LYRICI - A volta da Magia

16 - UM SONHO ESTRANHO

Bebemos água e comemos antes de partir. Todos estavam bem descansados e por isso ninguém reclamou quando falei do plano para seguirmos adiante. A magia ainda não tinha voltado, mas pelo menos o tempo estava mais agradável. A armadura não incomodou tanto quanto achei que incomodaria com o sol do meio-dia. Para não nos cansarmos muito, começamos com uma caminhada leve que eu conseguia fazer mesmo usando uma armadura levemente pesada. Elsie estava do meu lado, tentando conversar sobre alguma coisa para me distrair, vendo que eu estava nervosa. Mas ao ver as irmãs Amya e Adalyn ao meu lado, não consegui me distrair, não importasse o rumo daquela conversa.

Eu sabia que eu precisava manter, não só as irmãs Blackwoul, mas todo o meu povo são e salvo. Era difícil fazer isso quando não se conhecia a ameaça.

Mantive meus pensamentos para mim mesma nas horas que se passaram enquanto caminhávamos pela floresta. Paramos poucas vezes no decorrer do dia para comer e beber água. À frente, Caylen e Charlie lideravam um pequeno grupo que poderiam rastrear o cheiro do... Humano? Talvez. Eu não sabia o que seria aquela criatura e estava com medo de encontrá-la sem antes estar cem por cento preparada.

O lince parava e cheirava árvores, arbustos e galhos quebrados no chão. Caylen procurava por pegadas ou qualquer outra coisa que ele ou ela poderia ter deixado para trás.

Mais algumas horas se passaram. Quando comecei a ficar cansada de andar com aquela armadura, Jeremy percebeu na mesma hora e me deixou montar em suas costas, sabendo que ainda tínhamos mais alguns quilômetros pela frente antes de ter que parar para acampar.

- Como você está? – ele me perguntou.

Amya e Adalyn andavam do nosso lado esquerdo, escutando toda a nossa conversa. Mesmo olhando para o chão, de forma tímida, eu sabia que elas estavam escutando. Eu não queria preocupa-las falando que eu estava me sentindo com medo ou algo assim. Eu era a líder delas e deveria mostrar força, mesmo em tempos difíceis, então menti como eu realmente estava me sentindo.

- Estou bem. – Mantive meus olhos no caminho à frente. – Assim que encontrarmos essa coisa ou ele... ou ela... sei lá. Nós o destruiremos e ficaremos em paz novamente. Deve ser para isso que Nova-Lyrici nos deu a imortalidade, para que estivéssemos aqui no dia de hoje, prontos para fazer o que tem que ser feito.

Jeremy virou a cabeça levemente de lado para me olhar com aqueles imensos olhos azuis.

- Acredita mesmo nisso? Que tem um motivo para tudo isso ter acontecido?

Não apenas Amya e Adalyn, mas todos os que estavam mais próximos de nós pareceram pisar no chão mais silenciosamente para conseguir ouvir a minha resposta.

- Acredito. – Aquilo não era mentira. Eu realmente acreditava naquilo e era bom falar em voz alta pela primeira vez. – Tudo acontece por um motivo. A magia poderia ter nos destruído e mantido a terra como o paraíso que ela nasceu para ser, sem nenhum de nós para estragar, mas aqui estamos, cem anos depois. A magia nos mudou, mas nos deixou mais fortes. Acho que é porque um dia precisaríamos dessa força para o que está por vir.

- Mas então porque você continuou humana? – perguntou Jeremy, voltando a olhar para frente.

Segurei uma risada.

- Se não houvessem humanos, não haveria ninguém para sentar em suas costas e você seria inútil – falei.

Ao meu lado, Amya e Adalyn deram risada baixinho.

Jeremy bateu os cascos dele contra o chão, deixando claro que ele não havia gostado da piada. Ao nosso lado, Elsie dava risada também, sabendo que eu só queria descontrair para não deixar ninguém nervoso com aquela viagem.

Paramos de andar com os últimos raios de sol. Por mais que muitos de nós enxergássemos muito bem no escuro, ainda assim era perigoso, então preferimos dormir durante a noite e continuar a caminhada pela manhã. Deitamos no chão, sem precisar ficar empilhados para nos esquentar, logo que o tempo continuava agradável.

Encontrei um riacho e lavei o rosto, o pescoço e as mãos antes de deitar contra as costas de Jeremy e cair num sono profundo.

...

Eu estava num lindo lago, diferente do lago perto da montanha onde eu morava antes de tudo isso acontecer. Esse lago era ainda mais cristalino como se não fosse feito pela magia, mas fosse ela em forma de água. Eu estava nadando com um vestido branco que ia até minhas coxas e a água estava em uma temperatura perfeita.

Tudo ali era perfeito. Os pássaros cantavam, as borboletas voavam de um lado para o outro e tudo estava calmo, como se fosse o verdadeiro paraíso.

Eu tranquei a respiração e mergulhei. Voltei para superfície e mergulhei novamente. Quando voltei para cima havia um homem sentado na margem, tão lindo quanto o próprio paraíso. Ele estava usando apenas uma calça preta e estava sem camisa, sentado em uma pedra olhando para mim com um lindo sorriso nos lábios. Seus olhos eram castanhos, seus cabelos eram pretos e ele tinha a pele bronzeada tão perfeitamente que parecia que ele já tinha nascido daquele jeito.

Em suas mãos, estavam o caderno que Charlie havia encontrado e um pedaço de carvão, que ele usava para me desenhar.

Eu não o conhecia, mas me senti bem em estar sendo desenhada por ele e fiquei ali, boiando na água, deixando ele fazer vários esboços meus naquele caderno.

Quando eu abri os olhos, ele não estava mais lá. Seu caderno estava caído no chão com o pedaço do carvão ainda marcando a página que ele estava desenhando.

Eu olhei em volta e não o encontrei em lugar nenhum.

O desespero começou a crescer dentro de mim e eu gritei seu nome para o completo nada que me cercava.

...