Entramos muito rapidamente. Aaron me distanciou e logo me trouxe a seu peito novamente. Ele aproveitou o movimento para fechar a porta. A noite dificilmente os médicos fazem ronda nas casas, se ver a porta fechada nos deixará tranquilos.
As casas eram muito similares, principalmente as próximas da nossa. Não tínhamos muitos recursos, então optávamos pelo básico, até as cores eram muito parecidas, a não ser por algumas lascas soltas nas tintas, e o padrão envelhecido.
Voltei minha visão para o chão e vi um senhor estirado no piso de chão batido. Olhei para Aaron e ele estava com o olhar fixo sobre o senhor. Esfreguei meus olhos e então vislumbrei novamente a criatura.
Eu jamais poderia esquecer aquela face, o rosto cumprido, olhos grandes, mas levemente puxados, castanho claros, quase avermelhados, uma barba cheia e encaracolada, perfeitamente simétrica, um nariz proeminente, cumprido e a ponta larga. Os cabelos eram ralos e muito poucos, havia uma proeminência óssea na altura da cabeça, porém, discreta.
Era exatamente a mesma criatura que havia sequestrado minha mãe. Mesmo eu não sentindo a mesma energia, pois assimilava a dele como algo mais denso, que dificultava até mesmo o meu respirar.
Ele parecia me reconhecer, pois fitou-me com um olhar profundo, e não desviava o olhar, mesmo que ele entendesse que o perigo ali não era eu, e sim o cigano que já tinha o derrotado na noite anterior.
- Continue fazendo esse contato visual, você o está mantendo preso. – Disse Aaron sussurrando. Suas palavras me chegavam, mas eu na verdade não estava levando isso em consideração. Eu o fitava de volta por que sentia um grande fascínio, e não porque fazia parte de algum plano.
O ser continuava a me fitar, ele saiu de cima do homem, que eu não conseguia definir se estava vivo ou morto, não conseguia desviar meu olhar. Ele ficou na minha frente, eu via o restante do seu corpo por um vulto ao redor da minha visão, como eu disse, não conseguia desviar o olhar.
Sua presença era poderosa, e eu já não sentia aquela densidade maligna, claro que me sentia pressionada, mas não era algo ruim.
Percebi que Aaron movimentava seus braços lentamente, desenhando algo no ar. Escutava seu sussurro romeno e sabia que ele faria alguma coisa para encarcerar a criatura.
O ser elevou sua mão direita, sua pele de cor bronze vinha lentamente em direção ao meu rosto. Eu sabia que exercia o mesmo fascínio que ele exercia em mim.
Quando sua mão tocou minha pele, meu pescoço dobrou, e meu rosto recostou-se em sua mão, ela era macia, e essa força magnética era impressionante, pois eu não conseguia me desvencilhar.
- Afaste-se, Amêli. – Me sussurrou Aaron. – Preciso concluir o que viemos fazer.
Eu entendia suas palavras, eu queria me afastar, mas não conseguia, era complicado, pois havia uma batalha em meu interior, duas forças contrárias, mas eu estava pendendo para o lado do ser, que Aaron chamava de demônio.
- Quem é você? – Perguntei, enquanto meu rosto repousa em sua mão macia. Seu rosto belo me mantinha vidrada em sua composição, sem deixar com que os meus olhos se movessem.
- Pa... - ele começou – zu... - foi sua seguinte sílaba.
- Amêli. – Disse Aaron um pouco mais forte.
E como eu não fazia caso de suas adversões, ele saltou sobre o ser, com muita força, empurrando-o com sua força física. O demônio fora lançado, ele era tangível. Pensamento idiota, uma vez que eu estava repousando em sua mão, é claro que ele era tangível.
Aaron foi se aproximando do ser que estava levemente debilitado, mas eu não podia confiar que apenas tinha sido suficiente para poder prende-lo. Importante que esse distanciamento me tornou mais focada em mim, e cortou essa nossa conexão.
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Praga de Marselha
Mystery / ThrillerOlá a todos... venho compartilhar com vocês um novo projeto, é uma história de romance e terror, ela se passa na cidade de Marselha de 1721, no auge da praga que dizimou mais da metade da população. O livro está em construção, e estou postando ele d...