Capítulo XIX

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Era segunda e Pedro mais uma vez estava tendo de usar outra via de acesso para chegar em Aricema, com as chuvas intensas dos últimos dias, o rio Muará havia transbordado novamente e daquela vez tinha impossibilitado completamente o tráfego, não restando opção a não ser utilizar aquela estrada vicinal, que também estava longe de está em boas condições.

Acácias estava em plena estação das chuvas, e no meio do inverno, quando justamente sua frequência aumentava ainda mais, Pedro acreditava que provavelmente àquela altura o rio não mais baixaria, e os barqueiros não demorariam a chegar, o que era um alívio, já que não tinha dúvida que a estrada já ruim que estava utilizando ficaria inteiramente intrafegável, o tempo que levava para chegar em Aricema por ela era mais que o dobro do que na via comum, e não se devia ao fato do desvio ser mais longo, mas sim por causa da qualidade e falta de manutenção daquela estrada, mas era tudo que tinha, então, até quando fosse possível seria ela que utilizaria.

De acordo com os noticiários locais, já havia chovido além do volume previsto para todo aquele ano, o que deixava todos que moravam mais próximos do rio preocupados, algumas propriedades já estavam inundadas, enquanto outras sentiam a iminência de acabarem por ter o mesmo infortúnio.

No dia anterior, Pedro soubera que algumas das famílias mais humildes que moravam naquela região haviam sido conduzidas para o abrigo comunitário no centro da cidade, e lamentou tudo o que aquelas pessoas estavam sofrendo, ainda que algumas entre elas já o tivessem condenado injustamente. Pedro era assim, generoso e solidário, mesmo que não houvesse qualquer reciprocidade com ele, e agora, que já estava mais fortalecido emocionalmente e mentalmente, sentia-se bem e não mais carregava todo o peso do mundo em seus ombros, já não ignorava as crueldades com toda uma força heroica e dolorosa, agora o fazia com leveza e livre de quaisquer sentimentos ruins que esmagavam o seu peito, seu relacionamento com Miguel parecia ter sido tudo o que precisava para obter a paz que lhe faltava.

Movido pela vontade de ajudar, Pedro tinha combinado com sua mãe que assim que retornasse de Aricema, levaria algumas caixas com verduras, legumes e frutas para o abrigo, tinha certeza que deveriam estar precisando de apoio naquele momento, os recursos disponibilizados pela prefeitura nunca eram suficientes.

– Meu filho, leve essa cesta aqui para o delegado Junqueira, soube que ele teve de passar por uma cirurgia de emergência, parece que foi apendicite. Já está em casa, mas precisa se cuidar... diga a ele que amanhã irei visita-lo, tudo bem?

Pedro ouviu o que sua mãe lhe dizia e não foi difícil perceber o brilho nos olhos ao mencionar Junqueira, a cor rosada que parecia se acentuar nas maçãs de seu rosto, e nem o rápido desviar do olhar ao perceber que o filho a observava atentamente.

– A senhora se aproximou bastante de Junqueira enquanto estive em São José do Norte, não foi mãe? Olívia me contou como ele sempre estava por aqui. – Disse Pedro sugestivo, deixando que um sorriso espertinho se formasse em seus lábios.

– S-Sim. É claro, Pedro. Estava verificando se estávamos bem, ele soube que você não estava na cidade. Você sabe... estava tendo cuidado com a gente, por causa de Silveira. – Repentinamente nervosa, Elisa alegou.

– E essa cesta...?

– O que tem? – Indagou Elisa, e seu tom era completamente defensivo.

– Ta muito bem arrumada, tem um pouco de tudo aqui, tem até fitinhas coloridas nos potes, tá tudo pra lá de caprichado.

– Mas é claro menino, não vou mandar qualquer coisa para o delegado Junqueira. – Disse Elisa e logo tratou de tentar mudar de assunto. – Ah! E não esqueça de levar as verduras de seu Cícero.

Nos ventos de AcáciasOnde histórias criam vida. Descubra agora