corpo dele e que não havia forma alguma de voltar ao lindo homem que ele um dia fora.

A magia voltou a predominar em nosso mundo e não apenas em Nova-Lyrici. A magia se alastrou para fora das nossas terras também, tornando-as abundantes e férteis. A única coisa que continuava do mundo antigo eram os insetos, que iam e vinham. Havia borboletas e vagalumes, mas nenhuma praga, como carrapatos ou vespas.

A magia mantinha o nosso mundo purificado.

Um Novo-Mundo.

Sem pragas, sem maldade, sem matança.

Pelo menos é assim que deveria ser.

- Eles chegaram da patrulha – disse meu irmão.

Olhei para o lobo negro na entrada da caverna. Estava de dia e o sol iluminava bem o ambiente, mas ainda assim havia uma pequena fogueira que crepitava sobre uma rocha lisa no meio da caverna, dois metros à frente do meu trono, ficando entre mim e a entrada da caverna. Não havia lenha ali. O fogo mágico nunca se apagava, mantendo um ar quente e confortável para nos aquecer.

Olhei para o meu irmão através das chamas amarelas. Seu pelo negro continuava impecável, como se ele fosse feito de pura magia. O lobo tinha metade do meu tamanho mesmo estando sobre as quatro patas.

Levantei-me do trono usando meu vestido branco que havia aparecido com a magia ao pé da minha cama naquela manhã. Tinha alças finas e era grosso o bastante para não dar para ver nenhuma parte do meu corpo. O tecido descia até meus calcanhares e quase cobriam meus pés descalços. A pedra no interior da caverna era lisa e mesmo tendo minhas botas de couro que restara da guerra escondido em algum canto, eu preferia andar descalça para sentir a pedra fria sob meus pés.

LYRICI - A volta da MagiaOnde histórias criam vida. Descubra agora