Xi

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Sai e já estava quase anoitecendo, observei o aroma que os ventos traziam, o cheiro da morte, a cidade estava vazia, nem os médicos eu conseguia mais notar nas ruas. Caminhei alguns metros e olhei para trás, minha casa ainda estava intacta, nem parecia que tudo aquilo estava acontecendo em seu interior.

Eu andei sem rumo por muito tempo, desviando dos mortos, dos ratos e outros insetos que se acercavam aos corpos pútridos. As aves do céu noturno que também deles se alimentavam, nem se incomodavam com a minha presença.

O destino me levou novamente para as cavernas. Fitei-a por vários instantes, olhava a lua, pedia esclarecimento de Lilith, mas tudo estava silencioso, e minha intuição dizia que eu deveria entrar. Não haviam lobos ali, eles estavam enfrentando Pazuzu e Jacques.

Me arrependi de não haver chamado o Aaron, pois ele poderia me auxiliar nessa busca, ele sempre foi um bom rastreador. Mas acredito que ele não abandonaria a batalha para me auxiliar. Ele não tem motivos para encontrar meu pai. Apesar de que se fosse um pedido de Lilith, ele não se oporia.

Entretanto, agora era tarde, eu já estava ali, seguindo minha forte intuição, eu encontraria meu pai, e ele daria um jeito de reverter tudo o que está acontecendo.

Tateei meu corpo e a superfície ao redor da caverna, buscando por alguma coisa que entrasse em combustão e produzisse chamas, afinal, entraria dentro de uma caverna escura. Que animais se escondem ali. Contudo, não encontrei nada, teria que encarar a escuridão, e sabia que seria em ambos sentidos, literal e metafórico.

Adentrei a caverna, e senti que meus olhos se arregalavam, tentando encontrar um mínimo de luz para se apegar e tentar ver alguma coisa. Passeei minhas mãos por entre as paredes do interior da caverna, e na memória estava o caminho que havia feito da última vez que estava ali.

Tropecei em algumas pedras no meio do caminho, e o eco maximizava todo som. Alguns morcegos se agitavam no interior, podia saber por causa do barulho produzido. Me esgueirei até encontrar a abertura entre as rochas. A adrenalina tomava conta do meu corpo, e meus pensamentos estavam focados em encontrar a câmara que estávamos da outra vez com os licans.

Quando a encontrei, inspirei profundamente e logo soltei, estava aliviada, pois era a parte menos iluminada. Me agachei então atravessei, acabei esbarrando minha cabeça, mas pela missão, quase não senti nada de dor.

Eu lembrava que era um salão aberto, onde eu estava. E fiquei por uns minutos em silêncio, tentando adaptar minha visão a pouca luz e também tentando me lembrar de onde estava a próxima entrada.

Escutei um barulho atrás de mim. Instintivamente minha cabeça se projetou para tentar ver, o que não foi possível. Assustada, eu corri para o meio do salão, e então uma revoada de morcegos vieram todos na minha direção. Levei os braços para o alto da cabeça e me abaixei. Eles estavam sendo direcionados para a abertura, fugindo de todo ruído que eu mesmo havia causado.

Meu coração estava disparado, e precisei ficar um tempo quieta, até que minha concentração voltasse a ser o foco. Olhei para frente e vi várias disposições de luzes, sinalizando que as tochas estavam próximas e eu estava no caminho correto.

Então acelerei, sabia que o espaço era limpo de pedras ou outros objetos, e eu só queria resolver aquela situação. Pensava que depois de toda aquela loucura, minha vida voltaria a normalidade.

Quando enfim encontrei as pedras portais, aquelas que dão acesso ao local onde se reúnem os licans, senti um grande alivio. Haviam tochas presas, e as chamas iluminavam o local. Não havia ninguém, eles estavam todos de fato, reunido para vencer o mal, que estava naquele momento na minha casa.

De ter chegado até ali e ter percebido que não havia ninguém, a adrenalina baixou e o cansaço se apoderou. Me sentei e logo com o olhar localizei os copos e filtros de barro. Eu precisava tomar um copo com água, estava exausta.

Praga de MarselhaOnde histórias criam vida. Descubra agora