Capítulo XIV

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Adélia arrumava suas coisas sob o olhar desolado do filho, que já havia se acostumado novamente a sua presença constante, apenas para depois sentir o doce ser retirado de sua boca.

– Mãe... – Murmurou pesaroso, como se ainda fosse um menino.

– Ô meu filho, não me olhe assim... você sabe que não posso ficar mais do que já fiquei, não dá pra passar tanto tempo longe do restaurante, você sabe como o trabalho é puxado, filho... provavelmente terei de colocar muitas coisas em ordem novamente... afinal, foram quase dois meses, e eu adiei o meu retorno o quanto consegui, agora tenho realmente de ir.

– Eu sei mãe... – Miguel a puxou em um abraço. – É só que isso, não faz as coisas serem mais fáceis...

– Vá nas sua férias para São José do Norte e leve Pedro com você, tenho certeza que ele vai gostar da cidade, e eu vou amar ter você em casa, querido.

Pedro concordou e estreitou sua mãe ainda mais em seus braços, ainda que a quisesse ao seu lado, sabia que sua vida já não era mais naquela cidade, Acácias fazia parte de seu passado e São José do Norte era onde realmente se sentia feliz, ele não poderia frear seus sonhos, já que ela era a primeira a incentivar os dele, por isso, tinha de deixa-la ir.

– Dona Elisa me ligou ainda pouco e disse que nos quer para o almoço na fazenda, ela disse que você não pode ir antes de passar por lá.

– Como se eu fosse embora sem me despedir dos amigos. Elisa é um amor de pessoa, também a convidei pra passar alguns dias lá em casa, mas ela falou que não poderia deixar a fazenda por causa dos trabalhos, quem sabe você não a convence a acompanhar vocês quando forem nas férias...

– Pode deixar, mãe.

– Eita que hoje teremos o dia cheio meu filho! Almoço na fazenda, jantar na Amália, e amanhã cedo voltarei pra minha casinha.

– Ai mãe, nem gosto de me lembrar que vamos ficar longe de novo.

Adélia compreendia perfeitamente os sentimentos do filho, pois ela própria não estava muito diferente, mas como ele, também entendia que São José do Norte não fazia mais parte dos planos de Miguel e sua vida agora era em Acácias.

Por isso, agora o que lhes restava era aproveitar o máximo que conseguissem nas vezes em que se encontrassem e sempre fazerem uso das chamadas de vídeos, que aplacavam um pouco da saudade que os consumia.

*****

Era segunda-feira e Miguel estava na pequena sala junto com outros professores e funcionários para que a reunião com a diretora Hercília começasse, mal sabia ele que as notícias não eram nada boas.

Quando Hercília chegou, cumprimentou a todos e esclareceu o motivo daquela reunião extraordinária, e não havia dúvida de que aquilo afetaria diretamente Miguel.

Hercília iria se aposentar, e os deixaria no final daquele mês, e quem assumiria temporiamente a direção da escola seria Sueli, para infelicidade de Miguel, que sabia que ela faria de sua vida um inferno.

Definitivamente, aquele não era um de seus melhores dias, quando estava passando pelo centro da cidade, Silveira o abordou, o questionou sobre Fátima e impediu que Miguel prosseguisse, o que o professor voltou a insistir, até que conseguiu se desvencilhar dele, mas sabia que aquela não seria a ultima vez que Silveira tentaria lhe intimidar.

Miguel nos últimos dias até mesmo havia mudado seu trajeto, já que na semana anterior, Silveira o havia esperado em uma esquina e quando Miguel menos esperava o atacou e quase o derrubou da bicicleta, e se não fosse por Bruno que por sorte estava passando por ali e o viu, Miguel tinha certeza que o ex-policial teria feito algo com ele.

Nos ventos de AcáciasOnde histórias criam vida. Descubra agora