Capítulo 18: A verdade

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Saímos do aeroporto com toda a turma junto e embarcamos no ônibus que nos leva finalmente até nossa cidade natal.

Na escola, ponto de desembarque combinado, não vejo minha mãe.

— Será que ela esqueceu de mim? — penso alto preocupada.

— Hoje é o dia daquela festa pra comemorar o prêmio que elas ganharam pelo restaurante, não é? — Heytor sugere.

— Verdade. Acho que vou pedir um Uber então — decido procurando pelo aplicativo na tela do celular.

— Você pode vir comigo — ele oferece — eu já tinha reservado uma corrida particular, o motorista está virando a esquina...

— Mas o jantar está sendo na sua casa, não é? — olho para minhas roupas e passo a mão no rosto inchado de viagem — não estou em condições de aparecer socialmente.

— A gente entra, fala um "oi" geral e sobe — ele tinha a irritante mania de ter a solução pra tudo e a proposta parecia a melhor que eu encontraria.

— Tá bom — concordo e o carro estaciona em nossa frente.

Entramos no Picasso branco, colocamos o sinto de segurança e seguimos em direção ao condomínio.

Chegando ao destino, Heytor paga a corrida, descemos as malas e paramos lado a lado em frente a porta.

— E agora? — pergunto — Como vamos entrar? — pergunto sem saber se poderíamos simplesmente abrir a porta ou se deveríamos apertar a campainha.

— Do único jeito possível — ele segura minha mão entrelaçando nossos dedos com firmeza e faz a campainha soar.

O gesto me traz mais confiança.

Heytor me olha e sorri, retribuo.

— Eu sabia, eu sabia!! — Nabi abre a porta e nos vê.

— Não precisa avisar o condomínio inteiro, pequena — o irmão parecia envergonhado com tanta atenção.

— Pois eu avisaria o mundo inteirinho, olha o jeito que vocês se olham! — ela pulava e soltava pequenos e agudos gritos.

— Podemos entrar? — questiono vermelha.

— Verdade, verdade — ela abre espaço e passamos.

Na sala de estar, estava um grupo de aproximadamente 30 ou 40 pessoas que estavam vestidas elegantemente e seguravam algumas taças de champagne, todos entretidos em alguma história que mamãe contava.

Tentamos subir despercebidos pela escada, mas assim que alcançamos o segundo degrau, toda a risada e a história se emudecem.

— B-boa noite, senhoras e senhores, espero que estejam todos bem — sua mão estava tremendo — fiquem à vontade, estamos apenas subindo... — agora ele parecia um pimentão.

Vejo minha mãe sorrir discretamente ao olhar nossas mãos entrelaçadas, algo entre uma aprovação e eu delicioso "no fundo eu sabia".

O caminho até o topo da escada pareceu eterno, mas assim que vencemos o último degrau, o falatório começou novamente no andar inferior e fiquei mais aliviada.

Entramos em seu quarto e Heytor cai no riso.

— O que foi? — pergunto rindo de sua empolgação.

— Minha mãe, estava se segurando para manter a postura, mas com certeza estava pulando de alegria por dentro, ela te ama... — ele explica feliz.

— A minha também, ela sempre foi sua fã.

— Certíssima ela, só a filha que demorou pra perceber o que estava perdendo — ele me envolveu em seus braços e me olhava de cima com os olhos sorridentes.

— E agora eu me sinto tão segura assim — envolvo sua cintura com meus braços e encosto a cabeça em seu peito.

— Sabe, — ele começa a mexer em algumas mexas do meu cabelo — se depender de mim, você não vai precisar mais ter nem medo e nem vergonha de nada. — ele beija minha testa.

Esse homem queria me matar de tanto amor.

— Então isso significa que somos namorados agora? — ainda parecia absurdo em voz alta.

— Você sai beijando qualquer um sem saber as intenções dele? — ele rebate.

— Eu procuro quem queira então — fecho a cara e dou dois passos em direção à porta.

Ele me puxa pela mão.

— Você ama fazer suposições totalmente erradas sobre mim, né? — ele me beija lentamente — é..claro...que...estamos...namorando — completa intercalando as palavras entre selinhos.

Fecho os olhos em um pequeno agradecimento e sorrio.

— Tem algo estranho que eu tava pensando hoje na viagem.... — começo ainda abraçada nele.

— O quê? — Heytor sentou-se na cama e me colocou em sua frente.

— Parece que falta algo... Não com a gente, não com algo que eu já tive — tento ser clara com as palavras — parece que tem um espaço aqui dentro que precisa ser preenchido e eu não sei com o que — termino — faz sentido pra você?

— Eu também penso nisso de vez em quando, mas também não arrumei uma resposta ainda... — ele admite.

— Te odiar fritava menos os meus neurônios — provoco ele mudando de assunto.

— Admite logo que você sempre me amou, vai — ele me jogou pra trás e disparou um ataque de cosquinha sob minhas costelas.

Ouvimos a porta se abrir e sentamos estáticos no mesmo momento.

— Percebe-se que vocês estão bem juntinhos pra quem se odiava com todas as forças do mundo — mamãe começa.

— Eu acho que eles estavam enganando nós duas esse tempo todo — senhora Cho completava.

— Nem nós sabíamos que iria terminar assim — respondo.

— Começar assim — Heytor corrige — esse é só o começo.

— Vocês são muito doces pra uma senhora que já tomou uns drinks além da conta — mamãe revirava os olhos — vamos filha? Está tarde.

— Tudo bem — respondo triste e me despeço do meu namorado e da minha sogra.

Namorado e Sogra, que fim de ano louco. 

Poltrona 27Onde histórias criam vida. Descubra agora