Nos ventos de Acácias

Capítulo V

Pedro mostrou toda a fazenda a Miguel, e o professor sabia que tinha muito com que trabalhar, já imaginava todas as maneiras de inserir seu conteúdo durante a visita, por isso chegou na escola com um sorriso radiante, e a primeira coisa que fez foi seguir para coordenação, queria apresentar sua proposta a secretária geral, como era solicitado para possíveis trabalhos escolares externos.

No entanto, Miguel jamais imaginara que teria de enfrentar tanta resistência a um projeto seu, não que esperasse que sua ideia tivesse completa aceitação, tanto na escola quanto pelos pais, mas não imaginava receber uma negativa sem sequer ter a chance de discutir aquilo com a diretora.

– Rapaz, entenda. Isso aqui é uma instituição de respeito, não adianta continuar insistindo nisso, essa visita nem é algo que realmente seja necessário, se limite ao que deve fazer aqui dentro.

– Sueli... – Miguel respirou profundamente, buscando controlar-se para não se exaltar como realmente queria com aquela mulher, agora ela tentava desqualifica-lo de sua posição, como se não soubesse o que de fato competia a sua função. – Não quero faltar com respeito a você, mas... eu sou o professor e cabe a mim decidir o que é ou não necessário para o aprendizado dos meus alunos. Essa atividade seria... – Miguel nem mesmo conseguiu concluir o que dizia, pois Sueli ergueu-se de sua cadeira e se elevou sobre Miguel que continuava sentado a cadeira em frente sua mesa.

– Garoto, você deveria...

– Eu sou professor aqui, Sueli, não sou um aluno. – Disse firme, e em momento algum elevou a voz, como a secretária geral fez naquele momento, atraindo atenção dos demais funcionários que por ali passavam.

– Pois bem, professor. – Exaltada, disse com escárnio, sentindo-se afrontada pelo recém contratado que ousava questionar sua autoridade. – Como se não bastasse estar aqui apenas porque é sobrinho da primeira dama, ainda quer usar do bom nome de nossa escola para se aproximar e manter atividades promíscuas com aquele sodomita, o senhor deveria...

– O que? Isso é um desrespeito, a senhora é secretá... – Miguel levantou-se para enfrentar a mulher nos olhos, e sem conseguir controlar toda a insatisfação que reuniu em ouvi-la por todo aquele tempo, ergueu sua voz a mesma altura que a senhora de postura empertigada fazia, mas Hercília, a diretora, os interrompeu.

– O que está acontecendo aqui? Porque estão gritando dessa maneira? Como vão cobrar respeito dos alunos se não conseguem nem mesmo manter uma interação civilizada entre vocês? – A reprimenda tinha sido feita acima do tom que fora usado na discussão, mas Miguel tinha certeza que provavelmente ainda estariam naquilo se não fosse feita daquela forma, apenas sentia-se inquieto pela vontade de acusar Sueli como a grande provocadora de toda a situação, mas reconhecia que isso apenas soaria muito infantil de sua parte, por isso não o fez, no entanto, Sueli não parecia ver da mesma maneira.

– Esse rapaz simplesmente acha que essa escola é uma esbórnia, Hercília. – Exclamou com toda a indignação que sentia. – Você não tem ideia do que ele veio me propor.

– Eu sei muito bem onde me encontro, Sueli, e tenho muito respeito pelo meu local de trabalho.

Hercília, olhou indecisa entre os dois, sem saber quem estava realmente com a razão, mas continuou com sua postura firme e impassível.

– Oh sim. – Exclamou, deixando que o sarcasmo escorresse livre por suas palavras. – Se tivesse tanto respeito como afirma, não teria feito uma proposta indecorosa como essa.

– Indecorosa?! – Exclamou indignado. – A senhora em nenhum momento demonstrou qualquer interesse no projeto que propus, antes mesmo que eu lhe dissesse onde seria realizado. E ainda tive que ouvir os maiores absurdos. A indicação que recebi ou minha orientação de nenhuma forma colocam em questão minha competência, e suas insinuações foram... – Miguel nem mesmo conseguiu concluir, por tão enojado que estava com aquela situação.