Heytor ficou mudo e eu tive que perguntar novamente.
— Você ficou louco, Heytor? Uma aposta? Você podia ter machucado o Bruno — Meu sangue ferve cada vez mais forte.
Ele resmunga baixo.
— Quê? — pergunto arqueando as sobrancelhas.
— Melhor ele do que você, Liara — ele aumenta o tom de voz, se levanta e respira fundo — A aposta era dele, apostaram no banheiro da escola qual dos seis ia conseguir ficar com você! Seiscentos reais pro vencedor e ele ainda tem a cara de pau de fingir ser um anjo pra você! — ele descarrega aos gritos, quase sem respirar.
Aquilo tirou meu chão, mas mal tive tempo de reagir.
Vejo uma bola voar e acertar a cara dele com tanta força que ele cai na areia, logo atrás vem Bruno dando socos em sua cara.
— Você estourou meu piercing, xing-ling! — ele continuava batendo e Heytor se defendia.
— Parem vocês dois! — grito e tento afastá-los.
Dois outros garotos chegam e colocam um pra cada lado.
— Não tira o seu da reta, não, fala que você tava na competição junto e só dedurou tudo porque viu que eu ia ganhar! — Bruno se solta e coloca a mão na orelha que sangra.
Heytor não faria isso.
Faria?
— Assume os seus erros sozinhos, Bruno! — Heytor também se soltou e olhou pra mim de soslaio — Quando eu beijar ela vai ser algo sincero e recíproco, não uma babaquice de moleque, igual essa sua, porque é isso que você é: um moleque que precisa inflar seu ego às custas dos sentimentos das garotas — ele bradou com uma confiança que nunca tinha visto antes.
Bruno parte pra cima novamente e dá um soco no estômago de Heytor, celulares tapam o rosto de todos que formam um círculo limitando a cena.
Dois guardas chegam, separam os meninos e levam cada um pra um carro diferente.
A multidão dispersa e apenas eu fico na areia, areia molhada, areia com sangue, areia com pensamentos. Me encolho sentada e choro, tudo tinha desmoronado em minutos. Segundos.
— Amiga, você tá bem? — Mateus chega correndo e ofegando.
Apenas movo a cabeça negativamente.
— Vamos pro hotel, vem, eu peço um Uber — Mateus continua abraçado em mim e não me solta até chegarmos ao meu quarto.
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Escuto as meninas se arrumarem com pressa enquanto tomo o banho mais demorado da minha vida. Água quente, lo-fi e pouca luz são o ambiente que formam minha caverna externa pra dor interna.
Usada. Era assim que eu me sentia. Um objeto descartável. Uma vergonha.
Minha mente tentou me avisar por semanas que acreditar no garoto popular era perigoso, mas eu preferi acreditar no meu coração, oh como é enganoso.
Até rimas formavam meus pensamentos de tão absurdos que eram.
Eu não queria mais ver o Bruno nem pintado de ouro na minha frente.
Meu coração parecia sangrar de tanto que eu chorava, eu queria rasgar o peito e colocar a mão nessa bomba até acalmá-la manualmente. Isso estava me destruindo de dentro pra fora.
Heytor me defendeu. Ele fez isso a semana inteira, deixou de curtir a viagem direito pra cuidar de mim, pra me proteger. Ele realmente precisa ser tão perfeito?
Tudo era dolorido demais para ter lógica.
Ainda tentando formular algum sentido, repasso as frases da briga na minha mente.
— "Quando eu beijar ela..." — repito — quando...
Um pequeno estalo ilumina minha mente e me faz querer sair do banho.
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Poltrona 27
RomanceLiara e Heytor são os maiores nerds da escola e seriam a dupla perfeita para olimpíadas estudantis, se não fosse pelo fato de que se odeiam desde o 9º ano. Enquanto travam uma guerra particular para saber quem é o mais inteligente, os alunos do 3º...