Capítulo 17: Nuvens

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Chego no meu quarto e sento na cama, as meninas fingem sair discretamente do banheiro e formam um círculo em volta de mim.

— Você é espertinha, né — Emilly começa — tínhamos certeza que ia passar a noite aqui comendo chocolate... Au. — Alguém beliscou seu braço.

— Mas conta pra gente, o que aconteceu? — Camilly parece criança atrás de doce.

— Mateus disse que você chegou lá logo que saímos... — Pyetra encurrala.

— Bom dia pra vocês também, princesas — olho o rostinho de cada uma — não aconteceu nada de extraordinário, nós só nos beijamos, comemos lanche e assistimos série — conto com sinceridade.

— Você é entediante — Emilly revira os olhos.

— E agora, vocês tão namorando? — Camilly parecia a única entretida ainda.

— Eu não sei direito, mas olha — levanto o pingente — ganhei esse colar lindo, hoje!

— Que perfeito! — Pyetra se aproxima novamente.

— Não imaginava que o Heytor era tão fofo — Emilly admite.

— Ele deve estar super apaixonado por você — Camilly finaliza.

— Nós dois estamos — sorrio e todas caem no riso e voltam a se arrumar.

Depois de alguns minutos deitada olhando pro teto, tomo coragem e também organizo minha mala pra voltar pra Rio Claro.

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No avião, trocamos de lugar pra conseguirmos voltar juntos e, por coincidência, estou na poltrona 27.

Heytor segura minha mão durante todo o voo, como se tivesse medo de acordar sem eu estar ao seu lado.

Acordada demais pra acompanhá-lo, mantenho os olhos sobre as nuvens que fazem um extenso tapete branco sob o avião.

Relembro todos os últimos anos da guerra e como isso consumiu toda minha energia e pensamentos e começo a perceber que o ódio que antes dominava todo meu coração, havia se condensado em algo mais leve e mais puro, porém muito espaço ainda sobrava.

Aquele vazio estava mais forte, parecendo um eco mais fundo, como se faltasse a peça fundamental de toda uma engrenagem, mas o quê?

Eu estava formada e quase na faculdade, tinha uma família maravilhosa e um namorado — não sei direito como chamá-lo — incrível ao meu lado, mas não me sentia completa com tudo isso.

Parecia faltar algo simples, algo essencial, algo único e diferente de tudo.

Mirando o horizonte, rascunhei sentimentos, conquistas, posses, datas, mas nada parecia exatamente suficiente pra preencher o vazio em meu coração.

Vireie revirei os mesmos pensamentos inúmeras vezes sem resultado algum até chegar emCampinas.

Poltrona 27Onde histórias criam vida. Descubra agora