Nos ventos de Acácias

Capítulo VIII

Era domingo e Miguel havia acabado de almoçar com seus tios, primos, e Clarisse, namorada de Bruno. Aquela tinha sido a primeira vez que Bruno a tinha levado ali desde que Miguel havia se mudado para Acácias, por isso, era a primeira vez que se viam.

Miguel se surpreendeu por uma garota tão legal querer namorar seu primo, apesar da aparência notoriamente cara, de roupas de marca, cabelo recém feito como se tivesse acabado de sair de um salão, e todos os acessórios que usava que provavelmente compreendiam o salário de alguns anos de Miguel, Clarisse era engraçada, extrovertida e fácil de conversar, para total surpresa do professor. Era muito vaidosa, mas não era esnobe, e rapidamente se deu bem com Miguel, o que levou a alguns convites para sair com ela e Bruno, o que com certeza Miguel faria de tudo para evitar, não precisava de mais convivência com Bruno do que já tinha, vê-lo quase todos os domingos já era teste de paciência suficiente.

Naquele momento, todos estavam na sala envolvidos de alguma maneira na organização ou ornamentação da festa anual para eleição da miss Acácias, o único que havia escapado das garras de Amália era Basílio, que trancou-se no escritório com a desculpa que tinha de estudar muitos documentos, o que Bernardo sabia que não era verdade, já que seu pai mesmo, tinha lhe dito que iria tirar um cochilo no sofá porque não aguentava mais ouvir sua mãe falar de tecidos e paetês até na hora de dormir.

Apesar de todas as ordens que recebia, a única pessoa que estava animada com tudo aquilo era Clarisse, que assim como Amália parecia ter nascido para aquilo, as duas combinavam até mesmo na maneira de se vestirem.

Miguel havia prometido a sua tia que a ajudaria, e era exatamente o que estava fazendo, já Bernardo e Bruno, cumpriam com suas tarefas a contragosto, já que Amália não havia lhes dado escolha.

O concurso para eleger a miss Acácias normalmente acontecia no ginásio de esportes da cidade, mas como quem estava responsável pelos preparativos do evento naquele ano era Amália, que tinha boas conexões na prefeitura, a festa seria realizada na praça central, onde Basílio já havia se comprometido com a montagem de um palco, com direito a apresentações de artistas locais. Até mesmo Adélia estava sendo convocada pela irmã para que comparecesse ao evento, que relutante com a ideia, não havia dado nenhuma confirmação, ainda que estivesse com uma imensa saudade do filho, desde que saiu daquele lugar, nunca teve intenção de voltar, e realmente achou que jamais o faria, mas todos aqueles meses longe de Miguel estavam cobrando seu preço, e não seria tão difícil ceder a possibilidade de vê-lo.

Miguel passou todo o dia de domingo na casa da tia, e quando anoiteceu, como sempre fazia, Bernardo se preparou para leva-lo, mas Bruno foi rápido em também oferecer, o que Miguel rapidamente negou, já caminhando para junto de seu primo Bernardo, no entanto, Clarisse com gentileza também o chamou, dizendo que já estavam de saída mesmo, pois Bruno também a levaria embora.

Miguel não queria de forma alguma ir com Bruno e por isso continuou negando. Até que suas negativas começaram a serem vistas com estranhamento.

– Se estiver achando que vai nos atrapalhar pode ficar tranquilo, Miguel. Porque não vai. – Exclamou Clarisse, solícita.

– Não amor, não é isso. É que ele prefere um primo, sabe? Sempre preferiu o Bernardo. – Bruno exclamou, com um sorriso que a todos que estavam ali parecia meramente divertido, o que os levou a rir, no entanto, para Miguel, que sabia exatamente suas verdadeiras intenções, conclui que ali só havia malícia.

– Vá com eles, querido! Sei que você e Bernardo sempre que podem estão grudados, mas passe um tempo também com Bruno, ele sente sua falta. – Disse sua tia Amália, condenando Miguel àquela pena, não restando a ele outra opção se não cumprir com sua sentença.