Capítulo XX

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Pedro estava nervoso e atordoado, sua mente já trabalhava em muitas possibilidades, e todas elas envolviam Silveira.

Pedro não queria que Miguel voltasse as suas corridas, achava que ainda era muito cedo, mas o namorado havia insistido, acreditava assim como sua mãe e muitos outros na cidade, que Silveira já estava longe de Acácias. No entanto, o cowboy desconfiado como era, não estava convencido disso, por isso queria continuar com os cuidados e as restrições de antes, mas com a aproximação da prova do concurso municipal, o cowboy viu como o professor estava estressado e sabia que ele sempre melhorava com os exercícios que fazia, por isso concordou com a volta a normalidade, mas agora, remoía em seu peito a culpa por tê-lo feito.

Pedro olhou ao redor da área em que encontrou as chaves e voltou a chamar por Miguel, sentindo o desespero avançar em seu corpo e se instalar em seu coração, então viu o mato amassado e a terra revirada, indicando que aquilo havia sido recente, e Pedro concluiu, fora ali que Miguel havia sido atacado.

O toque de seu celular, foi o que o fez despertar do desespero que o havia abatido, e Pedro atendeu Olívia.

– Então Pedro, vocês decidiram? Não pode ficar muito tarde, porque... – Disse Olívia, buscando a resposta para seu convite anterior, sem imaginar que o caos mais uma vez havia alcançado Pedro.

– O-Olívia! O Miguel... Aconteceu alguma coisa com o Miguel, só achei as chaves dele na trilha... Foi o Silveira, eu tenho certeza! – Exclamou Pedro, com a voz trêmula e tomada pela preocupação.

– Calma. O que aconteceu, Pedro? – Indagou Olívia e Pedro despejou tudo sobre sua busca e também suas suspeitas.

– Eu preciso ligar pro Junqueira, Olívia.

– Mas ele não está trabalhando, tia Elisa me disse, ainda está se recuperando da cirurgia, acho que é melhor você ir direto pra delegacia, deve ter um substituto, eu encontro com você lá.

– É verdade. – Disse, correndo suas mãos pelo cabelo, ainda muito atordoado, sem saber por onde deveria começar.

– Segue pra lá, que vou avisar o Bernardo e logo estaremos na delegacia com você.

Pedro finalizou a ligação com Olívia e correu para o carro enquanto ligou para a mãe, avisando o que tinha acontecido, que pediu que ele ficasse calmo, e tentou de todas as formas ajuda-lo, oferecendo com suas palavras doces e sábias o conforto que necessitava.

O cowboy foi todo o caminho tentando controlar-se, precisava estar bem para encontrar Miguel, por isso, desajeitadamente enxugou suas lágrimas, respirou fundo e concentrou-se na direção.

Quando chegou a delegacia, logo encontrou Olívia, Bernardo e Bruno na entrada, e Pedro teve de lutar para não desabar ao receber o apoio de todos.

Preocupados, seguiram juntos para dentro da delegacia, e como uma cidade pequena que era, com a breve licença de Junqueira, não havia sido destacado nenhum substituto para o cargo naquele período, situações de até média complexidade eram resolvidas ali mesmo, classificação a qual o desaparecimento de Miguel se encaixava, segundo o policial que estava responsável em promover os registros das ocorrências.

Pedro teve problemas até mesmo para fazer tal registro, fora desmotivado de todas as formas possíveis, teve de ouvir muitas insinuações maldosas, como se Miguel tivesse apenas saído sem avisa-lo, que deveria estar na casa de um 'amigo', ou que não o quisesse mais e o estivesse evitando, Pedro paciente como era, ainda que estivesse nervoso, tentou reforçar a situação incomum em que encontrou as chaves do namorado, no entanto, o olhar zombeteiro e incrédulo que recebeu, o enervou como nunca, por isso elevou sua voz e exigiu que a queixa fosse registrada, atraindo para si o desgosto do policial em ser questionado, e os dois iniciaram uma discussão acalorada.

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