Capítulo II

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 – Tia... – Miguel pigarreou, buscando coragem para por fim a alegria que via no rosto de Amália. – Eu queria conversar com a senhora.

– Aconteceu alguma coisa, meu filho? To ficando preocupada... – Exclamou, puxando o sobrinho para que juntos sentassem no sofá.

– Não se preocupe tia, é só que... – Suspirou. – Não queria parecer um mal agradecido ou te deixar triste, sei que a senhora vai pensar que é porque não gostei de morar aqui...

– Ahh... então é sobre isso. – Suspirou resignada. – Miguel, sempre soube que uma hora ou outra você ia querer ter o seu cantinho. Você já é adulto, agora está trabalhando no que sempre quis, sabia que não ia demorar muito pra que isso acontecesse. Por isso aproveitei esse tempo que tive você aqui... por mim você não saía, você sabe, mas... – Suspirou pesarosa. – O que posso fazer, não é?

Miguel ouviu cada palavra de sua tia com surpresa, sabia que ela seria compreensiva, mas pensou que para isso acontecer demoraria um pouco mais, no entanto, o fato do rapaz ter manifestado sua vontade já há algum tempo, acabara por ajuda-la a se acostumar melhor com a ideia.

– Obrigada tia. – Miguel sorriu doce e a abraçou. – Sempre que puder virei aqui, não se preocupe, não é como se eu fosse pra outra cidade, né?! Já estou longe da mamãe, a última coisa que quero é fazer o mesmo com a senhora.

– Espero mesmo que venha me ver sempre! – Exclamou incisiva. – E claro, quero sua presença em todos os nossos almoços de domingo, Miguel! Isso não foi um pedido! – Intimou, e o rapaz riu, se ela não fizesse uma imposição como aquela não seria sua tia.

– Visitei alguns lugares e resolvi ficar com o quarto naquela pensão, na rua da... – Miguel tentou explicar, mas Amália com uma expressão de desgosto, como se tivesse acabado de ofende-la, o impediu de continuar.

– Ah não, Miguel! Quarto de pensão não! São apertados, desconfortáveis e você não terá sua privacidade! Desde que começou a dar sinais de que iria me abandonar... – Amália riu, provocando o sobrinho. – Digo, que queria mudar, pensei em algumas alternativas e tenho uma perfeita pra você.

– É mesmo? Qual tia? – Indagou empolgado, já que havia procurado bastante pela cidade e não tinha encontrado nada muito de seu agrado, talvez aquela sugestão fosse exatamente o que estava precisando.

– Eu e sua mãe ainda temos a casa da nossa família. Bons tempos eram aqueles em que seus avós eram vivos. – Suspirou. – Como Adélia foi embora e nunca mais quis se envolver com nada aqui da cidade, e eu nunca tive interesse em fazenda, nem mesmo saberia conduzir uma propriedade dessa, então, acabamos vendendo pequenos lotes de cada vez e boa parte das terras foram sendo incorporadas nas dos fazendeiros vizinhos. Sabe, era uma propriedade grande e próspera, mas depois de tudo isso, hoje só restou um modesto pedaço de terra... mas, tem a casa que moramos na nossa juventude. É bem simples, mas está pintadinha, bem cuidada, eu e Basílio sempre nos preocupamos em manter ela em ordem, por isso creio que não vá precisar de muitas mudanças.

– Por mim, nem precisa de mudança nenhuma! – Exclamou Miguel empolgado com a ideia.

– Ela tá mobiliada, mas tudo é bastante antigo, então temos que testar algumas coisas, pra ver se funcionam, se não, substituir.

– Não precisa se preocupar com isso tia. Pode deixar que eu assumo qualquer renovação ou reposição que seja necessária.

– Não Miguel, precisamos ver isso antes de você se mudar. Já pensou se algum eletrodoméstico deixar de funcionar quando você precisar?

– Eu sei tia. Mas a senhora já fez muito por mim oferecendo essa casa, não precisa se preocupar com essas coisas também. Eu vou cuidar disso.

Nos ventos de AcáciasOnde histórias criam vida. Descubra agora